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Estado de Minas GASTRONOMIA

Restaurante Ateliê do Abrahão, em Brumadinho, mistura arte e boa comida

O proprietário, chef Antônio Abrahão Neto, precisou recomeçar em meio à pandemia e após a tragédia do rompimento da barragem de mineração


postado em 24/02/2021 00:45 / atualizado em 24/02/2021 00:47

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Ele até tentou. Chegou mesmo a desistir. Primeiro, foi a tragédia de Brumadinho que mexeu não só com toda a economia local, mas também com a alma dos moradores do lugarejo, localizado a pouco mais de 40 quilômetros de BH. "Foi um período muito triste, de muito estresse. Eu perdi uma amiga querida e chegou uma hora que não conseguia mais falar sobre o assunto. Aquilo realmente me devastou", diz Antônio Abrahão Neto. Foi aí que ele resolveu dar um tempo. "Mas quem disse que os clientes deixaram?", pergunta, com bom humor. Entre muitas ligações e pedidos chorosos, voltou. Começou devagar, com poucas mesas. E então veio a pandemia. Abrahão fechou as portas do bistrô árabe novamente. E de novo os clientes ligaram pedindo que ele fizesse delivery, que eles iriam até lá buscar seus preparos com aromas e especiarias orientais. E assim passaram-se seis meses.

O restaurante rodeado por um lindo jardim está de novo na ativa. Mas agora com uma diferença. Ele divide espaço com um ateliê de cerâmicas. "Desde criança me interesso por artes plásticas e a cerâmica surgiu meio que por acaso", conta Abrahão. Na década de 1980, ele tinha uma loja de artesanato na Savassi e resolveu investir em um forno, sem nem saber direito como funcionava. "Fui aprender a lidar com ele com a ceramista Erli Fantini." De lá para cá, a cerâmica entrou e saiu de sua vida em diversas ocasiões. Até que viu no Instagram um painel no perfil da pousada Nova Estância. Entrou em contato com a proprietária, Cleuzane Mascarenhas, e foi conhecer a técnica da corda-seca, em que sulcos impedem que as tintas se misturem. Saiu de lá numa quinta-feira e na sexta ficou sabendo do rompimento da barragem da Vale, que fez 259 vítimas, entre elas Cleuzane. "O painel que representa paisagens da Palestina e de Jerusalém, que está no meu restaurante, é dedicado à memória dela", diz Abrahão. Quando fechou a casa por causa da pandemia, se refugiou nas cerâmicas, que estão à venda por preços que variam de 15 a 120 reais. Para o chef-artista, a cerâmica tem a cultura da imperfeição. "O que parece defeito para o leigo, é o que vira beleza na cerâmica", afirma. "É como a vida. Não tem controle. Você coloca dentro do forno e nunca sabe o que vai sair."

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Quem vai atrás das delícias do Ateliê do Abrahão - Cerâmica e Cozinha encontra, atualmente, poucas mesas para desfrutá-las. A capacidade total é para 60 pessoas, mas a casa recebe, no máximo, 15 pessoas no almoço e no jantar de sábado e domingo. O menu tem preço fixo, R$ 78,13. De entrada, o cliente tem direito a três tradicionais pastinhas árabes, como babaganoush, coalhada seca e homus tahine, além de salada árabe, kibe cru e, claro, o pão maravilhoso que o Abrahão prepara na hora. Depois vem uma surpresinha do chef, que pode ser, por exemplo, uma sopinha de lentilhas. O prato principal varia toda semana, um dia pode ser o maklub de frango, servido com arroz com cúrcuma, e no outro o opulento ossobuco de carneiro com legumes. As sobremesas também são variadas. Como a casa só trabalha com reservas, o chef já avisa o menu do dia. E porque o preço quebrado? Para explicar, Abrahão, abre o bonito cardápio da casa. "Um amigo meu fez e contou que na Coreia do Sul todos os preços são assim, quebrados. Então ele resolveu colocar os centavos e eu mantive." E porque 13? Nesse dia fazem aniversário tanto Abrahão quanto o amigo artista. Mas não é preciso provar o menu completo para se sentir na Arábia. O chef também serve pratos a la carte. De um jeito ou de outro, o que está garantida é a viagem para o Oriente sem sair de Minas Gerais.

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