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Estado de Minas COMPORTAMENTO | ARTISTA

Pintora mexicana Frida Kahlo inspira a produção de arte, roupa e acessórios

Com suas obras, roupas extravagantes e personalidade forte, a artista é fenômeno pop. Ela está consolidada como personagem fashion e a imagem marcante está em produtos dos mais diversos segmentos vendidos mundo afora


postado em 24/07/2017 16:50 / atualizado em 24/07/2017 17:06

A gerente comercial Lena Fraga é fã de carteirinha de Frida e tem um arsenal de coisas com a imagem da pintora:
A gerente comercial Lena Fraga é fã de carteirinha de Frida e tem um arsenal de coisas com a imagem da pintora: "Ela não dava satisfação à sociedade das atitudes e forma de vestir. Eu sou meio assim" (foto: Claudio Cunha/Encontro)
Ela completaria 110 anos neste mês de julho. Mesmo nascida há mais de um século, a pintora mexicana Frida Kahlo é uma das personalidades que melhor retratam o espírito da mulher contemporânea. Ela não seguia a moda, ditava. A individualidade, personalidade forte, autenticidade e as vestimentas exóticas e coloridas tornaram a artista fenômeno mundial e a mais cara da América Latina, com quadros que chegaram a ser vendidos por 8 milhões de dólares (mais de 25 milhões de reais) em leilão. Ela produziu apenas cerca de 150 obras - a cantora Madonna, fã assumida de Frida, é dona de algumas. "Admiro a Frida Kahlo porque se vestia de homem, tinha bigode e mesmo assim era capaz de ser glamorosa", disse uma vez a pop star americana.

Frida está hoje por toda parte e arrebata milhões de seguidores "frida-maníacos". Ao longo dos anos, tornou-se mais do que pintora renomada e respeitada. Por causa de diversas intervenções em sua imagem marcante, virou símbolo pop, com estampas em quadros, estêncils, camisetas, bolsas e diversos produtos vendidos mundo afora. Em 2012, a revista Vogue México deixou de lado as modelos e estampou na capa da sua publicação de novembro ninguém menos que a pintora Frida Kahlo, quase 60 anos depois de sua morte.

As flores que ornamentava na cabeça e nas roupas, a maneira como penteava o cabelo, os acessórios inseparáveis e até mesmo seu buço fizeram dela modelo grandiosa e bem peculiar. É muito fácil encontrar produtos com a carinha sobrancelhuda da mexicana. Frida tornou-se inspiração para estilistas, decoradores, artistas e lojistas, que não se cansam de estampá-la. Entra ano e sai ano, o look Frida Kahlo é também usado por foliões de todas as idades e sexos no carnaval. Eles adoram se enrolar em xales coloridos, pendurar colares, brincos e flores, colocar batons vermelhos e emendar sobrancelhas.

Na galeria do artista Rogério Fernandes, na Savassi, a pintora mexicana nunca falta como personagem, em encontros inusitados e fictícios. Depois de fazer a série Frida Imaginária, ela nunca mais saiu de suas exposições. "Eu me apaixonei por ela, pela personagem", diz Rogério. Ele já pintou Frida ao lado de Coco Chanel, Trotski, James Dean, Dalí, Van Gogh e Picasso. E produziu também telas inserindo a mexicana no contexto da bossa nova, com Vinicius de Moraes e Cartola. Nas obras de Rogério, ela aparece também recebendo convidados na Casa Azul (residência de Frida em Coyoacán, sua cidade natal, hoje transformada no Museu Frida Kahlo e um dos pontos mais visitados no México). "Levo minha Frida para passear em vários lugares do mundo", afirma Rogério. E em cada tela ela está com expressão diferente: o artista já pintou a Frida negra, de Hare Krishna e como sereia.

A empresária e artista plástica Agnes Farkasvolgyi, dona do Bouquet Garni, é outra craque em Frida e já fez algumas performances inspiradas pela pintora: casa retrata a admiração, com várias imagens da mexicana sobrancelhuda(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
A empresária e artista plástica Agnes Farkasvolgyi, dona do Bouquet Garni, é outra craque em Frida e já fez algumas performances inspiradas pela pintora: casa retrata a admiração, com várias imagens da mexicana sobrancelhuda (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
A coleção de verão de 2014 da estilista mineira Patrícia Bonaldi foi inspirada em Frida. "Ela ainda aparece muito moderna na atualidade. Mistura elementos rústicos e surreais de  forma inovadora", afirma Patrícia. A estilista é encantada com a forma como a artista soube mesclar ousadia com muito autoestima. "Ela entendia que a beleza vem do caráter", diz. "Frida criou uma personagem única e não se submeteu aos padrões de beleza da época." Patrícia revela que tem algumas coisas de Frida dentro de si. "Vivo o momento presente de maneira intensa, sempre buscando evoluir e me reinventar", diz.

O estilista Ronaldo Fraga é outro fascinado pela pintora. "É a Carmen Miranda do México. Eu acho isso lindo", diz. Ronaldo já fez uma coleção inspirada na Disneylândia Latina, onde colocou a pintora com orelhas de Mickey Mouse. "A minha Minie Mouse tinha cara de Frida Kahlo", afirma. E quanto mais repete a camiseta, mais vende. Ele observa que as pessoas falam pouco da arte da pintora, que acabou ficando em segundo plano. "Além da obra e imagem de Frida, acho importante essa história da cultura mexicana viva."

A irmã de Ronaldo, a gerente comercial Lena Fraga, é outra fã de carteirinha da pintora mexicana e coleciona em casa um arsenal de coisas com a imagem dela: almofadas, camisetas, quadros, bolsas, jogos americanos, sapatos, anéis, colares e até uma sombrinha. "Assim como Frida, adoro badulaques. Estou sempre enfeitada e colorida", afirma. Na maquiagem, Lena está longe de adotar o estilo clean. Usa batons de cores fortes, como vermelho e vinho. Na personalidade, também tem um jeito Frida de ser. "Ela não dava satisfação à sociedade das atitudes e forma de se vestir. Eu sou meio assim", afirma Lena, que planeja ir ao México em 2018 e tirar uma foto no quintal da Casa Azul. "Eu fico até ansiosa em pensar na energia boa que vou sentir", diz.

Frida teve uma vida sofrida. Jovem, sofreu um acidente que a obrigou a usar coletes ortopédicos de diversos materiais. O relacionamento com seu marido, o pintor mexicano Diego Riviera, foi tempestuoso - a relação virou tema de Frida, filme biográfico da artista, que conferiu à atriz Salma Hayek indicação ao Oscar. Mas ela conseguiu transformar a dor em beleza e arte. Frida não só é a mãe da selfie (a maioria esmagadora de sua obra é composta por autorretratos), como também é referência em criatividade, superação e força feminina.

A artista plástica e coordenadora de história da arte Cássia Duarte e seu acervo de Frida:
A artista plástica e coordenadora de história da arte Cássia Duarte e seu acervo de Frida: "Ela tinha buço, sobrancelhas juntas, não raspava as axilas e mesmo assim era linda" (foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
A empresária e artista plástica Agnes Farkasvolgyi, dona do bufê Bouquet Garni, é outra craque em Frida e já fez algumas performances da pintora. Quando entrou para a Escola de Belas Artes da UFMG, em 2001, a pintora foi um dos objetos de estudo da empresária. A identificação de Agnes vem justamente do fato de ela ser uma mulher fora dos padrões. "E é muito atual. Acho que eu também tenho opiniões próprias e sei o que quero. Não sigo moda", afirma. A empresária já vez jantares com cardápios baseados em livro de Frida Kahlo, que tinha o hábito de cozinhar no Dia dos Mortos, no México (2 de novembro). No jeito de vestir, Agnes leva muito de Frida: saia bordada, bijuterias, coletes, acessórios para o cabelo e batons fortes. Na decoração da casa, a imagem da mexicana aparece em bonecas, almofadas, reprodução de telas, pratos e livros.

Dona da loja de presentes, doces e chocolates Frau Bondan, a empresária Paula Bondan lançou sua primeira coleção de Frida há três anos, no Dia dos Mortos. Começou com a imagem da pintora em latas,  além de cactos, caveiras de chocolate e trufas de tequila e sal. Hoje Frida está em sacolas, bolsas e nécessaires térmicas. "Fez muito sucesso. Toda vez que tentava tirá-la das prateleiras, os consumidores pediam para voltar", afirma Paula. Os pedidos foram acatados. A Frau Bondan buscou os detentores dos direitos autorais da marca e oficializou a Frida como parceira. O lançamento da nova coleção está saindo do forno com mais produtos em novas estampas: almofadas, bonecas, toalhas de mesa e cadernetas. "Ela é um ícone, com história de superação de vida através da arte", analisa Paula.

Quem coloca Frida em suas marcas parece mesmo que não volta atrás. A estilista Virgínia Barros, dona da loja de calçados e roupas homônima, começou a vender produtos com a imagem da Frida há 12 anos. De lá para cá, a pintora não saiu da loja, em itens como sapato, caixa de madeira, lenço, colar e boneca. "É uma forma de trazer a arte da pintura para o sapato", diz Virgínia. Na Patrícia de Deus Ideias e Papéis, os produtos com a Frida chegaram há três anos. São almofadas, capas de livros, de agendas, bonecas, quadros diversos e garrafas de flores com o rosto da mexicana. "Tudo que chega sai muito rápido", afirma Patrícia Diniz de Deus, dona da loja.

A pintora mexicana é personagem frequente nas obras do artista Rogério Fernandes:
A pintora mexicana é personagem frequente nas obras do artista Rogério Fernandes: "Levo minha Frida para passear em vários lugares do mundo" (foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
"Todas as mulheres acabam se esbarrando na coragem e intensidade da Frida", afirma Cássia Duarte,  artista plástica e coordenadora de história da arte. A pintora, diz, não se encaixava em padrões preestabelecidos e desafiava todos os limites na forma de se vestir e apresentar. "Ela tinha buço, sobrancelha junta, não raspava as axilas e mesmo assim era linda", diz Cássia. "Se a pessoa se assume do jeito que é, fica muito bonita." Cássia se identifica muito com a pintora e tem um acervo de Frida em casa: bonecas, livros, jogos de ímãs, caderno, bloco de anotação, chaveiros e almofadas bordadas. "A grande busca das pessoas é por serem autênticas e estarem à vontade consigo mesmo. Frida era assim", afirma. "A verdade assumida por ela mesma é muito contemporânea. E o ícone se estabelece quando a pessoa toma a atitude como referência." Se é assim, Frida Kahlo é como Marilyn Monroe. Um fenômeno pop que veio para ficar.

Histórico da pintora


Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasce em 6 de julho de 1907, em Coyoacán, que na época era uma pequena cidade nos arredores da Cidade do México.

Filha de pai alemão, o nome da pintora foi escrito inicialmente  com um "e" - Frieda - à moda alemã. Mas foi alterado no final da década de 1930, quando ela abandona a letra por causa da ascensão do nazismo na Alemanha.

Fiel ao seu país, a pintora gostava de declarar-se filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.

Em 1925, aos 18 anos, sua vida mudou de forma trágica. O ônibus (novidade da época) em que Frida estava chocou-se com um trem. A pancada foi no meio do ônibus, onde ela estava sentada. Frida foi varada por um ferro que lhe atravessou o abdome, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias e ficou muito tempo presa em uma cama. O acidente a prendeu aos coletes ortopédicos por toda a vida.

Nessa dolorosa convalescença, Frida começa a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Na maioria de suas obras ela pinta a si mesma.

Comunista desde cedo, Frida conhece Diego Rivera e com ele se casa em 1929. O pintor e muralista mexicano exerce grande influência sobre sua obra e eles vivem um tumultuado amor, cheio de casos extraconjugais.

Frida amargou muitas amantes do marido, seu grande amor e reconhecido mulherengo. Mas ela também viveu romances paralelos, o mais famoso com o revolucionário russo León Trotski.

Embora tenha engravidado, Frida nunca teve filhos por causa de sequelas do acidente, o que ficou claro em muitos dos seus quadros.

Por complicações de uma forte pneumonia, Frida morre em 13 de julho de 1954, aos 47 anos. Em seu diário, deixou as últimas palavras: "Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais."

10 frases marcantes de Frida

1 | "Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?"

2 | "Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor"

3 | "Por que o chamo meu Diego? Nunca foi, nem será meu. É dele mesmo"

4 | "Tentei afogar minhas dores, mas elas aprenderam a nadar"

5 | "Me parece que a coisa mais importante na Gringolândia é ter ambição e se tornar ‘somebody’, e francamente, não tenho a menor ambição de ser ninguém.’’ (Frida não gostava dos EUA, a quem chama sempre de Gringolândia. Achava que os ‘gringos’,
como dizia , eram ‘arrogantes de nascença’.)

6 | "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."

7 | "A dor é parte da vida e pode se tornar a própria vida."

8 | "Doutor, se você me deixar tomar tequila, prometo não beber no meu funeral"

9 | "É tão absurda e fugaz a nossa passagem pelo mundo, que o que me deixa tranquila é saber que tenho sido autêntica, que tenho conseguido ser o mais próxima de mim que tenho podido"

10 | "Onde não puderes amar, não te demores."

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