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Estado de Minas CRÔNICA

Beleza de verdade, por Paula Pimenta

"Acho que quem julga e divulga defeitos alheios deve ter uma vida tão entediante que até sobra tempo pra observar e invejar a dos outros"


postado em 22/10/2019 15:08

"Na verdade, beleza é algo relativo. O que é bonito para mim pode não ser para você. E que bom que é assim, senão o mundo seria um lugar extremamente chato" (foto: Pixabay)
Um novo livro do autor Scott Westerfeld acaba de ser lançado. Fiquei feliz com a notícia, pois gosto do autor desde que li Feios, sua obra mais conhecida. Nessa história, ao completar 16 anos todas as pessoas são submetidas a uma cirurgia para deixarem de ser feias... Após a operação, elas se tornam perfeitas. Com isso, todas iguais. Nenhuma imperfeição, nenhuma característica única, nenhuma peculiaridade.

Volta e meia eu me pego pensando se o nosso mundo fosse assim. Se ao nosso redor só existissem pessoas lindas. Será que não ia ser cansativo? Não é exatamente nos defeitos que está a graça?

Na verdade, beleza é algo relativo. O que é bonito para mim pode não ser para você. E que bom que é assim, senão o mundo seria um lugar extremamente chato.

Quando eu tinha 16 anos, era apaixonada por um menino que tinha o nariz um pouco grande. Mas ele era tão fofo, que eu nem ligava. Era o charme dele. Eu não queria o garoto mais lindo da escola, que parecia um modelo. Eu queria aquele que aos meus olhos era o mais interessante. Aquele que era o mais lindo para mim.

Mas não é todo mundo que pensa assim. Lembro do caso de uma menina, ocorrido anos atrás, que sofreu um “cyberbulling” violento porque tinha as sobrancelhas muito grossas. O nome dela foi parar até nos “trending topics” do Twitter. Algumas poucas pessoas a defenderam, mas a maioria dizia que ela merecia a humilhação, pois precisava mesmo pinçar as sobrancelhas. Ela era uma menina comum, como tantas outras de 11 anos. Só que, de repente, alguém achou que era engraçado roubar uma foto dela e postar nas redes sociais o defeito que ele via. E, a partir daí a garota ficou famosa, infelizmente por algo que eu imagino que renderá um trauma.

Que mundo é esse em que estamos vivendo, no qual menininhas, em vez de brincar sem preocupações, precisam estar atentas tão novinhas à aparência? Lembro que, quando eu tinha 11 anos, não estava nem aí para isso. Eu era baixinha e gordinha... mas muito feliz! Tinha uma família amorosa, muitas amigas, e era isso que importava. Só uns três anos depois é que a vaidade bateu à minha porta e eu comecei a prestar atenção no cabelo, no peso, na pele, nas unhas, nas roupas... e nunca mais parei. A preocupação com o visual é tão inerente à vida feminina que fazemos isso sem sentir. Faz parte de ser mulher. Mas, hoje, as meninas têm de crescer à força, sob o risco de sofrerem bullying.

Em minha opinião, as pessoas que mais se destacam são exatamente as que têm algo incomum, que não se rendem aos modismos, que gostam do que têm. Inclusive, temos atrizes lindas que se orgulham de suas sobrancelhas grossas. Alguém tem coragem de dizer que a Malu Mader e a Lily Collins são feias?

Acho que quem julga e divulga defeitos alheios deve ter uma vida tão entediante, que até sobra tempo pra observar e invejar a dos outros. Se essas pessoas fossem tão perfeitas e especiais, garanto que não estariam escondidas atrás de um computador, preocupando-se com as “supostas” imperfeições dos outros.

São as atitudes que nos definem. Pessoas preconceituosas, mal educadas e que gostam de falar mal dos outros... nem com todas as cirurgias plásticas do mundo ficam bonitas!

Na história A Bela e a Fera, o príncipe era uma dessas pessoas. Maldoso e egoísta, ele se achava melhor que todo mundo. Até que foi enfeitiçado e virou um monstro, refletindo exatamente como era por dentro. Enquanto ele não aprendeu a ser bom e gentil, para que pudesse ser amado, o feitiço não se quebrou.

Ao contrário da sociedade do livro que citei no começo, seria mais interessante se - em vez de operarem para ficar bonitas - todas as pessoas se tornassem feias da noite para o dia. Assim, teríamos de cuidar e focar no que realmente importa, na verdadeira beleza. A que existe dentro de cada um de nós.  

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