Estado de Minas SAÚDE

Diagnóstico precoce e prevenção são armas contra câncer de colo de útero

Mesmo sendo evitável, a doença ainda mata milhares de mulheres a cada ano no Brasil


postado em 06/04/2022 09:11 / atualizado em 06/04/2022 09:14

Há um ano, a gerente de relacionamento Marina Ramos Dolabela, de 39 anos, recebeu uma notícia inesperada:
Há um ano, a gerente de relacionamento Marina Ramos Dolabela, de 39 anos, recebeu uma notícia inesperada: "O câncer de colo de útero trouxe várias mudanças para a minha vida. É preciso falar disso e levar informação para que outras mulheres não passem pelo o que eu passei" (foto: Uarlen Valério/Encontro)
Em pleno século XXI, a pergunta que ainda assusta os especialistas que cuidam da saúde da mulher é por que, mesmo sendo uma doença evitável, a taxa de mortalidade do câncer de colo de útero continua alta, chegando a aproximadamente 311 mil óbitos por ano em todo o mundo. No Brasil, mais de 6 mil mulheres morrem todos os anos por causa da patologia. Vidas perdidas para a desinformação, desigualdade e preconceito, em um país que apresenta cerca de 16.700 novos casos anualmente, a maioria deles na região Norte. Segundo as estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), as regiões Sul e Sudeste ocupam,  respectivamente, a quarta e a quinta posição no ranking brasileiro de mortes.

Rara em mulheres de até 30 anos, a doença tem maior incidência na faixa etária de 45 a 50 anos, a partir da qual o índice de mortalidade aumenta progressivamente. Pesquisas apontam que a infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano) é a doença sexualmente transmissível mais frequente no planeta, e o risco de uma mulher ter contato com o vírus ao longo da vida chega a 80% de chances. Contudo, menos de 5% terá uma manifestação viral e apenas cerca de 1% resultará em uma lesão que levará à neoplasia maligna. O suficiente para gerar perdas irreparáveis. Muito comum, a infecção é lenta e geralmente leva a doenças locais benignas, mas que se não tratadas, causam o câncer.

Leandro Ramos, médico oncologista da Oncomed:
Leandro Ramos, médico oncologista da Oncomed: "A causa principal do câncer de colo de útero é a infecção persistente pelo vírus HPV. Se de alguma forma impedimos que haja essa infecção, evitamos que o surgimento do câncer aconteça" (foto: Uarlen Valério/Encontro)
Uma enfermidade que, de acordo com os especialistas, além de evitável também tem grandes chances de cura quando detectada em seus estágios iniciais. "A causa principal do câncer de colo de útero é a infecção persistente pelo vírus HPV. Se de alguma forma impedimos que haja essa infecção, evitamos que o surgimento do câncer aconteça", explica o médico Leandro Ramos, oncologista da Oncomed, clínica especializada na prevenção e tratamento de câncer. No mês de março, em que também é celebrado o Dia Internacional da Mulher, as campanhas de prevenção do Câncer de Colo de Útero são reforçadas, lembrando a importância da conscientização para o combate do terceiro câncer mais frequente nas mulheres brasileiras, ficando atrás apenas do câncer de mama e câncer do intestino (colorretal).

Considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos problemas mais sérios de saúde pública a serem enfrentados em 2022, há dois anos a entidade lançou estratégia global para a eliminação da doença, apoiada pela Assembleia Mundial da Saúde. Desde então, a recomendação é de que 70% das mulheres em todo o mundo sejam avaliadas regularmente, por meio de teste de alto desempenho, e que 90% delas recebam tratamento adequado. Aliando conscientização e vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), a estratégia visa prevenir mais de 62 milhões de mortes nos próximos 100 anos. "É preciso investir também na prevenção terciária, oferecendo tratamento do câncer invasivo em qualquer idade, garantindo acesso a cirurgia ablativa, radioterapia e quimioterapia, conforme o estadiamento da doença", alerta a médica ginecologista Maria de Fátima Dias de Sousa Brito, do Instituto Orizonti.

A médica ginecologista Maria de Fátima Dias de Sousa, do Instituto Orizonti:
A médica ginecologista Maria de Fátima Dias de Sousa, do Instituto Orizonti: "É preciso investir também na prevenção terciária, oferecendo tratamento do câncer invasivo em qualquer idade, garantindo acesso a cirurgia ablativa, radioterapia e quimioterapia, conforme o estadiamento da doença"  (foto: Divulgação)
Para se prevenir, a orientação é sempre utilizar preservativos e investir na vacinação da população mais jovem. Meninas de 9 até 14 anos de idade têm um calendário vacinal bem estabelecido pelo Ministério da Saúde, assim como garotos de 11 a 14 anos. Contudo, em 2020, apenas 55% das meninas brasileiras tomaram as duas doses da vacina contra o HPV. Vale ressaltar que mesmo as mulheres vacinadas, com idade entre 25 e 64 anos, e sexualmente ativas, devem fazer o exame preventivo (Papanicolau) para avaliar a existência de alguma alteração relacionada à infecção. Os dois primeiros exames devem ser realizados anualmente e os demais repetidos a cada 3 anos. A importância do exame é fazer a detecção rápida das lesões que são passíveis de tratamento e cura.

Anita Azevedo, médica oncologista do Hospital Felício Rocho:
Anita Azevedo, médica oncologista do Hospital Felício Rocho: "Estratégias eficazes de rastreamento e campanhas de vacinação foram capazes de reduzir em 80 a 90% a mortalidade em países desenvolvidos, como o Canadá" (foto: Divulgação)
Há um ano a gerente de relacionamento Marina Ramos Dolabela, de 39 anos, recebeu uma notícia inesperada. Por conta da pandemia, havia deixado de fazer o exame preventivo para o câncer de colo de útero. Quando retornou ao médico, o resultado apresentou uma pequena alteração, mas foi a biópsia que confirmou o diagnóstico. "Foi assustador. A gente nunca imagina que vai passar por isso", diz ela. Após alguns meses encarando uma rotina de tratamento pesada, com quimioterapia uma vez por semana, radioterapia 37 dias consecutivos e algumas sessões de braquiterapia, Marina celebra a vida e faz questão de alertar sobre a doença. "O câncer trouxe várias mudanças para a minha vida. É preciso falar disso e levar informação para que outras mulheres não passem pelo o que eu passei". Mãe de uma menina de nove anos, ela já se prepara para vaciná-la contra o HPV.

Os especialistas alertam que entre os principais fatores de risco para o Câncer de Colo de Útero estão o início precoce da vida sexual, assim como a multiplicidade de parceiros e a adesão ao tabagismo. Vencer o preconceito e a desinformação é outro desafio para o combate à doença. Apesar da efetividade da vacina, muitos pais acabam hesitando em levar as filhas para vacinar temendo estimular a sexualidade precoce, o que acaba as deixando desprotegidas. "Estratégias eficazes de rastreamento e campanhas de vacinação foram capazes de reduzir em 80 a 90% a mortalidade em países desenvolvidos, como o Canadá", diz a médica oncologista Anita Azevedo, do Hospital Felício Rocho.

A psicóloga meire Rosi Cassini:
A psicóloga meire Rosi Cassini: "Quanto mais pessoas informadas e esclarecidas sobre o câncer de colo de útero, menos sofrimento teremos e mais vidas serão salvas" (foto: Divulgação)
O câncer de colo de útero é um problema de saúde pública que não afeta apenas a mulher, mas também todas as pessoas próximas a ela, como amigos e familiares. Muitas vezes, por temer o abandono, a rejeição pelo companheiro e o julgamento da sociedade, elas preferem não falar sobre a doença, esquecendo-se de que são as principais vítimas. "Quanto mais pessoas informadas e esclarecidas sobre o câncer de colo de útero, menos sofrimento teremos e mais vidas serão salvas", diz Meire Rose Cassini, psicóloga do serviço hospitalar do Hospital Felício Rocho. A OMS alerta que se não houver um esforço mundial para controle da doença, espera-se um aumento de 30% dos casos até 2030.

Fatores de risco para o câncer de colo de útero:

  • Início precoce de atividade sexual e multiplicidade de parceiros sexuais

  • Tabagismo e fatores imunológicos

  • Uso de contraceptivos orais em longo prazo e o uso irregular de preservativo

  • Baixas condições socioeconômicas, multiparidade (partos não cirúrgicos), deficiências nutricionais e outras infecções genitais causadas por agentes sexualmente transmissíveis

Principais sintomas do câncer de colo de útero:

  • Dor e/ou sangramento durante a relação sexual

  • Corrimento vaginal fétido

  • Surgimento de pequenas verrugas na região genital

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