
De lá para cá, o casal já passou por muitas decisões de mudança de vida, algumas conjuntas, outras individuais. A primeira foi quando eles, já noivos, decidiram morar em Sevilha (Espanha), em 2005, ano em que Tardelli foi emprestado para o time espanhol Real Betis. Linda abandonou a carreira de atriz para acompanhar o atacante, no que seria o início da saga da família que, desde então, já passou por São Paulo e Rio de Janeiro, além de Holanda, Rússia e Catar. Hoje, moram em Belo Horizonte.

Mas jogador é jogador, e ela diz que Tardelli logo começou a sentir falta do Atlético e a querer voltar ao país. Então, meia-volta, volver. "Já tenho isso muito claro na minha cabeça. Não tenho dúvida, vou aonde ele for", diz. A história de Linda ilustra bem como é a vida de muitas mulheres de craques do futebol. Os privilégios, dinheiro, viagens e qualidade de vida são um (ótimo) lado da moeda, não se pode negar. Mas a solidão também é uma constante – os maridos viajam muito e trabalham nos fins de semana –, sofre-se com o assédio de fãs – muitas delas, saidinhas – e com a dificuldade de se dedicar a uma carreira própria. Além disso, a figura da "mulher de jogador" é carregada de preconceitos que muitas encaram como barreira para iniciar a relação, principalmente, a associação com as marias-chuteiras.

Assumidamente ciumenta, já na segunda vez que saiu com o atleta sua braveza se revelou. Quando viu que uma mulher tinha abordado Nilton para conversar, no bar em que estavam, esperou a garota ir ao banheiro e soltou os cachorros. "Nilton disse que eu era maluca e que precisava diminuir o tom. Já melhorei muito", diz a mãe de Giovanna, de 3 anos. Desde então, o casal está sempre junto. Karin vai a todos os jogos do marido, que não a deixou aceitar uma proposta para ser comentarista de futebol. "Eu ‘corneto’ mesmo e poderia, eventualmente, falar alguma coisa de um colega de clube. Não ia ser legal", diz Karin.

Se Karin fugiu do marido no início, Jéssica, mulher de Luan, do Atlético, decidiu namorá-lo quando não tinham dado sequer o primeiro beijo. O atleta, que jogava no Atlético de Sorocaba, passava de carro diariamente na porta da loja onde a paulista trabalhava. Galanteador, sempre mandava beijos e buzinava. Nada que impressionasse a menina de 17 anos, até o dia em que ele viajou com o time e não passou mais lá. "Como eu não sabia que ele era jogador e que estava viajando, imaginei que tivesse arrumado uma namorada, aí senti falta", diz. Criada pelos avós, Jéssica é muito tradicional e quando Luan finalmente entrou na loja e perguntou se ela queria namorá-lo, mandou logo uma frase de efeito: "Só se você me der uma aliança de compromisso". Ela queria ver se o garoto, na época com 19 anos, realmente queria algo sério. "Ele disse que tudo bem. No dia seguinte, me buscou na aula", conta. "Foi quando demos o primeiro beijo."

As mulheres de jogadores assumem, com frequência, essa postura de porto seguro incondicional. Isso porque, além de os parceiros terem carreiras curtas, o casal costuma morar longe de ambas as famílias e têm de se mudar de cidade sempre que o atleta troca de time. São, assim, o maior apoio dos jogadores. Contribui para isso, ainda, o fato de que esses atletas, comumente, saem de casa muito novos para tentar a vida no esporte, ficam longe da própria família e acabam se voltando para quem os acolhe na cidade onde estão, especialmente as namoradas. É o que diz a psicóloga e psicanalista Paula de Paula, professora dos cursos de psicologia e de educação física da PUC Minas. A partir daí, segundo ela, a união é natural, pois passam a levar as companheiras em viagens e nas mudanças. "Eles querem a companhia de alguém que é familiar, que julgam que vá ser a fiel escudeira, e, se for uma mudança para outro país, até alguém com quem possam conversar em seu idioma. A mulher entra nesse lugar de apoio e aposta nisso também", explica.

Referência para jogadores até mesmo de times rivais, o goleiro do Cruzeiro, Fábio, e sua mulher, Sandra, comemoraram, no ano passado, dez anos de casamento, dos quais nove em BH. Quando começaram a namorar, em 1995, ela tinha 16 anos e ele, 14. Os laços do casal e a relação com as famílias de outros jogadores se fortaleceram muito quando encontraram a religião. "Foi algo muito bonito na nossa vida", diz Sandra, sempre calma e de fala serena. Emocionada, ela se recorda de uma das primeiras experiências espirituais que viveram, que aconteceu depois de um jogo entre Atlético e Cruzeiro (primeira partida da final do Campeonato Mineiro de 2007). A atuação de Fábio na partida foi extremamente criticada. O goleiro levou um gol de costas, fez pênalti, tomou chapéu e o time perdeu por 4 a 0. Para piorar, Fábio ainda rompeu o ligamento. Quando não apareceu no jogo seguinte, não faltaram comentários de que a lesão era uma desculpa para não colocarem o jogador de novo em campo.

Desde então, a fé em Deus baliza todas as decisões do casal, inclusive a de recusar o contrato de um time espanhol para permanecer no Cruzeiro. Junto a outras esposas, Sandra tem um grupo de oração que se dedica, também, a abençoar os jogadores – já até deram a volta no Mineirão, abençoando o estádio. "O meio do futebol é muito turbulento, eu sentia necessidade de paz. Sofria pelo excesso de confiança e acesso fácil que os jogadores têm a tudo. Hoje sou muito tranquila, porque temos o mesmo direcionamento, zelamos por nossa família", diz.
Sandra é muito elogiada por receber bem novas famílias de atletas que vão chegando a BH. Foi assim, por exemplo, com a mulher de Éverton Ribeiro, Marília, que, apesar de formada em publicidade e propaganda, ama mesmo as artes cênicas. Sandra a indicou, então, para participar do Ministros da Alegria, grupo de teatro que faz trabalho voluntário nos hospitais Odilon Behrens e Santa Casa de Misericórdia. Marília participa do grupo até hoje.

As redes sociais foram a maneira de os dois se comunicarem. Não muito diferente de Diane e Ricardo Goulart, artilheiro do Campeonato Brasileiro e outro convocado para a seleção do técnico Dunga. Eles, que se conheceram também novinhos (ela com 16 anos e ele com 14), passaram a usar a internet quando Ricardo saiu de São José do Rio Preto, onde nasceram, e foi para Santo André, onde o atacante começou a jogar nas divisões de base. Depois de oito meses, resolveram se casar, em 2009.
A situação do casal, que, como a de muitos atletas, era difícil financeiramente no início, começou a melhorar, segundo Diane, quando Goulart se transferiu para o Goiás. No time esmeraldino, o jogador teve o primeiro contato com a fama e despertou o interesse da diretoria celeste. O Cruzeiro, de acordo com a mulher, foi o ápice da carreira agora coroada com a convocação para a seleção brasileira. "A convocação foi uma proposta de Deus. Ele passou por tanta coisa, mas nunca desistiu. Aconteceu na hora certa para nós", diz Diane. A torcida agradece!