Após o aclamado sucesso de "As Órfãs da Rainha", lançado em 2023, a diretora, produtora e roteirista Elza Cataldo se prepara para dar início às filmagens do segundo núcleo de seu mais novo longa, "Maria: A Rainha Louca". Com a equipe da Persona Filmes e patrocínio da Energisa Minas Rio, as gravações desta etapa estão programadas para começar em 11 de outubro, destacando um momento marcante: o julgamento de Tiradentes.
O filme se passa no século XIX, durante o exílio da família real portuguesa no Brasil. Elza Cataldo compartilha que o desejo de explorar a vida da rainha nasceu durante as filmagens de "Vinho de Rosas", sobre Joaquina, filha de Tiradentes. "Uma leitura recente do livro de Mary del Priore, 'D. Maria I - As Perdas e as Glórias da Rainha que entrou para a História como 'a Louca'', me fez entender melhor essa personagem. O longa apresenta D. Maria sob um ângulo original, desconstruindo sua suposta loucura e revelando as causas do conflito com seu filho, D. João VI."
Com roteiro do segundo núcleo elaborado por Eduardo Moreira, fundador e ator do Grupo Galpão, as cenas apresentam uma abordagem ousada em uma linguagem farsesca. Este gênero é conhecido por subverter o senso comum, exagerando comportamentos e diálogos, prometendo uma experiência cinematográfica única.
Eduardo Moreira avalia que este foi um convite prazeroso e desafiador ao mesmo tempo. "Criar uma cena teatral em tom levemente operístico para um filme histórico abordando uma figura como o Tiradentes é uma tarefa fascinante. Além do mais, trabalhar para uma diretora como Elza Cataldo, que está à frente desse belo esforço de fazer filmes de época no Brasil e em Minas, é sempre um chamado especial. A certeza de estarmos tentando resgatar algo daquilo que fomos. É poder também, num certo sentido, rir de nossas mazelas e da nossa herança de violência, conluios e arranjos políticos e sociais que se fazem em nome da dominação e da exploração", conta.
Elenco e temas
No papel de D. Maria I, a talentosa atriz portuguesa Maria de Medeiros assume a complexa personalidade da rainha. O elenco também conta com o mineiro Alexandre Cioletti como D. João VI e a paulista Rita Batata interpretando Carlota Joaquina, nora da monarca. Além deles, 17 atores do Galpão Cine Horto darão vida a conjurados, acusadores e a plateia, enriquecendo a narrativa com atuações vibrantes.
"Maria: A Rainha Louca" busca preencher uma lacuna na cinematografia nacional, destacando a importância de figuras históricas frequentemente esquecidas. "Falar sobre a Rainha de Portugal nos dias de hoje é relevante, pois expõe como mulheres ainda são vistas como 'loucas' ao ocupar posições de poder em momentos de vulnerabilidade. Abordar a saúde mental e a condição feminina é uma iniciativa instigante e necessária", ressalta a diretora.
Com um olhar único sobre D. Maria I, o filme busca desmistificar o estigma de sua loucura, revelando os eventos históricos que moldaram sua trajetória. A primeira mulher a assumir o trono de Portugal, D. Maria I foi uma figura central em importantes atividades legislativas, comerciais e diplomáticas.
A Rainha também enfrenta, ao longo do desenvolvimento da trama, um embate com seu filho João VI, repleto de ressentimentos mútuos. Ao perceber as manobras conspiratórias da nora Carlota Joaquina para usurpar a Coroa do seu filho, confirmadas pela sua dama de companhia, Maria se reconcilia com João e se sente, finalmente, em paz.
Um Filme para valorizar a cultura
A produção do segundo núcleo será realizada no Galpão Cine Horto. A primeira cena, gravada em dezembro passado no Horto Florestal de Belo Horizonte, retratou uma reunião da inconfidente Hipólita Jacinta, interpretada por Fernanda Vianna do Grupo Galpão.
O restante do filme será produzido no primeiro semestre de 2025, com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. Com lançamento previsto para o fim de 2025, o longa conta com a direção de fotografia de Marcelo Borja, direção de arte de Marney Heitmann, figurino de Sayonara Lopes e produção executiva de Luiz Navarro.
Sobre a Diretora
Elza Cataldo é uma profissional respeitada no cinema brasileiro, com uma sólida formação em Cinematografia pela Universidade de Nanterre e doutorado pela Sorbonne, França. Ela foi professora e pesquisadora na Universidade Federal de Minas Gerais e, em 2023, lançou "As Órfãs da Rainha", um filme que participou de diversos festivais internacionais, recebendo prêmios de destaque, incluindo Melhor Filme Histórico no Toronto International Women's Film Festival.
Seus outros trabalhos incluem "Vinho de Rosas", que conquistou prêmios em festivais renomados, e o curta-metragem "O Crime da Atriz", premiado na Mostra Internacional de São Paulo. Elza também atuou como co-produtora de longas-metragens reconhecidos como a "A Luneta do Tempo", de Alceu Valença, e "Meu Pé de Laranja Lima", de Marcos Bernstein, e desenvolveu diversos projetos audiovisuais e culturais.