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Estado de Minas QUEBRANDO O TABU

Psicóloga mineira organiza jantares para falar sobre a morte

Programa criado por arquiteto norte-americano acontece em mais de 30 países do mundo. A ideia é mostrar que conversar sobre o assunto torna a vida melhor


postado em 01/11/2019 14:46 / atualizado em 04/11/2019 13:30

O jantar para falar sobre a morte, realizado em Belo Horizonte pela psicóloga mineira Luciana Rocha, foi criado pelo arquiteto norte-americano Michael Hebb(foto: Leo Peixoto/Divulgação)
O jantar para falar sobre a morte, realizado em Belo Horizonte pela psicóloga mineira Luciana Rocha, foi criado pelo arquiteto norte-americano Michael Hebb (foto: Leo Peixoto/Divulgação)
Você é uma daquelas pessoas que sente arrepios só de ouvir falar sobre a morte? Que não gosta de tocar no assunto e nem mesmo de pensar que um dia a vida vai terminar? Talvez esteja na hora de começar a mudar de ideia, de esquecer o medo. Apesar de ser um tabu, falar sobre a morte pode nos ajudar a viver melhor. Exatamente porque a vida não é para sempre,  planejá-la rende para nós mesmos e para a família momentos muitos felizes, garante a psicóloga mineira Luciana Rocha, que é uma especialista em luto, suicídio e cuidados paliativos.

Luciana é uma das precursoras em Belo Horizonte de uma experiência curiosa que acontece em mais de 30 países nos cinco continentes do planeta: "Vamos jantar e falar sobre a morte?" É isso mesmo, em uma mesa descontraída e nada fúnebre, com bebidas e pratos apetitosos, temas a princípio difíceis são tratados com dinâmicas interessantes, bom humor e descontração. A proposta é que logo de início seja afastada a aversão pela morte, mostrando que ela faz parte da vida. "Sou uma ativista da morte",  diz Luciana.

A psicóloga mineira Luciana Rocha:
A psicóloga mineira Luciana Rocha: "O objetivo é desmistificar a morte, afinal essa é a única certeza que temos" (foto: Leo Peixoto/Divulgação)
O jantar foi criado pelo arquiteto e empreendedor norte-americano Michael Hebb, reconhecido por promover palestras e discussões sobre temas relevantes para a sociedade.  Ele decidiu colocar o jantar sobre a morte em prática, depois que teve contato com alguns números: nos Estados Unidos cerca de 75% das pessoas preferiam morrer em casa, junto com a família, mas apenas 20% conseguiam isso. Nos últimos cinco anos foram realizados mais de 150 mil jantares no mundo e Belo Horizonte faz parte dessa lista, tendo Luciana Rocha como anfitriã. "O objetivo é desmistificar a morte, afinal essa é a única certeza que temos."

Jantar completo

No jantar para falar sobre a morte, a vida é o mais importante.  Enquanto degustam a entrada, o prato principal e a sobremesa, os participantes, de todas as faixas etárias, são convidados a pensar sobre quais são os seus medos e o que esperam da vida.  Também há espaço para falar sobre o testamento vital que é o processo onde cada um de nós pode dizer como pretende morrer. "No Brasil nossos desejos muitas vezes não acontecem porque há desinformação e ainda esse grande receio em abordar e conversar sobre temas relacionados à morte", explica Luciana.

Só de conseguir  participar de uma mesa para conversar sobre o tema já é uma quebra de tabu.  No Brasil, a pesquisa A Cartografia da Morte, desenvolvida pela agência Studio Ideias para o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep) apontou que 76% do brasileiros evitam falar sobre a morte para evitar entrar em contato com os sentimentos difíceis. A pesquisa mostrou também que 30,4% não sabem como ou com quem falar.

No ranking dos países onde a morte ocorre de forma tranqüila e sem dor, o Brasil ocupa posição bem longe no ranking, após o 70º lugar. "Poucos sabem que  há muitas possibilidades de escolha e de cuidados paliativos que podem aliviar a dor." Todas essas escolhas fazem parte de um pensamento sobre a morte que, segundo Luciana,  leva as pessoas a valorizarem ainda mais a vida.

Cineclube

O cineclube da morte é outro evento que será promovido pela psicóloga Luciana Rocha em Belo Horizonte, também com o objetivo de quebrar o tabu sobre a morte. Nele os participantes assistem a um filme sobre a temática da morte, luto ou perda e ao final, é feito um debate aberto, partindo da história exibida, com especialistas. O cineclube é um projeto que foi idealizado pelos profissionais, de São Paulo, Tom Almeida e Ana Cláudia Quintana Arantes

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