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Estado de Minas CARNAVAL 2019

Portela levará Clara Nunes para a avenida na próxima segunda

Cantora mineira é o enredo deste ano da Azul e Branco de Madureira


postado em 25/02/2019 07:59 / atualizado em 25/02/2019 08:09

Na próxima segunda (4), a escola de samba Portela levará para a avenida um enredo baseado na vida da saudosa cantora mineira Clara Nunes(foto: Luiz Antônio/CB/D.A Press)
Na próxima segunda (4), a escola de samba Portela levará para a avenida um enredo baseado na vida da saudosa cantora mineira Clara Nunes (foto: Luiz Antônio/CB/D.A Press)

Na próxima segunda, dia 4 de março, a escola de samba Portela será a terceira a desfilar no Grupo Especial do Rio de Janeiro (RJ). Além de celebrar os 95 anos da agremiação, que é marcada pela presença de personalidades da cultura brasileira, como Monarco e Paulinho da Viola, o desfgile deste ano presta homenagem a uma das maiores estrelas de nossa música: Clara Francisca Gonçalves, mais conhecida como Clara Nunes, que terá sua vida ilustrada pelas mãos da carnavalesca e professora de Arte Rosa Magalhães.

Fábio Pavão, que integra a comissão de Carnaval e é presidente do Conselho Deliberativo da escola, em conversa com a Agência Brasil, conta que a emoção desse tributo vem arrancando lágrimas dos componentes da Portela. "É o enredo que o portelense sempre quis. Falar de Clara Nunes é um sonho antigo da Portela. Em outros carnavais, Clara Nunes esteve no enredo, mas não era o personagem central", comenta o carnavalesco.

A criação no interior de Minas Gerais, a educação católica, o mergulho nas religiões africanas e o encontro com o subúrbio carioca na azul e branca de Madureira serão contatos pela escola no enredo Na Madureira Moderníssima, Hei Sempre de Ouvir Cantar uma Sabiá.

Sem a intenção de contar uma biografia tradicional, o desfile parte do último trabalho da cantora, o álbum Nação, em que Clara Nunes circula de forma eclética pela produção musical negra no Brasil. Essa busca pela brasilidade, explica Pavão, a cantora tem em comum com os modernistas, que em Tarsila do Amaral encontraram o Carnaval em Madureira, quadro icônico da pintora que passará pela Marquês de Sapucaí em forma de alegoria.

Assim como Clara Nunes, Tarsila se encantou com a folia no subúrbio ao se deparar com a irreverência de um comerciante carioca que mandou enfeitar o coreto de uma praça como se fosse a Torre Eiffel. Em volta do monumento, ele ainda montou uma engenhoca que fazia rodar um dirigível.

A carnavalesca Rosa Magalhães deve explorar o sincretismo religioso que marcou a vida da mineira de Caetanópolis(foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Divulgação)
A carnavalesca Rosa Magalhães deve explorar o sincretismo religioso que marcou a vida da mineira de Caetanópolis (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Divulgação)

Enredo

"A gente quer mostrar o Brasil, como o povo tem importância para a definição dessa brasilidade e para o repertório da Clara Nunes", diz Pavão, que conta que o enredo trará a formação católica que Clara Nunes recebeu dos pais, que serão representados na avenida pela atriz Glória Pires e pelo cantor e compositor Orlando Morais em um carro alegórico que faz referência ao estilo barroco das igrejas mineiras.

Do catolicismo, a escola vai partir para a fé nos orixás de matriz africana, que marcou a identidade visual e a forma de Clara Nunes se apresentar. Mulher, negra, de matriz africana e nascida no interior, Clara Nunes será revivida também em sua mensagem em prol da diversidade. "A Clara mostra a importância da tolerância, de se respeitar o próximo e de se respeitar as religiões de matriz africana. Foi um recado que ela passou em vida e que a Portela vai passar no carnaval", afirma Fábio Pavão à Agência Brasil.

Nos 13 anos que passou na Portela, Clara Nunes foi intérprete, desfilou e fez história na comunidade. Grandes carnavais serão resgatados pelo desfile, como Ilu Ayê, de 1972, e A Ressurreição das Coroas (1983), o último de que Clara Nunes participou, meses antes de sua morte, em 2 de abril daquele ano.

Uma curiosidade no desfile deste ano é a parceria da carnavalesca Rosa Magalhães com o renomado estilista francês Jean Paul Gaulthier, que assinam em conjunto uma das alas. O designer da alta costura esteve no Rio de Janeiro em outubro do ano passado para acertar os detalhes dos trajes, que ainda são mantidos em sigilo. Na viagem, o estilista não perdeu a oportunidade de participar de uma feijoada com a velha guarda da Portela.

História

Clara Nunes nasceu no município de Caetanópolis (MG), cidade localizada a 96 km de Belo Horizonte, em 12 de agosto de 1942 – na época, o município era distrito de Paraopeba. Durante a juventude, morou na capital mineira, onde trabalhou na fábrica de tecidos da Cedro e começou a cantar na rádio Inconfidência. Em pouco tempo, sua voz marcante e extremamente afinada chamou a atenção.

Ela ganhou um concurso de canto e, como prêmio, foi contratada pela gravadora EMI-Odeon. Nos anos 1970, partiu para o Rio de Janeiro, berço de grandes artistas brasileiros da época. Foi na capital fluminense que se aproximou do samba e construiu a carreira gloriosa, tornando-se um dos ícones da MPB.

Para tristeza dos fãs, depois de dar entrada na clínica São Vicente, no Rio, no dia 2 de abril de 1983, para fazer uma simples cirurgia de varizes, Clara Nunes acabou sofrendo de choque anafilático devido à anestesia. Pouco depois, sua morte foi anunciada e causou comoção nacional, pondo fim à carreia, que estava em pleno auge.

Confira, abaixo, o samba-enredo da Portela em homenagem à "tal mineira":


(com Agência Brasil)

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