Estado de Minas

Terapia Assistida por Animais transforma rotina de pacientes em BH

TAA tem se mostrado eficaz no apoio ao desenvolvimento de pacientes hospitalizados, idosos abrigados em instituições e crianças com necessidades especiais


postado em 27/05/2025 08:43 / atualizado em 27/05/2025 09:05

Diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA),Vitória de Oliveira Ramalho, 6 anos, realiza Terapia Assistida por Animais (TAA) há seis meses na UniArnaldo e um de seus bichinhos favoritos na terapia é a vaquinha Gabi; ao seu lado, na foto, está Giovana Vicente, estagiária de veterinária. (foto: Pádua de Carvalho)
Diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA),Vitória de Oliveira Ramalho, 6 anos, realiza Terapia Assistida por Animais (TAA) há seis meses na UniArnaldo e um de seus bichinhos favoritos na terapia é a vaquinha Gabi; ao seu lado, na foto, está Giovana Vicente, estagiária de veterinária. (foto: Pádua de Carvalho)
A agenda de Hope, um golden retriever de 2 anos, é digna de causar inveja. Ao lado de sua tutora, Ana Paula Fagundes, fisioterapeuta, equoterapeuta e especialista em Terapia Assistida por Animais (TAA), ele realiza um trabalho regado à alegria e acolhimento. Duas vezes por semana, o cãozinho visita pacientes internados em hospitais. A cada sete dias,  participa também de sessões terapêuticas realizadas com crianças na Universidade  UniArnaldo. Quando lhe sobra um tempinho (e energia!), ele faz questão, ainda, de levar afeto aos idosos em asilos de Belo Horizonte e região metropolitana. As visitas são cuidadosamente agendadas com antecedência e quem quiser garantir um horário com o pet este ano só vai conseguir depois de junho. “O Hope é tão ativo que no período de férias desenvolveu lambedura por estresse por não estar saindo para fazer as visitas que ele tanto gosta”, conta Ana.
 
Assim como Hope, outros animais têm feito o bem para muita gente. A pequena Mia, cadelinha de mesma raça e com seis meses de vida, já está em treinamento para seguir os passos do irmão mais velho na TAA. Mas não basta ser lindo, fofo e carismático. Para se tornarem cães de assistência, com garantia de eficácia e segurança da TAA, os animais envolvidos passam por um processo rigoroso de seleção, treinamento e avaliação comportamental. 
 
Ao lado da tutora e fisioterapeuta Ana Paula Fagundes e da social media Fernanda Rian Marinho, o golden retriever Hope e sua irmã Mia levam alegria e acolhimento a pacientes do Hospital Unimed Unidade Contorno, entre eles a Luciana Rodrigues da Silva (foto: Pádua de Carvalho)
Ao lado da tutora e fisioterapeuta Ana Paula Fagundes e da social media Fernanda Rian Marinho, o golden retriever Hope e sua irmã Mia levam alegria e acolhimento a pacientes do Hospital Unimed Unidade Contorno, entre eles a Luciana Rodrigues da Silva (foto: Pádua de Carvalho)
“O treinamento inclui a socialização com diferentes públicos e ambientes, além da obediência básica e controle de impulsos. O temperamento do animal é um fator determinante: ele deve ser dócil, previsível, sociável e confortável com o toque humano”, explica a médica-veterinária Maria Isabel de Azevedo. Professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG, ela ajudou no processo de criação e implantação do projeto Amigo para Cachorro no Hospital das Clínicas. 
 
“Também são realizados exames e avaliações periódicas que garantam que o animal esteja saudável física e emocionalmente para exercer a função terapêutica. Os limites dos animais são sempre respeitados para garantir o seu bem-estar”, diz Maria Isabel. A especialista garante que a presença dos pets ajuda a tornar o ambiente hospitalar mais leve, estimulando a socialização e contribuindo positivamente para a recuperação dos pacientes, tanto que, em Belo Horizonte, a prática tem se tornado comum. Algumas unidades da Unimed, por exemplo,  já  adotaram a terapia com os bichinhos, como a da Contorno, a do Hospital Infantil São Camilo e de Betim. 
 
“Incentivamos a realização de atividades que proporcionam momentos únicos aos pacientes, como música ao vivo nas unidades, a celebração de aniversários, visitas religiosas e celebração de cerimônia ecumênica. A interação com o cão terapeuta veio para fortalecer a humanização do atendimento hospitalar", diz Viviane Cristina da Cunha, diretora do Hospital Unimed-Unidade Contorno.
 
Embora os cães sejam os mais comuns por sua facilidade de adestramento e estreita ligação com os humanos, diversas espécies podem ser utilizadas na Terapia Assistida por Animais. Entre eles, gatos, cavalos, vacas, coelhos, aves, ovelhas e até golfinhos têm sido integrados a programas terapêuticos, sempre respeitando as características de cada animal. A escolha da espécie depende do objetivo terapêutico, do perfil do paciente e do ambiente em que a terapia será praticada. 
 
Realizada com cavalos, a equoterapia é muito utilizada no controle postural, coordenação e equilíbrio de pacientes com distúrbios neurológicos, ortopédicos e musculares. Diagnosticado com osteogênese imperfeita, também conhecida como doença dos ossos de vidro, e epilepsia mioclônica progressiva, há um ano Heitor Martins, de 14 anos, se beneficia da  TAA. 
 
Há um ano a TAA tem ajudado Heitor Martins, 14 anos, no tratamento da osteogênese imperfeita e da epilepsia mioclônica progressiva; um de seus parceiros na terapia é o cavalo Zinco, que deixou a carreira de cavalo competidor para ser um animal terapeuta (foto: Pádua de Carvalho)
Há um ano a TAA tem ajudado Heitor Martins, 14 anos, no tratamento da osteogênese imperfeita e da epilepsia mioclônica progressiva; um de seus parceiros na terapia é o cavalo Zinco, que deixou a carreira de cavalo competidor para ser um animal terapeuta (foto: Pádua de Carvalho)
“Ele faz equoterapia uma vez por semana, o que tem ajudado bastante a reduzir o medo, a ansiedade e a melhorar a sua capacidade motora.”, diz a mãe  Patrícia Martins Dias. Um dos  parceiros de Heitor na TAA é o cavalo  Zinco, um senhorzinho de 19 anos que deixou a carreira de cavalo competidor com inúmeros troféus da raça mangalarga marchador para ser um animal terapeuta. “O Zinco participa da equoterapia duas vezes por semana na UniArnaldo e, por ser mais velho e ter o temperamento dócil, é muito adequado para a função”, explica a equoterapeuta Ana Paula. 
 
A assistente social Flávia de Oliveira Nascimento Silva é mãe de Vitória, de 6 anos, criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela relata que desde que a filha começou a fazer a TAA, há seis meses, o seu senso de organização e autoconfiança aumentaram. Um de seus bichinhos preferidos é a vaquinha Gabi. “A terapia com animais também tem estimulado a sua afabilidade e autocuidado”, diz. Para os especialistas, não há dúvidas de que a interação afetuosa e respeitosa entre humanos e animais têm mostrado resultados cada vez mais positivos. Os efeitos incluem desde a melhora do humor, o estímulo à socialização, o fortalecimento do vínculo afetivo ao incentivo à reabilitação física e redução da pressão arterial.
 
Embora a participação dos animais na promoção da saúde e do bem-estar dos seres humanos seja natural e antiga, sua aplicação terapêutica começou a ganhar destaque somente no século XX. Os primeiros registros documentados datam da década de 1940, quando o psiquiatra norte-americano Boris Levinson observou que seus pacientes infantis respondiam positivamente à presença de seu cão durante as sessões. A partir dessas observações, Levinson se tornou um dos pioneiros na divulgação e estudo da Terapia Assistida por Animais utilizada, a princípio, no tratamento de transtornos de comportamento, déficit de atenção e problemas de comunicação em crianças.
 
A prática complementar à psicoterapia tornou-se cada vez mais reconhecida no campo da saúde física, mental e emocional, passando a ser utilizada em diversos contextos clínicos e sociais. No Brasil, a TAA foi introduzida na década de 1950, por intermédio da médica psiquiatra Nise da Silveira, que utilizou animais como cães e gatos para interação e apoio emocional no tratamento de pacientes esquizofrênicos no Centro Psiquiátrico Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, tornando-se pioneira no país.  A técnica tem se mostrado eficaz em casos de depressão, ansiedade, autismo, transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), Alzheimer , dificuldades motoras, entre outras patologias. Pacientes hospitalizados, idosos abrigados em instituições e crianças com necessidades especiais são alguns dos grupos que mais se beneficiam da presença e interação com os animais. 
 
A prática complementar à psicoterapia tornou-se cada vez mais reconhecida no campo da saúde física, mental e emocional, passando a ser utilizada em diversos contextos clínicos e sociais. No Brasil, a TAA foi introduzida na década de 1950, por intermédio da médica psiquiatra Nise da Silveira, que utilizou animais como cães e gatos para interação e apoio emocional no tratamento de pacientes esquizofrênicos no Centro Psiquiátrico Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, tornando-se pioneira no país.  A técnica tem se mostrado eficaz em casos de depressão, ansiedade, autismo, transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), Alzheimer , dificuldades motoras, entre outras patologias. Pacientes hospitalizados, idosos abrigados em instituições e crianças com necessidades especiais são alguns dos grupos que mais se beneficiam da presença e interação com os animais. 
 
Serviço
 
UniArnaldo - Atendimento pago e gratuito para famílias carentes. Contato: (31) 3524-5005/ (31) 99391-1177
 
UFMG - somente a pacientes internados na ala pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade. 
 
Equoterapia -  Centro de Equoterapia do Regimento de Cavalaria Alferes (Cercat), da Polícia Militar. Gratuito. Depende de vagas. Contato: 2123-9535

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