
O caminho trilhado pela Backer serviu de alicerce para que não somente a qualidade da infraestrutura melhorasse no bairro, como também incentivou que outras iniciativas se firmassem por ali. Um heliporto serve de ponto estratégico para o turismo. Um badalado espaço de festas atrai jovens baladeiros nas noites de sexta e sábado. A pasmaceira nas ruas foi para o espaço. E a sina cervejeira foi encorpada com a chegada do mais novo vizinho. No amplo imóvel onde funcionou durante anos a antiga fábrica da marca de roupas Vide Bula, nasceu o monumental complexo cervejeiro batizado de Ateliê Wäls. Juntas, as fábricas da Wäls e Backer concentram boa parte das atenções do fã da bebida feita a partir da mistura de água, lúpulo, malte e levedura.

Aberto em junho, o Ateliê Wäls tem atraído clientes da capital, do interior e de outros estados, igualzinho ao que acontece na vizinha Backer. Nos fins de semana, a paciência é ingrediente extra, pois as instalações graúdas da novata já deixam o trânsito complicado e geram filas de espera. Mas aguardar um pouco vale a pena. Além de chopes e cervejas de extrema qualidade, conferir o capricho na arquitetura desses espaços, degustar os preparos que saem das cozinhas, comprar os itens vendidos em suas lojas e flanar em meio a seus tanques cervejeiros resultam em um passeio singular. O boca a boca que tem se disseminado nas mídias sociais foi o que motivou a advogada Layla Magalhães a atender ao chamado de sua colega de profissão Milene de Souza. Residente em Brasília, Layla ocupava um dos 400 lugares do amplo salão e fitava com admiração os detalhes do espaço de 1.900 m2 projetado pelo arquiteto Gustavo Penna - o mesmo que assinou os projetos do novo Mineirão, do Museu de Congonhas e do Centro de Convenções de Inhotim. Enquanto isso, sua amiga bebericava a gateau imperial, uma cerveja escura do estilo stout para quem gosta de fortes impactos. Ao lado, marmanjos provavam cervejas de estilos mais simples. E Layla era só encantamento. "A entrada é sensacional. Aqui é muito mais do que somente uma cervejaria. Na capital federal não há nenhum lugar como esse", comparou a brasiliense.

As centenas de barris de madeira que ocupam parte do salão, e ficam sob os cuidados do mestre-cervejeiro Roberto Leão, não são somente decoração. Elas já guardam mais de 100 mil litros de cerveja, que ficam em processo de fermentação e envelhecimento de seis meses a um ano. Trata-se do maior salão de barris da América Latina, ou barrel room, como eles preferem chamar. Como essas barricas são feitas de 12 tipos de madeira, como bálsamo, umburana, carvalho francês e americano, cada bebida conservada ali terá sabor, textura e aroma diferentes. Outras já armazenaram vinho, conhaque, uísque, cachaça e bourbon, o que lhes dá características particulares. As opções de petiscos para harmonizar com tanta fartura cervejeira não decepcionam. Para formular o cardápio, foi chamado o chef Raoni Ribeiro, que veio da disputada Mercearia 130. De suas mãos saem preparos que combinam com a opulência da cervejaria, como um torresmo gigante, muito saboroso e bastante gorduroso, que fica três horas em fogo baixo.
Enquanto na Wäls a presença maior notada foi de homens curiosos pela novidade cervejeira (a visita ao local foi feita numa sexta-feira), na Backer a frequência era de casais enamorados e turmas de amigos. Depois de visitar o local pela primeira vez, a advogada Glauciene Silva não hesitou em retornar e comemorar ali seu aniversário. "Eu gosto de cerveja, mas o que mais amei foi o espaço, que é lindo", disse. Em sua mesa, os noivos Núbia Souza e Felício Júnior comentavam do clima romântico, fruto da decoração e da iluminação um pouco reduzida. "É um ótimo lugar para rolar um pedido de casamento", brincava Núbia ao lado do noivo.

As montanhas que emolduram o bairro Olhos D’Água parecem mesmo ter um pouco de magia. Além de conferir um pôr do sol privilegiado, inspiram o aconchego tão caro ao povo mineiro. "Queríamos isso para representar Minas Gerais", comenta José Felipe. O cenário parece ainda resultar em serenidade, característica comum aos cervejeiros que têm feito a fama da região. "Cerveja se faz com panela e muita paciência", resume Paula Lebbos. Espera-se, assim, que litros e litros de cervejas e chopes continuem sendo fabricados no bairro. Os clientes vão consumi-las pacientemente.