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Estado de Minas TV

Novela Segundo Sol está sendo acusada de 'racismo'

A nova produção da Globo é ambientada em Salvador, mas só 11% do elenco é formado por atores negros


postado em 16/05/2018 08:00 / atualizado em 16/05/2018 08:29

Apesar de ser ambientada na Bahia, a nova novela da Globo, Segundo Sol, possui apenas três atores negros no elenco(foto: João Cotta/TV Globo/Divulgação)
Apesar de ser ambientada na Bahia, a nova novela da Globo, Segundo Sol, possui apenas três atores negros no elenco (foto: João Cotta/TV Globo/Divulgação)
A novela Segundo Sol, nova trama do horário das 21h da Rede Globo, estreou na segunda, dia 14 de maio. Porém, antes mesmo da produção começar a ser exibida, já estava envolvida em uma polêmica. No final de 2017, assim que a emissora divulgou quais atores iriam compor o elenco do novo folhetim, um fato logo chamou a atenção dos brasileiros: apesar de ser ambientada na Bahia, apenas três atores negros estavam escalados no elenco principal, composto por 26 profissionais da TV. São eles: Roberta Rodrigues, Dan Ferreira e Fabrício Boliveira.

A história de Segundo Sol se passa em Salvador, fato que torna ainda mais incoerente a baixa quantidade de negros no elenco da trama, uma vez que 80% da população da capital baiana é formada por negros e mulatos, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010. Ainda de acordo com o levantamento, a Bahia é o estado que possui maior percentual de população negra no Brasil.

Para a atriz mineira Herlen Romão, do grupo de teatro de mulheres negras Morro Encena, de Belo Horizonte, o que mais chama a atenção é que os papeis secundários foram distribuídos para os atores Roberta Rodrigues e Dan Ferreira. "Trata-se de uma insistência em mostrar o negro empregado, subalterno", critica a artista. Ela ressalta ainda que apenas o ator Fabrício Boliveira possui um papel mais relevante na história – ele interpreta um cantor de axé. "Neste caso, não dá pra imaginar um cantor de axé louro. Por isso, deram este papel mais importante a ele e não a um branco", comenta a atriz mineira.

Ministério Público

Por conta do baixo número de negros no elenco de Segundo Sol, a Globo foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho. O documento traz recomendações à emissora para que a trama "respeite a diversidade racial da cidade em que é ambientada". Em resposta, a emissora fundada por Roberto Marinho enviou um comunicado à imprensa, afirmando que "respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de preconceito e discriminação, inclusive o racial".
Dos três atores negros do elenco de Segundo Sol, apenas Fabrício Boliveira, que interpreta um cantor de axé, não está num papel considerado secundário(foto: João Cotta/TV Globo/Divulgação)
Dos três atores negros do elenco de Segundo Sol, apenas Fabrício Boliveira, que interpreta um cantor de axé, não está num papel considerado secundário (foto: João Cotta/TV Globo/Divulgação)

"Mea-culpa"

Em outra nota, anterior ao recebimento da notificação do MPT, a Globo já havia admitido a baixa representatividade negra no elenco da nova novela, mas tentou se justificar explicando que a seleção de atores foi realizada exclusivamente por meio de testes vocacionais para os papeis disponíveis na história escrita pelo dramaturgo João Emanuel Carneiro. A direção artística é de Dennis Carvalho.

Ainda assim, Herlen Romão acredita que exista racismo no posicionamento da emissora carioca. "Não creio que eles tenham realizado esse teste sem levar em conta se os atores eram negros ou não. Eu acredito é que os personagens já foram feitos pensando em quais atores os representariam", afirma a representante do Morro Encena.

Justiça

A atriz mineira também cobra da justiça uma ação mais eficaz para casos como esse. "Penso que, quando acontece este tipo de situação, o Ministério Público deveria interferir para que os responsáveis pela novela, como autores e diretores, respondam judicialmente a um processo por racismo", afirma Herlen Romão.

Ela completa, dizendo que a população brasileira, sobretudo as pessoas negras, devem ter um posicionamento mais firme nesses casos, não só com manifestações na internet, mas também fora do ambiente virtual.

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