
Uma dessas lembranças me leva para as férias de muitos anos atrás (melhor nem contar quantos). Naquela época eu ainda tinha tempo para escrever em diários, o que é muito bom, pois assim posso reviver cada detalhe de um certo verão, o que eu passei antes do meu primeiro ano do ensino médio.
Em janeiro daquele ano, todos os adolescentes (que eu conhecia) de BH consideravam apenas duas opções. A primeira era viajar para Cabo Frio. Caso não fosse possível, partiam para a segunda... Ir para o Minas Tênis Clube II.
Eu não viajei por castigo (notas baixas), então tive que me contentar com o clube... Mas foi nessa época que descobri que o ditado que diz que "há males que vem pra bem" não é apenas uma frase que algum fracassado inventou depois de não conseguir algo que queria... Afinal, não ter viajado naquelas férias, de certo modo, mudou a minha vida. E para melhor.
A verdade é que naquele começo de ano as coisas não estavam muito boas para mim. Além de não viajar, os meus pais estavam se separando, eu ia mudar de escola, e havia tido minha primeira desilusão amorosa três meses antes. Realmente aquela não foi a melhor época da minha existência...
Então, eu estava lá, sozinha naquele clube imenso, imaginando o que seria de mim sem as minhas amigas da escola antiga, quando eu vi uma pessoa conhecida, a Marina, uma amiga de infância da minha prima. Eu a cumprimentei, só por educação, e contei que iria mudar para o colégio dela, só para ter alguma coisa pra falar... Mas a menina era tão social e animada, que adorou a novidade, falou que ia me enturmar, torceu para que eu ficasse na sala dela... E então eu a encontrei no Minas novamente no dia seguinte. E no outro. E em todos os outros daquelas férias. Ela me apresentou para mais gente e, ao final do mês, eu já conhecia vários colegas da nova escola, mesmo antes de as aulas começarem.
Mas isso não foi tudo. Tinha um menino no clube... Você deve estar pensando: "Claro que tinha um menino no clube, todo clube tem vários meninos...". Sim. Mas aquele menino, para mim, se destacava no meio dos outros. Talvez porque ele era lindo. Talvez porque era amigo do namorado da minha prima. Talvez porque pertencia à turma dos meninos mais “paquerados”, que atraíam mais olhares, mas ao mesmo tempo parecia ser o mais quieto entre eles (eu sempre tive uma queda pelos misteriosos). Ou talvez ainda porque quando a gente é adolescente, adora se apaixonar à primeira vista. O caso é que esse garoto, mesmo sem trocar uma palavra comigo, fez com que minhas férias mudassem de cor. Elas passaram de um preto e branco muito sem graça para um azul piscina, da cor dos olhos dele.
Foi nessa época que a minha tia me ensinou a paquerar. Sim, é possível se ensinar a paquerar. E eu aprendi direitinho, porque ainda hoje lembro nitidamente que ele retribuía os meus olhares... Mas eu logo percebi que o garoto devia retribuir o de todas, porque um dia, sem nenhum aviso para que eu me preparasse, ele beijou uma menina bem na minha frente! Meu coração morreu afogado no meio da piscina, mas eu descobri que corações têm mais vidas do que os gatos, porque em pouco tempo eu superei a desilusão. Talvez o que tenha ajudado seja o fato de eu ter adorado a nova escola, provavelmente porque, como eu contei, já havia conhecido muita gente de lá nas férias. Eu acabei fazendo várias novas melhores amigas. E também arrumei muitos outros amores...
E é tudo isso que hoje em dia me faz ter tantas lembranças, que já viraram muitas das minhas histórias.
Mas o mais importante é que foi naquele verão que eu aprendi que por mais que uma nuvem negra pareça estar bem em cima da nossa cabeça, tudo pode mudar de uma hora pra outra. Basta que a gente saia da sombra dela. E vá para o sol...