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Estado de Minas MEMóRIA

Aleijadinho: um legado de arte e de fé

Bicentenário de morte do grande mestre do barroco mineiro reúne programação especial na capital e interior, que vai lembrar a vida e a obra do artista


postado em 31/10/2014 11:33 / atualizado em 03/11/2014 11:46

A cidade era Ouro Preto, em Minas Gerais. No dia 29, ou 26, não se sabe ao certo, do mês de junho ou agosto, que também não se tem certeza. Em 1737 ou em 1738, nascia Antônio Francisco Lisboa, que viria a se tornar, com o passar dos anos, um dos mais reconhecidos mestres do barroco brasileiro. Assim é a história de Aleijadinho, coberta de mistérios. Depois de 200 anos de sua morte, sua trajetória ainda é reconstituída, principalmente, por meio das obras que deixou.

Filho de Isabel, uma negra livre, com um mestre-de-obras português, Manoel Francisco Lisboa, Aleijadinho iniciou nas artes ainda na infância, observando o trabalho do pai, que também era entalhador. De acordo com Marcos Paulo de Souza Miranda, promotor de Justiça e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, até recentemente, tudo o que era publicado sobre o artista não passava de reprodução de um texto de Rodrigo José Ferreira Bretas, escrito em 1858, ou seja, 44 anos após a morte de Aleijadinho – que data de 18 de novembro de 1814.

Grupo de teatro Dez Pras Oito, uma das atrações de Congonhas para o bicentenário de Aleijadinho(foto: Mauro Rodrigues/Divulgação)
Grupo de teatro Dez Pras Oito, uma das atrações de Congonhas para o bicentenário de Aleijadinho (foto: Mauro Rodrigues/Divulgação)
"São poucos os registros que buscaram informações em fontes primárias, no Brasil e em Portugal", ressalta o promotor, que também é autor do livro O Aleijadinho Revelado: Estudos históricos sobre Antônio Francisco Lisboa, lançado este ano. Segundo ele, o mestre do barroco foi batizado em 26 de junho de 1737, na Matriz de Antônio Dias, em Ouro Preto. A referência a 1738, indicada pelo Museu do Aleijadinho é dada pelo registro de seu óbito, que consta a idade de 76 anos.

A morte do artista é outro mistério que ainda paira em sua história. Segundo os registros, o óbito ocorreu na casa da nora, a parteira Joana Lopes. Não se sabe até hoje qual ou quais doenças teriam sido responsáveis pelas deformidades e outros sintomas. As hipóteses, mais de dez, variam de poliomielite a lepra.

Contudo, qualquer que fosse a condição de saúde do mestre escultor, é sabido que a limitação o obrigava a trabalhar com ferramentas amarradas às mãos. Acredita-se que, quanto mais a doença se agravava, mais perfeição ele buscava. Seu estilo inovador tornou-se um expoente da arte colonial no Brasil e, até hoje, é admirado pelo conjunto de belas obras sacras em madeira e pedra-sabão. "Aleijadinho deixou um legado de arte e fé à humanidade. Algo que não pode ser mensurado em cifrões", salienta Marcos Paulo.

Vale a visita

Mesmo com a doença, o escultor deixou, ao longo dos 76 anos de vida, grande acervo de obras, concentradas, principalmente, nas cidades mineiras de Ouro Preto, Congonhas, Mariana, Sabará e Barão de Cocais. A maioria já é conhecida pelos apreciadores, mas existem peças ainda pouco conhecidas.

Aleijadinho, poucos sabem, trabalhou na construção de uma igreja na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, entre 1783 e 1786, aproximadamente. Em 1910, a construção foi demolida e as peças distribuídas na região. "Os altares, por exemplo, foram para Nova Lima, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar. A paróquia Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Felixlândia, cidade mineira próxima a Três Marias, também teria recebido peças da Fazenda da Jaguara. Algumas obras estão em poder de particulares em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo", diz o promotor.

Projeto Era Virtual - Cidades Patrimônio permite visitar as obras do mestre do barroco em Congonhas(foto: Carla Sandim/Era Virtual/Divulgação)
Projeto Era Virtual - Cidades Patrimônio permite visitar as obras do mestre do barroco em Congonhas (foto: Carla Sandim/Era Virtual/Divulgação)


O  artista plástico Elias Lyon, marianense de coração e influenciado pelas obras do artista, indica o que não se pode deixar de conferir em uma visita à Mariana (MG): além dos monumentos mais famosos, mesas de celebração da Igreja Matriz, as cadeiras produzidas para o cabido da diocese e uma pequena pia de água benta, que se encontram no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra da cidade.

Novidade

Uma extensa programação cultural marca as comemorações do ano do barroco e o bicentenário de morte de Aleijadinho, na capital e no interior de Minas. A 37ª Semana do Aleijadinho, evento promovido tradicionalmente em Ouro Preto, este ano, irá passar também por Belo Horizonte, Congonhas, Sabará, Tiradentes, São João del-Rei e Mariana. Entre os dias 1º e 30 de novembro, palestras, mostras, atrações musicais, documentário inédito e lançamento de livro ocorrerão simultaneamente.

Além de sediar a programação cultural, Congonhas será a primeira cidade brasileira contemplada no projeto Era Virtual – Cidades Patrimônio. A partir do próximo dia 17 de novembro, será possível realizar uma visita virtual ao conjunto do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, onde se encontram obras de Aleijadinho e, ainda, os núcleos que compõem o circuito de peregrinação da cidade histórica.  "Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, poderá ter uma perspectiva diferenciada do conjunto, a partir de imagens imersivas em 360º", explica Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação de Cultura de Congonhas e do Museu do Aleijadinho.

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