Estado de Minas EDUCAÇÃO

Intercâmbios para todas as idades devem crescer 100% até o final deste ano

Novos rumos na carreira e procura por experiências de vida, inclusive na terceira idade, explicam retomada do setor paralisado durante a pandemia


postado em 17/11/2023 02:03

(foto: Freepik)
(foto: Freepik)
"2023 e 2024 são os anos do intercâmbio." A afirmação é de Christina Bicalho,  vice-presidente da Student Travel Bureau (STB), consultoria especializada em educação internacional. A alta expectativa pode ser explicada pelos resultados do setor que, em 2022, conseguiu retomar o número de viajantes no exterior no patamar do período pré-pandemia e, para 2023 e 2024, projeta resultados de crescimento no comparativo com 2019. No primeiro trimestre deste ano, a procura por intercâmbio para cursos de idiomas no exterior cresceu 60% na comparação com o mesmo período de 2022, com uma estimativa de aumento em 100% no fechamento do ano, segundo levantamento divulgado pela STB.

No comparativo com o período pré-pandemia, a procura de brasileiros interessados em fazer intercâmbio em outros países, seja para curso de idiomas, seja ensino médio (high school) ou até mesmo uma graduação e pós fora do país cresceu 30% no ano passado, sendo Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Irlanda os destinos mais procurados. "Na pandemia, tivemos 100% de queda nos intercâmbios, com paralisação total. Além disso, quem estava fora naquele período quis retornar ao Brasil", diz Christina Bicalho. Segundo ela, a STB, que atua desde 1971 no segmento de educação internacional, ficou um ano sem enviar alunos para o exterior, e os que estavam voltaram para terminar a pós-online. "Agora, o mercado está sentindo a demanda represada da pandemia, com alguns programas de intercâmbio com aumento de até 45% na procura, como os voltados à graduação e pós-graduação."

Sérgio Fulgêncio, diretor da Green Intercâmbio:
Sérgio Fulgêncio, diretor da Green Intercâmbio: "Em 2022, quando as pessoas se sentiram seguras em retomar as viagens, o público foi igual ao de 2019, diferentemente de outros momentos em que o setor foi impactado e demorou a retomar, como no atentado de 11 de setembro" (foto: Divulgação)
Para a Green Intercâmbio, que atua há 50 anos no segmento em Minas Gerais, a paralisação durante a pandemia também foi total, mas a retomada vem surpreendendo. "Em 2022, quando as pessoas se sentiram seguras em retomar as viagens, o público foi igual ao de 2019, diferentemente de outros momentos em que o setor foi impactado e demorou a retomar, como no atentado de 11 de setembro", afirma o diretor Sérgio Fulgêncio. Em relação a 2022, este ano já registrou um aumento de 30% na venda de intercâmbios. "Para 2024, temos expectativa de aumento de 50% em relação a 2022, em todos os grupos que atendemos."

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio, mais de 450 mil brasileiros fizeram intercâmbio em 2022. Na análise da STB, a pandemia despertou ainda mais o interesse das pessoas em buscarem novas experiências. "Com as fronteiras abertas e a diminuição de barreiras para ir ao exterior, as pessoas retomaram seus projetos anteriores e voltaram a investir na educação internacional, a fim de construir um currículo global e ampliar as oportunidades de atuação para além do Brasil", diz Christina.

Christina Bicalho, vice-presidente da Student Travel Bureau (STB), consultoria especializada em educação internacional:
Christina Bicalho, vice-presidente da Student Travel Bureau (STB), consultoria especializada em educação internacional: "O mercado está sentindo a demanda represada da pandemia, com alguns programas de intercâmbio com aumento de até 45% na procura, como os voltados à graduação e pós-graduação" (foto: Divulgação)
Com 24 anos, a mineira Júlia Lara Gabriel está em sua terceira experiência como estudante no exterior e sentiu os impactos da pandemia nos planos. Em 2020, ela planejava um intercâmbio para o Canadá, mas viveu incertezas em função dos impedimentos sanitários da Covid e também da alta dos preços. "Era muito incerto se eu conseguiria ir. Cheguei ao Canadá em janeiro de 2022 e tive de fazer quarentena obrigatória", afirma. Ela lembra que havia menos estudantes morando juntos e as aulas no primeiro mês foram online. "Mesmo voltando ao presencial, a faculdade demorou muito para relaxar as regras sanitárias, como uso de máscaras, e a vida social foi diferente", conta.

Atualmente, Júlia está em Chía, na Colômbia, em um programa de graduação entre a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e a Universidad de La Sabana, que deverá durar quatro semestres. Ao final do período, ela estará graduada em Psicologia pelas duas universidades. "Eu gosto muito de viajar, morar fora, conhecer novas culturas, novas pessoas, mas o principal motivo foi pela oportunidade acadêmica", afirma. Júlia ressalta que ter dois diplomas em Psicologia, um em português e outro em espanhol, irá ajudá-la em oportunidades de mestrado no futuro. "Países e faculdades diferentes te dão outras visões de estudos, mercado de trabalho e abrem a mente em diversos aspectos – cultural, ambiental, acadêmico e relacional", diz ela, que também morou por seis meses dos Estados Unidos e sente as mudanças que a pandemia trouxe para o cenário de intercâmbio no mundo. "É muito interessante ver tantos europeus vindo morar em países latino-americanos. Estamos vivendo um mundo mais globalizado e mais misturado de culturas, o que é incrivelmente lindo de se presenciar."

Júlia Lara Gabriel está em sua terceira experiência como estudante no exterior:
Júlia Lara Gabriel está em sua terceira experiência como estudante no exterior: "Eu gosto muito de viajar, morar fora, conhecer novas culturas, novas pessoas, mas o principal motivo foi pela oportunidade acadêmica. Países e faculdades diferentes te dão outras visões de estudos, mercado de trabalho e abrem a mente em diversos aspectos %u2013 cultural, ambiental, acadêmico e relacional" (foto: Arquivo pessoal)
A procura por novas experiências e a possibilidade de conciliar o emprego com uma vida em um novo país são os principais motivos que, na visão da vice-presidente da STB, Christina Bicalho, contribuíram para o aumento na procura por intercâmbios pós-pandemia. "No pós-Covid, houve uma mudança de mentalidade de como fazer intercâmbio. As pessoas identificaram a possibilidade de trabalhar morando em outra cidade ou país, ou seja, passaram a fazer o intercâmbio conciliado com o seu emprego", afirma. Por isso mesmo, a STB vem identificando um novo perfil de intercambistas: pessoas de 25 a 35 anos, que já têm uma profissão definida, mas querem ampliar a atuação e se especializar. "É um público já iniciado em uma carreira, e com o foco de se especializar em alguma área da profissão. Então entram os cursos que não têm tanta força ainda no Brasil e que são mesmo uma lacuna para quem busca se aprofundar na área, como ESG, tecnologia, e cursos de aperfeiçoamento da carreira, pós-graduação, que também viabilizem aprender um idioma para além do inglês", pontua a vice-presidente da STB. A procura por Europa e Canadá aumentou, pois os governos oferecem políticas públicas para atrair esse público intercambista, permitindo a viagem com o cônjuge e até ofertando escola para filhos.

Além do público que busca cada vez mais pós-graduação, cujo tempo de permanência em intercâmbio dura de dois meses a um ano, uma nova faixa etária tem procurado cada vez mais uma experiência fora do país. O mercado já oferece pacotes voltados à terceira idade ou pessoas mais maduras, entre 50 e 60 anos. De acordo com a STB, esse público costuma buscar experiências mais curtas, de cerca de um mês, e diretamente ligadas a algum hobby, viajando para países tradicionais em assuntos como história da arte, esporte, e até mesmo culinária, como a Itália.

Já para adolescentes de 13 a 17 anos, os pacotes também permitem viagens em grupo. Segundo Sérgio Fulgêncio, da Green, as viagens com monitores e professores para destinos como Espanha, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra seguem muito procuradas. O que mudou, de alguma forma, são os preços praticados. As passagens de avião mais caras, e a inflação maior em todo o mundo, que tornam maiores valores destinados à alimentação, moradia e transporte, elevaram de alguma forma os preços do intercâmbio. "Mas nada que seja impeditivo", diz.

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