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Estado de Minas ARQUITETURA

Colégios de BH investem em espaços modernos para o ensino

Instituições novas e até centenárias apostam em propostas pedagógicas mais atuais, que consideram diversas formas de aprender e o protagonismo do aluno no processo


postado em 01/10/2019 01:38 / atualizado em 01/10/2019 02:25

(foto: Violeta Andrada e Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Violeta Andrada e Alexandre Rezende/Encontro)
Quatro paredes que formam uma sala sóbria, com janelas altas, acima do nível de visão dos alunos. Carteiras enfileiradas, uma atrás da outra. Quadro lá na frente e professor em cima do palanque. Esse é o formato da sala de aula tradicional - e que é chamada de tradicional por um motivo: é a mesma há séculos. O que é algo trivial, parte constituinte e fundamental de toda e qualquer escola, está sendo cada vez mais repensado. À medida que pesquisadores, educadores e desenvolvedores de políticas públicas têm se debruçado (em maior ou menor grau, dependendo do caso) sobre o que há de mais atual em termos de construção de conhecimento e das diversas maneiras de educar, nem as escolas tradicionais puderam ficar de fora de mudanças até no ambiente escolar.

"A escola é fruto do tempo histórico em que ela se encontra", diz Manu Bezerra, mestre em educação e pedagoga certificada como Google Innovator (programa da empresa americana que reúne pessoas que incentivam a inovação na área de educação). "A sala de aula tradicional segue uma proposta de escola mais linear, setorizada, disciplinadora", explica. Para Manu, cada vez mais estamos em um movimento de pensar o processo de aprendizagem centrado no aluno, considerando que o conhecimento acontece na troca, que pode se dar de diferentes maneiras. "Por isso, é urgente pensar novos formatos, oferecer ambientes que favoreçam outras formas de aprender." A tecnologia tem acelerado esse processo, tanto pelo acesso fácil e rápido à informação presente na internet quanto pela organização em redes dos jovens, reforçada pela presença em mídias sociais.

Especialistas alertam que não adianta nada investir em espaços bacanas, inovadores, sem que a intenção pedagógica por trás esteja no mesmo caminho. "Na foto do Instagram, a escola vai ficar linda, passa a imagem de modernidade, inovação. Mas, se o ensino continuar o mesmo, esse espaço não cumpre a função", diz Manu. Visitamos escolas de BH que estão de olho nessa questão.

Casa Fundamental

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
A escola, localizada no bairro Castelo, foi construída em um antigo galpão, transformado em instituição de ensino pelos arquitetos Marcos Franchini, Gabriel Castro e Pedro Haruf. O projeto foi vencedor na premiação de arquitetura do Departamento de Minas Gerais do Instituto de Arquitetos do Brasil, na categoria Edifícios para fins Religiosos, Atividades Sociais, Institucionais, Culturais e Educativas. Segundo uma das fundadoras e diretora de inovação, Maria Carolina Mariano, a ideia do espaço era dar conta do conceito que a Casa Fundamental tem de aprendizado. "Existem várias formas de aprender e na escola os alunos teriam diversas experiências de aprendizagem", diz. "O espaço físico tinha de sustentar essa perspectiva." Por isso, os arquitetos optaram por espaços abertos, salas amplas, multiplicidade de materiais (vidro, ferro, madeira, concreto) e privilegiaram a luminosidade natural. "É importante a criança ver a mudança da textura do dia, a passagem do tempo, a chuva, dias claros, nublados", afirma Maria Carolina. Se os pais às vezes acham que os alunos perdem o foco por tanta "distração", ela diz que é o contrário. "Eles desenvolvem o foco e a escolha por aprender." Logo na entrada, uma arquibancada e um escorregador chamam atenção. "A arquibancada é ao mesmo tempo palco, sala de aula, espaço de brincadeira e abriga crianças e adultos", diz. Outro espaço-xodó da casa é o laboratório de criação, em que estudantes fazem trabalhos manuais mais simples até cerâmica, marcenaria e robótica.

Colégio Batista (Floresta)

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Por ser centenário, o colégio tem espaços bastante tradicionais de ensino. O projeto da instituição para se modernizar é ter como modelo a unidade de Sete Lagoas, que será inaugurada no ano que vem e já com uma proposta mais inovadora, dentro da educação "4.0". Segundo a arquiteta Renata Ferreira, do escritório Sinapse Arquitetura, as intervenções na sede, seguindo a mesma linha, acontecerão ao longo de um período de cinco anos. "Mudanças bruscas podem chocar professores, alunos e até os pais. Como surgiu a possibilidade de abrir a escola em Sete Lagoas, ela vai ser o modelo que também será aplicado paulatinamente nas demais unidades", diz Renata. Em Sete Lagoas, as salas têm diversos espaços para escrita, produção e projeção (em vez de apenas um quadro negro lá na frente), e há lounges entre as salas com pufes e lousas. O mobiliário garante flexibilidade de configuração e há outros ambientes de ensino, como o terraço, onde dá até para deitar. Ainda que tradicional, o colégio de BH tem, na escola de idiomas, um ambiente de aprendizado bastante inovador. É a "living house", uma cozinha aberta e sala de estar em que alunos vivenciam para aprender. Reformada recentemente, ela pode receber pequenos grupos de estudantes para ver filmes, debater e, na cozinha, botar a mão na massa - até massa de cookies, como fazem os alunos do sétimo ano, na foto. Lá, material didático tradicional não entra.

Bernoulli Go

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Inaugurada este ano no bairro Santo Antônio, a unidade infantil e fundamental, anos iniciais, do Bernoulli, foi feita em uma antiga indústria. Apesar disso, não tem aspecto pesado ou sisudo. Ao contrário, chama atenção pelo grande uso de vidros, transparência (desde a fachada até as salas) e cores suaves. Dos corredores, é possível ver dentro de todas as salas, cujas paredes são de vidro de cima a baixo. Nada de janela altas, em que os alunos não se distraem porque nem conseguem olhar para o lado de fora. Também foi dada atenção especial, pelo escritório de arquitetura Studio dLux, ao mobiliário e ao formato das mesas, que permitem diferentes configurações, a depender do projeto trabalhado no momento. Além de salas de aula, há outros ambientes de aprendizado, como sala maker, cozinha pedagógica e solário (foto). "As crianças sentem que a escola foi feita pensando nelas. Queremos que se sintam totalmente à vontade para ocupá-la", diz a diretora, Andreza Félix.  O projeto foi destaque na revista Education Snapshots, da Califórnia, que publica exemplos de arquitetura educacional relevantes de todo o mundo. "É importante um olhar inteligente para a estrutura. Trazer para a pedagogia o quanto a arquitetura contribui para o aprendizado", afirma Andreza.

Santa Marcelina

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
A escola, que existe há 67 anos no bairro São Luiz, tem investido, nos últimos anos, na educação por projeto e ampliado o conceito de sala de aula, ocupadondo mais espaços, como pátios, varanda e gramados. Após reuniões do comitê de inovação pedagógica (com alunos, professores, consultores), em 2017 surgiu a demanda de novos ambientes. Por isso, neste ano, foram inauguradas duas salas maker projetadas por Marcos Franchini, Gabriel Castro e Pedro Haruf: a sala da convivência e a do fazer (onde, na foto, alunos da primeira série do ensino médio constroem ioiôs para aprender energia mecânica). O espaço tem mesas e paredes "rabiscáveis"e diferentes configurações possíveis dos alunos. "Na mesma aula, cada grupo pode estar em uma etapa da construção, pois, dentro do processo de aprendizado, cada um tem seu tempo e juntos eles podem suprir os gaps uns dos outros", diz a coordenadora pedagógica do ensino fundamental 2 e ensino médio, Maria Luiza Borges Castro Campos.

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