Estado de Minas MOSTRA

CASACOR Minas celebra 30 anos unindo memória e futuro na Praça da Liberdade

Em cartaz de 15 de agosto a 5 de outubro, em prédio tombado na Praça da Liberdade, exposição propõe elo entre a história de Belo Horizonte e a modernidade


postado em 13/08/2025 08:16 / atualizado em 13/08/2025 08:38

Os diretores da CASACOR Minas, Eduardo Faleiro e Juliana Grillo:
Os diretores da CASACOR Minas, Eduardo Faleiro e Juliana Grillo: "Podemos adiantar que será uma edição muito especial, possibilitando que o público vivencie diversas formas de ocupação e fruição daquele espaço", diz Eduardo (foto: Estúdio Ny18/Divulgação)
Há 30 anos, a CasaCor começou a contar sua história em terras mineiras a partir de uma outra trajetória que teve origem nos idos do século XIX, período da construção de Belo Horizonte. De forma inédita, o evento, criado em 1987 em São Paulo, chegava à capital das Alterosas em 1995 com um intuito que iria além de um simples evento de decoração. Ocupando o Arquivo Público Mineiro, uma edificação de 1895 abandonada havia 40 anos, a mostra iniciou um movimento que jogou luz a edificações históricas da cidade, atraiu uma multidão, lançou tendências até então inimagináveis e impactou, para sempre, a economia do setor. 

Hoje, três décadas depois, uma nova edição cruza, mais uma vez, passado e futuro. De 15 de agosto a 5 de outubro, a CasaCor ocupa um prédio na rua da Bahia, na Praça da Liberdade, projetado em 1938 pelo arquiteto italiano Raffaello Berti, nome responsável por mais de 200 obras na cidade, incluindo algumas edificações importantes como a sede da Prefeitura, do Minas Tênis Clube e da Santa Casa. A construção, tombada pelo patrimônio histórico e que será o edifício-sede do novo campus da PUC Minas Lourdes, apresentará cerca de 46 ambientes, assinados por profissionais da arquitetura e do design de interiores do Estado.

Responsável pela vinda da primeira edição do evento em Minas Gerais, em 1995, juntamente com o empresário Ernesto Lolato, o arquiteto João Grillo se recorda como a mostra impactou a cidade. “As pessoas saíram de lá impressionadas — ninguém nunca tinha visto uma decoração daquele jeito. Na época, era algo presente em pouquíssimas casas, e ainda assim com aquele estilo mais pesado: cortinas de veludo, móveis escuros, ambientes carregados”, lembra. Diversas inovações ficaram marcadas, como uso de LED para iluminar documentos históricos da cidade.  “Acredito que foi a primeira vez que a luz de LED foi usada dessa forma em BH — talvez até no Brasil. Isso mostra como o evento antecipou tendências e provocou transformações.”  
 
Pulando para 2025, Juliana Grillo, irmã de João e uma das diretoras da mostra atual, destaca que a escolha do prédio da atual edição, inaugurado em 1941 para abrigar o Instituto Metodista Izabela Hendrix, reforça a contínua proposta de diálogo entre arquitetura, cidade e memória: “Estamos contribuindo para contar um pouco da história de Belo Horizonte, além de evidenciar o trabalho de uma série de profissionais criativos e das empresas do segmento”, afirma. Das 30 edições, mais de 20 foram feitas em imóveis tombados ou com indicação de tombamento.
 
Edifício que recebe a CASACOR exibe traços do estilo Art Déco e experimentações estéticas consideradas avançadas nos anos 1940(foto: Casacor/Divulgação)
Edifício que recebe a CASACOR exibe traços do estilo Art Déco e experimentações estéticas consideradas avançadas nos anos 1940 (foto: Casacor/Divulgação)
“Além da importância histórica, o edifício escolhido para esta edição comemorativa se destaca por seus ambientes generosos, com pé-direito alto, uma ampla área externa, além de um pátio central que será palco de uma série de eventos e encontros ao longo da mostra”, afirma Eduardo Faleiro, também diretor da CASACOR Minas, que este ano foi desenvolvida com o tema “Semear Sonhos”. “Podemos adiantar que será uma edição muito especial, possibilitando que o público vivencie diversas formas de ocupação e fruição daquele espaço.”
 
Uma das propostas centrais desta edição será transformar os corredores do edifício, que têm mais de 50 metros de extensão e 3 metros de largura, em galerias para exposições de arte e design gráfico. O espaço externo, com áreas verdes preservadas, será utilizado para eventos, encontros e atividades abertas ao público. Já a programação gastronômica terá a curadoria da chef Agnes Farkasvolgyi. As sobremesas serão de Sá Marina, do projeto Patisserie Tupiniquim.
A CASACOR Minas 2025 será uma edição muito especial para nós”, afirma Juliana Grillo. “Comemoramos 30 anos de história em Belo Horizonte reforçando nosso compromisso com a economia local, com a cultura do morar, do bem viver e com temas fundamentais como a qualidade de vida, o design, as artes e a arquitetura”, finaliza.

 
Depoimento - João Grillo, arquiteto 
 
“Ninguém nunca tinha visto uma decoração daquele jeito”
 
O arquiteto João Grillo, diretor da TerraTile, e um dos responsáveis pela vinda da CASACOR para Minas Gerais, em 1995; mostra, naquele ano, reuniu nomes como a saudosa Freusa Zechmeister e o arquiteto Carlos Alexandre Dumont, o Carico(foto: Bárbara Dutra/Divulgação )
O arquiteto João Grillo, diretor da TerraTile, e um dos responsáveis pela vinda da CASACOR para Minas Gerais, em 1995; mostra, naquele ano, reuniu nomes como a saudosa Freusa Zechmeister e o arquiteto Carlos Alexandre Dumont, o Carico (foto: Bárbara Dutra/Divulgação )
“Me lembro que a cidade recebeu o evento com muita surpresa. Havia uma multidão. E as pessoas saíram de lá impressionadas — ninguém nunca tinha visto uma decoração daquele jeito. Na época, era algo presente em pouquíssimas casas, e ainda assim com aquele estilo mais pesado: cortinas de veludo, móveis escuros, ambientes carregados. 
 
A iluminação era um dos elementos mais surpreendentes. Até então, o que se conhecia era aquele lustre central pendurado no meio da sala. Ninguém pensava em iluminação de efeito, em luz de canto, abajur com interruptor na entrada... Projeto luminotécnico? Isso simplesmente não existia no imaginário das pessoas.
 
Um dos ambientes que mais chamou atenção foi o closet, projetado pela Jacqueline Salomão. As mulheres não queriam sair de lá. Era algo totalmente novo. A repercussão foi tão grande que, na época, a Jaqueline chegou a abrir um escritório só para projetar closets.”
 
Impacto real
 
“Lembro de uma cena curiosa: eu estava sentado no restaurante, projetado pelo Porfírio Valadares, quando meu dentista apareceu, vindo da parte superior da casa, que tinha uma escada elevada. Ele começou a me chamar lá de cima — meio exaltado. Desceu com a esposa e veio até mim dizendo: ‘Acabei de comprar um apartamento no bairro Serra. Estava tudo pronto para a mudança na semana que vem, mas agora não podemos mais mudar. Vamos ter que contratar um arquiteto. Vamos ter que comprar móveis novos. Eu ia mudar com o que tinha, mas agora vi que não dá mais pra fazer isso.’ Esse tipo de impacto foi real. Mexeu com o imaginário e com a economia da cidade. 
 
Um novo e promissor mercado
 
“E a mudança que aconteceu, desde então, é imensa. Há 30 anos, era inimaginável um advogado contratar um arquiteto para projetar seu escritório. Hoje, ninguém faz nada sem o olhar de um arquiteto ou de um designer de interiores. Isso gerou um impacto enorme na economia.
Não saberia nem dizer quantos empregos foram criados no setor ao longo dessas três décadas. Muitas indústrias surgiram. Outras, já existentes, souberam se adaptar e crescer. O comércio também acompanhou. Estamos falando de milhares de empregos e de um volume significativo de negócios. E isso é um fenômeno nacional, não apenas local.” 
 
Legado para a cidade
 
“A primeira edição aconteceu no prédio onde hoje funciona o Arquivo Público Mineiro. Quando assumimos o desafio de ocupar aquele casarão, ele estava fechado havia 40 anos. Mas sempre entendi que a CASACOR precisava, além de tudo, deixar contribuições reais para a cidade. Na época, a mostra existia apenas em São Paulo — e nunca tinha feito algo desse tipo. Mas eu quis fazer.
 
Era um imóvel icônico. Poucos sabiam, naquele tempo, que aquela foi a primeira construção erguida para a nova capital. E lá estava ele: um marco da história da cidade, abandonado por quatro décadas. Tudo isso atraiu grandes arquitetos da cidade — nomes como Carico e Freusa, profissionais renomados, que talvez não participassem de um evento puramente decorativo. Mas todos se envolveram com o desafio de devolver a vida a um espaço tão simbólico.”
 
Luz de LED?
 
“A CASACOR, claro, não restaurou o imóvel, mas fez melhorias e deixou o prédio em condições mais dignas. Pouco depois, o Iepha realizou a restauração completa. Mas o nosso principal papel foi outro: dar visibilidade ao edifício. Um trabalho belíssimo, inclusive, foi feito pela saudosa Freusa Zechmeister (arquiteta e figurinista mineira, morta em 2024), logo na entrada. Ela criou uma mesa fundida em alumínio — impressionante — onde foram expostos alguns dos documentos mais raros e importantes da cidade: a ata de fundação, a planta original de Aarão Reis...
 
Esses documentos foram iluminados com luz de LED — algo que ninguém conhecia na época. A primeira reação do Arquivo foi de preocupação, com medo de que a luz danificasse os papéis. Mas a tecnologia era nova, vinda da Itália, trazida especialmente para a mostra pela Iluminar, a pedido da própria Freusa. Não emitia calor e era ideal para esse tipo de exposição.
 
Acredito que foi a primeira vez que a luz de LED foi usada dessa forma em Belo Horizonte — talvez até no Brasil. Isso mostra como o evento também antecipou tendências e provocou transformações. A escolha daquele imóvel, portanto, se justifica. Ele era — e continua sendo — um dos bens arquitetônicos mais relevantes da cidade.”
 
30ª CASACOR Minas Gerais 
Rua da Bahia, 2020 - Lourdes   Belo Horizonte - MG 
De 15 de agosto a 5 de outubro 
Informações e ingressos: www.casacor.com.br 
 

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