O restaurante rodeado por um lindo jardim está de novo na ativa. Mas agora com uma diferença. Ele divide espaço com um ateliê de cerâmicas. "Desde criança me interesso por artes plásticas e a cerâmica surgiu meio que por acaso", conta Abrahão. Na década de 1980, ele tinha uma loja de artesanato na Savassi e resolveu investir em um forno, sem nem saber direito como funcionava. "Fui aprender a lidar com ele com a ceramista Erli Fantini." De lá para cá, a cerâmica entrou e saiu de sua vida em diversas ocasiões. Até que viu no Instagram um painel no perfil da pousada Nova Estância. Entrou em contato com a proprietária, Cleuzane Mascarenhas, e foi conhecer a técnica da corda-seca, em que sulcos impedem que as tintas se misturem. Saiu de lá numa quinta-feira e na sexta ficou sabendo do rompimento da barragem da Vale, que fez 259 vítimas, entre elas Cleuzane. "O painel que representa paisagens da Palestina e de Jerusalém, que está no meu restaurante, é dedicado à memória dela", diz Abrahão. Quando fechou a casa por causa da pandemia, se refugiou nas cerâmicas, que estão à venda por preços que variam de 15 a 120 reais. Para o chef-artista, a cerâmica tem a cultura da imperfeição. "O que parece defeito para o leigo, é o que vira beleza na cerâmica", afirma. "É como a vida. Não tem controle. Você coloca dentro do forno e nunca sabe o que vai sair."
