Publicidade

Estado de Minas PET | SAÚDE

Animais deficientes recuperam mobilidade graças a próteses e órteses

Dispositivos ortopédicos proporcionam qualidade de vida também aos bichos, além de evitar a eutanásia


postado em 24/09/2018 14:40 / atualizado em 25/09/2018 14:19

 Mesmo sem mobilidade nas duas patas traseiras, a chow chow Mary Jane passeia diariamente e até viaja usando a cadeirinha de rodas:
Mesmo sem mobilidade nas duas patas traseiras, a chow chow Mary Jane passeia diariamente e até viaja usando a cadeirinha de rodas: "Chegaram a indicar a eutanásia, mas eu preferi me dedicar a salvá-la", diz a supervisora de vendas Fernanda Gomes, na foto com a fisioterapeuta veterinária Brenda Costa Silva (foto: Samuel Gê/Encontro)
Um pequeno descuido de um familiar, a guia solta no calçadão da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a chow chow Mary Jane, de 5 anos, saiu em disparada para a avenida. Acabou sendo atropelada. O acidente, ocorrido há dois anos, resultou em cirurgia para ajustar a coluna, mas não reverteu a lesão na medula. Sem mobilidade nas duas patas traseiras e sem controle fisiológico, o destino da cadela era incerto. Disposta a encontrar uma saída, a supervisora de vendas Fernanda Gomes Avelino de Souza buscou ajuda, iniciou várias sessões de fisioterapia e optou pelo uso de uma cadeirinha de rodas. O resultado não poderia ser melhor. Mary Jane passeia diariamente, brinca, viaja com a dona e expressa sua alegria a cada momento. "Chegaram a indicar a eutanásia, mas eu preferi me dedicar a salvá-la. É uma decisão da qual nunca vou me arrepender", diz.

Há pouco mais de 20 anos, o uso de órteses e próteses só era admitido se tivessem a função de melhorar a qualidade de vida dos seres humanos. As únicas opções disponíveis para animais que apresentavam deficiência física eram a perda total ou parcial do membro e, nos casos mais graves, a eutanásia. Ao verificar a morte de bichos saudáveis com potencial para se recuperar, especialistas começaram a questionar se não havia outras possibilidades para lhes resguardar a vida. Apesar de ainda hoje o assunto ser pouco divulgado e as técnicas estarem em processo contínuo de aprimoramento, as possibilidades se ampliaram e o índice de tentativas bem-sucedidas também.

A golden retriever Mel utiliza órtese para corrigir a curvatura da pata e melhorar sua pisada:
A golden retriever Mel utiliza órtese para corrigir a curvatura da pata e melhorar sua pisada: "No caso dela, é um recurso provisório para evitar que o problema se agrave", diz a professora Elianete Maria de oliveira (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Embora seja verdade que grande parte dos animais se adapta bem a diferentes níveis de deficiência, sejam elas motoras, auditivas ou visuais, estudos mostram que a movimentação sobre quatro patas é mais saudável para o sistema musculoesquelético, preservando ossos, músculos, tendões, ligamentos, articulações e cartilagens. Fato que justifica o surgimento dos dispositivos ortopédicos. Especialista em cirurgia e ortopedia de pequenos animais do Hospital Veterinário da UFMG, Renato Dornas de Oliveira Pereira explica que as órteses são fixadas sobre o corpo do animal, na parte externa, com o intuito de auxiliar em sua locomoção ou imobilizar a região afetada no tempo necessário para a sua recuperação. Já as próteses são substitutos artificiais de partes do corpo que foram perdidas ou tiveram sua função comprometida. "As próteses ortopédicas podem ser externas, como as utilizadas em membros amputados, ou internas, muito usadas em cirurgias de substituição de articulações", diz  o veterinário.

A dúvida que fica, no entanto, é como vencer o desafio de fazer com que o animal aceite que um objeto estranho passe a fazer parte do seu corpo. Outro fator complicador é a diversidade de tamanhos e anatomias apresentadas, além das diferenças fisiológicas, tendo em vista que tanto animais domésticos quanto silvestres podem ser contemplados. Como eles não sabem falar, os ajustes são feitos com base nas informações dadas pelos proprietários e no acompanhamento clínico do paciente. Contudo, parte fundamental para o sucesso da reabilitação é a fisioterapia animal, seja em membros já amputados seja para aqueles que serão retirados após algum tratamento. "Consideramos fatores como descarga de peso sobre a prótese, dessensibilização do coto para encaixe correto e sem dor, firmeza na movimentação e adaptação gradativa do animal para que não adquira nenhum trauma durante todo o processo", diz Brenda Costa Silva, especialista  em fisioterapia veterinária da Vetsociety. Segundo ela, quando a prótese é colocada de forma errada ou precipitada, os danos para o animal são ainda maiores, pois passa a carregar mais um peso que acaba sobrecarregando outras áreas. "É fundamental o conhecimento da anatomia de ossos, músculos, articulações, nervos e vasos, pois são esses os parâmetros iniciais para a avaliação de um candidato à reabilitação", diz ela.

A boxer Amy tenta se adaptar à prótese colocada em sua pata dianteira esquerda:
A boxer Amy tenta se adaptar à prótese colocada em sua pata dianteira esquerda: "O processo de adaptação é lento, mas acredito que vamos conseguir", diz a advogada Marina Martins da Costa (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Há pouco mais de um mês, a boxer Amy, de 2 anos, tenta se adaptar à prótese colocada em sua pata dianteira esquerda. Atropelada em 2017, acabou perdendo o membro em consequência de uma infecção. "Ela ainda não identifica o objeto e tenta retirá-lo de qualquer forma. O processo de adaptação é lento, mas acredito que vamos conseguir", diz a advogada Marina Martins da Costa, da cidade de Itabira. Alguns problemas genéticos como displasia também podem levar ao uso dos dispositivos ortopédicos. Mel, golden retriever de 1 ano e meio, utiliza órtese para corrigir a curvatura da pata e melhorar a pisada. "No caso dela, é um recurso provisório para evitar que o problema se agrave", diz sua tutora, a professora Elianete Maria de Oliveira.

Apesar da complexidade do tratamento, a evolução tecnológica possibilitou que não só cães e gatos, mas inúmeras espécies fossem beneficiadas com as próteses, entre elas aves, cavalos, golfinhos e até elefantes. No Brasil, desde 2015 o grupo Animal Avengers utiliza próteses scaneadas, moldadas e impressas em impressoras 3D para salvar animais silvestres. Com integrantes de vários estados, a equipe conta com profissionais de diferentes áreas, de veterinários especializados a cirurgião-dentista. Em Belo Horizonte, há oito anos órteses e próteses são feitas em polipropileno pelo laboratório Lopa. O custo inicial é de 450 reais e varia de acordo com as particularidades de cada indivíduo. "A procura na área tem aumentado, tanto que temos clientes de várias cidades e estados. Sem dúvida, é mais uma chance de proporcionar qualidade de vida a animais que apresentam algum tipo de deficiência", diz a empresária Thalyta Carvalho.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade