
Desde 2010, a mineira tem um canal em português e um em inglês na plataforma de vídeos YouTube, onde ensina seus viewers (espectadores) a fazer diversos tipos de maquiagem, além de avaliar produtos de beleza e compartilhar sua rotina estética. No início, a produção dos tutoriais era apenas uma atividade de lazer, algo feito por prazer e dividido com a rotina normal de trabalho. Mas logo os acessos começaram a aumentar, e então ela criou um blog de beleza. "Seis meses depois de começar com o blog, passei a me dedicar totalmente a ele e aos meus canais, pois comecei a receber propostas de parcerias de lojas on-line e percebi que isso poderia se tornar meu trabalho, minha vida", diz Camila.
De fato, hoje, seu canal em português tem quase dois milhões de inscritos (duzentas vezes a população de sua cidade natal) e mais de 178 milhões de visualizações - é como se todos os cidadãos da Alemanha, França e Canadá tivessem visto algum vídeo dela. Isso sem contar os números do canal em inglês - menores, mas também significativos.


A verdade é que cifras na casa dos milhões não são raras no YouTube. O clipe Gangnam Style, do coreano Psy - um dos clássicos da plataforma -, por exemplo, tem mais de dois bilhões de acessos. No entanto, manter o número de visualizações alto a cada vídeo que se lança (a média, no canal de Camila, é de aproximadamente 400 mil, mas há vídeos que chegam a 2,5 milhões) não é para qualquer um, e aí está o diferencial dos "youtubers profissionais" de sucesso: eles têm muitos inscritos e muitos acessos sempre que lançam algum conteúdo novo.
A influência digital dessa turma é enorme, especialmente entre os jovens. Uma pesquisa do ano passado da revista americana Variety com jovens dos Estados Unidos indicou que youtubers já são mais populares entre adolescentes de 13 a 18 anos do que estrelas de Hollywood, por exemplo. Para o professor do Centro Universitário UNA especialista em rádio, TV e web Richardson Pontone, consultor em gestão de novas mídias, esse ainda não é o caso no Brasil, onde a TV se mantém muito forte, principalmente com a indústria de novelas. "Mas, diga-se de passagem, ela está perdendo a hegemonia", afirma.
Segundo Pontone, mesmo no Brasil, o YouTube é, sim, um nicho interessante, já que tem públicos diversos e, muitos deles, fiéis. "É um público autodidata, que gosta do faça-você-mesmo, de rapidez e do diálogo que a web oferece. É um grande modelo de monetização", explica.

Não é possível precisar valores, pois tudo depende de quanto paga cada anunciante, qual é o contrato entre o Google e cada youtuber, entre outras variáveis. Para os meros mortais, é muito provável que o valor não seja mais do que alguns dólares por mês (a receita normalmente é contabilizada a cada 1 mil visualizações). Por outro lado, qualquer pessoa que tenha um canal e faça upload de vídeos de conteúdo autoral pode participar.
Segundo o próprio YouTube, mais de um milhão de canais geram receita por meio desse programa de parceria, e milhares de canais têm receita anual de até seis dígitos. O maior youtuber do mundo, o sueco PewDiePie, por exemplo, que tem 35 milhões de inscritos em seu canal de gameplay (confira quadro) e mais de oito bilhões de visualizações, divulgou ter recebido, em 2013, 4 milhões de dólares com a atividade.


O belo-horizontino Alex Made é uma das referências brasileiras na mesma categoria de vídeos do sueco PewDiePie, a de se filmar jogando videogames, dando dicas e estratégias de como passar de fase. Ele conta que era habilidoso no jogo Call of Duty 4: Modern Warfare e resolveu mostrar táticas na rede, começando seu canal em 2011. Segundo ele, ter começado cedo foi um dos motivos do reconhecimento. "Sucesso no YouTube é algo difícil de entender, mas acho que ter começado há mais tempo fez diferença. Também sempre fui perfeccionista, trabalhador, e sabia tudo sobre o jogo que escolhi trazer para o meu canal. Um pouco de sorte também sempre cai bem, né?", diz. Hoje, Made (uma abreviação de "Made in Brazil", já que ele mora nos Estados Unidos) não faz mais apenas vídeos sobre games, mas também quadros diferentes, como responder perguntas de internauta e contar do seu dia a dia.
Devido a seu sucesso na rede, Made foi o único apresentador brasileiro da rede Machinima e, apesar de não viver apenas de sua atividade como youtuber, deve a essa experiência seu atual trabalho: gerente de parcerias estratégicas no setor de games da Google. O que não significa, claro, se aposentar da profissão original. "Mesmo trabalhando bastante por trás dos bastidores, vou continuar gravando meus próprios vídeos para o YouTube. Acho que nunca vou parar, pois amo o carinho de todos os meus inscritos", afirma.


Na época, meados de 2012, Taty estudava psicologia, mas logo começou a perceber que não teria tempo para se dedicar bem aos estudos e às atividades no blog e YouTube. "Eu ficava esgotada e no final do dia via que não havia feito nada como gostaria. Foi aí que percebi que teria de escolher entre trabalho e estudo. E, como o trabalho era o que pagava os custos do estudo, optei pelo blog e pelos vídeos", afirma. Taty não revela valores - como maioria dos youtubers de sucesso -, mas diz que a proporção de sua receita é de 60% vinda do YouTube e 40% do blog, quantia obtida com venda de espaço publicitário.
Já a jovem Bruna Vieira, referência entre meninas de 20 e poucos anos, fez o caminho contrário. Nascida em Leopoldina (MG), ela já tinha o blog Depois dos Quinze há três anos, quando percebeu que o YouTube estava crescendo e que seu público estava interessado na plataforma. No final de 2011, decidiu ir para lá também. "Gravava conteúdos que já fazia em texto no blog, mas é um formato diferente, que proporciona uma proximidade interessante entre o blogueiro e o público", diz.


Antes mesmo de completar 20 anos, Bruna já tinha conseguido, com a receita de seu trabalho na internet e dos livros, comprar um apartamento em São Paulo. "Sou muito grata por poder trabalhar com o que amo. A internet tornou isso possível e eu gosto sempre de lembrar o quão democrático é esse espaço. Nasci no interior e minha família não tinha condição. Tudo o que precisei foi de um computador e uma boa ideia", afirma.
Quem também migrou de outra rede para o YouTube foi o fenômeno do Vine (plataforma de vídeos de seis segundos) Lucas Rangel. Com mais de 1,1 milhão de seguidores, ele é o viner mais seguido da América Latina. Seus esquetes sobre situações corriqueiras, como brigas entre mãe e filho ou problemas de aluno com professor, tornaram-se virais e fazem sucesso não só entre os jovens, mas também entre os adultos. "Mães e pais adoram. Eu não falo palavrão, o que eles gostam, e retrato situações pelas quais todo mundo já passou, então é fácil se identificar", afirma Lucas.
O garoto de BH tem vários fã-clubes, e as meninas enlouquecem em sua presença. Antônio Alex Rangel, seu pai e empresário, pediu encarecidamente que o bairro onde Lucas mora com a família não fosse divulgado nesta matéria, porque, segundo ele, as meninas descobrem o endereço, tocam a campainha e esperam o garoto sair para tirar fotos ou segui-lo até a escola. A Rangel-mania é tamanha que, na festa que Lucas deu em comemoração à marca de um milhão de seguidores no Vine - um ano depois de ter entrado na rede -, os ingressos (abertos ao público e comprados via internet) acabaram em três minutos. E não só ele faz sucesso: seu cachorro, que aparece de vez em quando nos vídeos, tem seu próprio Instagram, com nada menos que 150 mil seguidores.


Lucas, que se formou no ano passado no ensino médio, pretende estudar publicidade, mas resolveu não prestar vestibular neste ano, porque a agenda não permite. Isso porque as empresas ficam de olho nas tendências web e não perdem a oportunidade de fazer uso de tamanha influência digital. Por isso, Rangel já teve contratos com mais ou menos 50 marcas, desde pequenas startups de aplicativos que querem divulgar seu produto entre os brasileiros até grandes empresas internacionais e nacionais, como Coca-Cola, McDonald’s, Disney e Bradesco. Para essas instituições, Rangel faz conteúdos de merchandising, que mescla com seus vídeos de conteúdo autoral. "O público não gosta se você faz muito merchand. Eles querem os vídeos pessoais, então é preciso medir, senão você perde audiência", afirma.

O crescimento foi tamanho que com poucos meses no canal Camila já foi procurada para fazer vídeos e posts patrocinados, além de ter fechado contrato com uma rede. Por tudo isso, ela não tem planos de entrar na faculdade, por enquanto. "Alguns familiares me mandavam entrar logo na graduação e parar com essa ‘bobagem’. Mas é algo que faço seriamente e, no momento, é minha profissão."
E quem pode culpar os jovens youtubers por fazerem o que gostam, por se divertirem e ainda ganharem fama e dinheiro? Quem também não quer?

Não só os jovens de 20 e poucos anos fazem sucesso no YouTube. Alexandre Dias Generoso, mais conhecido como ADG, encontrou um nicho frequentado também por pessoas nascidas antes da era digital. No Canal High Torque, o ex-taxista, mecânico e empresário posta vídeos explicativos de consertos de carro e do dia a dia de sua oficina, bem como séries de programas patrocinados por marcas, como a série de bastidores da Fórmula 1.
A ideia, que começou apenas como forma de mostrar aos clientes as intervenções que estavam sendo feitas em seus carros, virou febre. O canal já tem quase 60 milhões de visualizações - 95% delas de homens entre 18 e 40 anos. "O público que gosta de carro é bem segmentado, mas muito fiel", diz. Por isso, segundo Alexandre, a monetização do YouTube lhe rende de três a quatro mil dólares por mês, mas o retorno também é percebido no mundo real. Hoje, 100% das pessoas que procuram a oficina o conhecem da internet, inclusive vindas de outros estados. E a agenda está sempre cheia pelos próximos dois meses. "Eu me interessei pela mecânica quando meu carro começou a dar defeito e eu queria compreender o que tinha acontecido. Desde então, percebo a necessidade de as pessoas entenderem o que se passa dentro da oficina. Quero mostrar o que é feito no carro, desmistificar a mecânica", diz.
As filmagens, feitas inicialmente pelo celular, hoje contam com câmera full HD, e a oficina foi totalmente reformada, com equipamentos mais modernos e visual mais clean. Os mecânicos da oficina participam sempre dos programas e, por isso, têm contrato de imagem.
Quanto à predominância jovem na plataforma, Alexandre não se amedronta: "Em determinados segmentos, é preciso ter experiência, caso da mecânica", diz. "Claro que os jovens têm mais facilidade para absorver as novidades tecnológicas, mas eu já estou ligado nesse meio há muito tempo", afirma ele, que está no YouTube desde 2006.