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Estado de Minas LITERATURA

Livro mostra a curiosa história do brasileiro que virou soldado de Hitler

Escrita por um jornalista mineiro, a obra narra a história real de um garoto que, ao sair para comprar pão, foi recrutado para o exército nazista durante a II Guerra


postado em 03/11/2016 16:31

Livro do jornalista mineiro Tarcísio Badaró mostra a curiosa história do brasileiro Horst Brenke, descendente de alemães, que foi recrutado pelo exército de Adolf Hitler de forma arbitrária(foto: João Paulo Martins/Encontro)
Livro do jornalista mineiro Tarcísio Badaró mostra a curiosa história do brasileiro Horst Brenke, descendente de alemães, que foi recrutado pelo exército de Adolf Hitler de forma arbitrária (foto: João Paulo Martins/Encontro)
Filho de alemães, Horst Brenke nasceu em Curitiba (PR), em 1926, e quando tinha 4 anos, mudou para Belo Horizonte, onde viveu até os 12. Em 1939, sua família retornou para a Alemanha, de onde havia fugido da Primeira Guerra Mundial. Por uma ironia do destino, Horst e seus familiares voltaram ao país europeu justamente quando um novo conflito se iniciava. Tentaram fugir novamente, com destino ao Brasil, mas os portos alemães já estavam totalmente fechados.

Já em 1945, quando a Segunda Guerra Mundial estava se aproximando do fim, Horst Brenke vivia o auge de sua adolescência, aos 18 anos, quando uma simples ida à padaria se transformou em um grande drama. Durante o caminho para comprar pão, Host foi recrutado, forçadamente, para fazer parte do exército nazista do ditador Adolf Hitler. Ele chegou a participar de batalhas até a derrota da Alemanha, naquele mesmo ano, quando o conflito na Europa chegou ao fim. Em seguida, ele se tornou prisioneiro de guerra e foi levado para um campo de concentração na União Soviética (Rússia).

A história de Horst Brenke foi retratada no livro-reportagem Era um Garoto: O Soldado Brasileiro de Hitler, escrito pelo jornalista mineiro Tarcísio Badaró. A partir dos relatos existentes no diário do curitibano, o escritor investigou toda a vida de Horst, desde a infância, passando pela guerra, até o retorno a Belo Horizonte, quando se estabeleceu e abriu uma loja. Ele viveu na capital mineira até e sua morte em 1984. "O assunto surgiu durante uma conversa com uma pessoa ligada à família de Horst Brenke. Eu me interessei em averiguar e cheguei até seu filho, que foi quem herdou o diário", diz Tarcísio Badaró.

O jornalista conta que foi a primeira pessoa a ler os relatos do diário de Horst. Somente após a leitura e tradução completa do conteúdo, ele chegou à conclusão de que o material era, de fato, relevante para se tornar um livro. "O inesperado fato de um garoto ir comprar pão e acabar na guerra me instigou. Sua família fugiu da guerra por muito tempo e, numa situação banal, tudo mudou", afirma Badaró.

Trabalho investigativo

Para reconstruir a história do jovem que viveu em Belo Horizonte e acabou se tornando um soldado do exército nazista, o autor relata que o trabalho de investigação foi complicado: "Foi como montar um quebra-cabeça que parecia não se formar por completo. A principal dificuldade na investigação foi descobrir o que Horst fez e por onde ele passou nos quatro meses em que esteve na guerra. Isso porque, no diário, pouco consta sobre esse período. Aém do mais, nos arquivos de guerra não existem muitos registros dos soldados que foram recrutados de última hora".
Horst Brenke (centro) ficou preso num campo de concentração para prisioneiros na União Soviética, após o fim da Segunda Guerra. Mais tarde, morou em Belo Horizonte até sua morte, em 1983(foto: João Paulo Martins/Encontro)
Horst Brenke (centro) ficou preso num campo de concentração para prisioneiros na União Soviética, após o fim da Segunda Guerra. Mais tarde, morou em Belo Horizonte até sua morte, em 1983 (foto: João Paulo Martins/Encontro)

Brasileiro no lado "inimigo"

Para Tarcísio Badaró, Horst Brenke sempre se sentiu um brasileiro. Somado a outros fatores, esse sentimento fez com que o soldado tivesse uma visão diferente da guerra. O autor diz que, ao contrário da maioria dos integrantes do exército de Hitler, Horst não se identificava com a ideologia nazista e, por ter sido recrutado durante os momentos finais, não foi treinado para estar no campo de batalha.

A pouca idade e a consequente inocência do brasileiro fizeram com que ele não entendesse a gravidade da situação em que estava envolvido, de acordo com Tarcísio Badaró. "Toda a barbárie cometida pelos nazistas era algo que não lhe dizia respeito. Em seu diário, ele expõe a surpresa que teve quando os russos lhe apresentaram alguns dos muitos crimes cometidos por Hitler", comenta o jornalista mineiro. "Talvez pela pouca idade, por não ter vivido muitos anos na Alemanha, ou por pura falta de interesse, Horst ignorava tudo isso. Antes de ser recrutado, ele era só um garoto que colecionava selos e tinha saudade dos amigos no Brasil", completa o autor.

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