
Há pouco mais de 20 anos, o uso de órteses e próteses só era admitido se tivessem a função de melhorar a qualidade de vida dos seres humanos. As únicas opções disponíveis para animais que apresentavam deficiência física eram a perda total ou parcial do membro e, nos casos mais graves, a eutanásia. Ao verificar a morte de bichos saudáveis com potencial para se recuperar, especialistas começaram a questionar se não havia outras possibilidades para lhes resguardar a vida. Apesar de ainda hoje o assunto ser pouco divulgado e as técnicas estarem em processo contínuo de aprimoramento, as possibilidades se ampliaram e o índice de tentativas bem-sucedidas também.

A dúvida que fica, no entanto, é como vencer o desafio de fazer com que o animal aceite que um objeto estranho passe a fazer parte do seu corpo. Outro fator complicador é a diversidade de tamanhos e anatomias apresentadas, além das diferenças fisiológicas, tendo em vista que tanto animais domésticos quanto silvestres podem ser contemplados. Como eles não sabem falar, os ajustes são feitos com base nas informações dadas pelos proprietários e no acompanhamento clínico do paciente. Contudo, parte fundamental para o sucesso da reabilitação é a fisioterapia animal, seja em membros já amputados seja para aqueles que serão retirados após algum tratamento. "Consideramos fatores como descarga de peso sobre a prótese, dessensibilização do coto para encaixe correto e sem dor, firmeza na movimentação e adaptação gradativa do animal para que não adquira nenhum trauma durante todo o processo", diz Brenda Costa Silva, especialista em fisioterapia veterinária da Vetsociety. Segundo ela, quando a prótese é colocada de forma errada ou precipitada, os danos para o animal são ainda maiores, pois passa a carregar mais um peso que acaba sobrecarregando outras áreas. "É fundamental o conhecimento da anatomia de ossos, músculos, articulações, nervos e vasos, pois são esses os parâmetros iniciais para a avaliação de um candidato à reabilitação", diz ela.

Apesar da complexidade do tratamento, a evolução tecnológica possibilitou que não só cães e gatos, mas inúmeras espécies fossem beneficiadas com as próteses, entre elas aves, cavalos, golfinhos e até elefantes. No Brasil, desde 2015 o grupo Animal Avengers utiliza próteses scaneadas, moldadas e impressas em impressoras 3D para salvar animais silvestres. Com integrantes de vários estados, a equipe conta com profissionais de diferentes áreas, de veterinários especializados a cirurgião-dentista. Em Belo Horizonte, há oito anos órteses e próteses são feitas em polipropileno pelo laboratório Lopa. O custo inicial é de 450 reais e varia de acordo com as particularidades de cada indivíduo. "A procura na área tem aumentado, tanto que temos clientes de várias cidades e estados. Sem dúvida, é mais uma chance de proporcionar qualidade de vida a animais que apresentam algum tipo de deficiência", diz a empresária Thalyta Carvalho.