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Estado de Minas LITERATURA

Os 110 anos de João Guimarães Rosa

Escritor mineiro ajudou a levar o sertão brasileiro para todo o mundo


postado em 28/06/2018 08:50 / atualizado em 28/06/2018 09:22

Há 110 anos, nascia na pequena cidade de Cordisburgo, em Minas Gerais, o escritor João Guimarães Rosa, responsável por vários clássicos da literatura brasileira(foto: Arquivo CB/CB/D.A Press)
Há 110 anos, nascia na pequena cidade de Cordisburgo, em Minas Gerais, o escritor João Guimarães Rosa, responsável por vários clássicos da literatura brasileira (foto: Arquivo CB/CB/D.A Press)
"Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração. Não é que esteja analfabeto. Soletrei, anos e meio, meante cartilha, memória e palmatória". As palavras são da genialidade e das vivências do célebre escritor mineiro João Guimarães Rosa, que percorreu os sertões do norte de Minas Gerais. Essa experiência levou à criação de várias obras clássicas da literatura brasileira, incluindo Grande Sertão: Veredas, romance do autor, publicado em 1956. No dia 27 de junho, foi celebrado os 110 anos de nascimento do autor que conseguiu reproduzir a essência do sertanejo e eternizou o sertão em suas obras. Ele também foi responsável pelo livro de contos Sagarana e pela novela Corpo de Baile.

Contista, novelista, romancista e diplomata, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG), em 27 de junho de 1908, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) no dia 19 de novembro de 1967. Ele é um dos autores mais estudados e Grande Sertão: Veredas um dos livros mais importantes da literatura brasileira.

Apesar de ser mineiro, o maior banco de dados bibliográficos dedicado exclusivamente a Rosa, com quase cinco mil registros, se encontra no Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo (USP). "É um dos maiores artistas da palavra do país, leitor de dicionários, um colecionador de palavras e expressões, um estudioso de línguas", define Gustavo de Castro e Silva, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), que faz um estudo biográfico aprofundado de Guimarães Rosa, para montar o perfil e uma linha do tempo da vida do autor.

Segundo o professor, o escritor era um homem muito voltado para a família e para o trabalho, que não gostava de ter a vida social exposta. Um mineiro quieto por natureza e introvertido. Amigo de Juscelino Kubitschek, Guimarães Rosa assinou muitos passaportes de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, para fugirem para o Brasil, enquanto era cônsul em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. "Foi um homem muito sensível", comenta o professor.

Castro e Silva conta ainda que Grande Sertão: Veredas foi escrito de "supetão", em apenas sete meses. "Ele foi um desdobramento de Corpo de Baile, era um conto desse livro e aí o conto foi crescendo e virou Grande Sertão: Veredas", conta.

A narrativa é marcada por neologismos e regionalismos. "Ele inaugura um tipo de liberdade poética na literatura brasileira. Quando ele está na França, na Alemanha, ele não esquece Minas Gerais. A saudade de Minas Gerais é crucial para sua elevação, ele escrevia com saudade do sertão", diz o professor da UnB.

Caminho do Sertão

Inspirada na obra de Guimarães Rosa, a Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Vale do Rio Urucuia, ONG que trabalha no norte de Minas, em parceria com a prefeitura de Arinos (MG) desenvolve desde 2014 o projeto O Caminho do Sertão, que promove um mergulho socioambiental e literário no universo do escritor e no cerrado sertanejo.

Este ano, 57 pessoas foram selecionadas para a caminhada de 186 km pelos vales dos rios Urucuia e Carinhanha, entre os dias 7 e 15 de julho. A jornada, que começa em Sagarana (MG), percorre parte do caminho realizado pelo personagem Riobaldo e seu bando, figura central do livro Grande Sertão: Veredas, passando pelo platô Liso do Sussuarão, na Serra das Araras, e terminando em Chapada Gaúcha (MG).

O projeto Caminho do Sertão é colaborativo e conta com patrocínio da secretaria de estado de Cultura de Minas Gerais, várias parcerias e uma campanha de financiamento coletivo, para quem quiser contribuir.

"Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera", afirma Guimarães Rosa no famigerado livro.

(com Agência Brasil)

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