
Quando a educação inclusiva deixa de ser apenas um ideal e se torna uma realidade, o futuro de jovens como Vittorio pode ser transformado. É o que está expresso no Plano Nacional de Educação (PNE), de 2008, e no Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, que consolidaram legislações anteriores e fortaleceram os direitos educacionais desse público. Encontrar instituições preparadas para garantir não apenas o acesso e a permanência, mas, sobretudo, oportunidades efetivas de desenvolvimento, é essencial tanto para estudantes com deficiência e neurodiversidade quanto para a comunidade acadêmica como um todo.
Os números mostram que a presença de pessoas com deficiência na educação básica ainda é muito maior do que no ensino superior, o que sugere uma grande evasão escolar desse público ao longo dos anos. Segundo o Censo Escolar 2023, foram registradas 1.771.430 matrículas na educação especial, sendo a maior parte no ensino fundamental, que concentra 62,9% do total (1.114.230 matrículas). Em seguida, estão a educação infantil, com 16% (284.847 matrículas), e o ensino médio, com 12,6% (223.258 matrículas). No mesmo ano, o Brasil contava com 92.756 estudantes com deficiência matriculados no ensino superior. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O acompanhamento é feito por meio do Plano Individual no Processo de Aprendizagem (PIPA), um documento que orienta os professores sobre as adaptações necessárias em sala de aula. Pode incluir desde dilação de tempo em provas até o uso de abafadores de som, para que alunos sensíveis a ruídos tenham maior conforto. “Não existe uma fórmula pronta. O que funciona para um estudante autista, por exemplo, pode não fazer sentido para outro. O segredo é ouvir, avaliar e adaptar”, diz Welber.
O coordenador lembra que o processo de inclusão ainda enfrenta barreiras, especialmente no ensino básico. “Muitas escolas privadas resistem a receber crianças com deficiência, mesmo sendo obrigadas por lei. Existe um capacitismo estrutural na sociedade que ainda precisa ser superado. Felizmente, temos instituições públicas e privadas que fazem trabalhos exemplares, mostrando que inclusão não é caridade, é direito”, ressalta. Hoje, além do UniBH, outras unidades do grupo Ânima Educação em Minas Gerais, como a Una e a Faculdade de Ciências Médicas de Vespasiano, somam juntas mais de 300 estudantes com deficiência.

Para a professora e diretora Edna Roriz, inclusão é sinônimo de oportunidade. “Cada vida transformada gera reflexos na comunidade inteira. Não se trata de escolher apenas os melhores alunos, mas de criar condições para que todos tenham chance de aprender e avançar dentro das suas possibilidades.” A diretora também diferencia inclusão de integração. Enquanto a integração obriga o aluno a se adaptar ao modelo existente, a inclusão pressupõe um projeto pedagógico flexível, que respeita ritmos e estilos de aprendizagem.

Desafios dentro das salas de aula
Para os especialistas, apesar dos avanços legais e da maior conscientização, ainda faltam preparo, estrutura e acolhimento para que a inclusão seja plena nas escolas brasileiras. A pedagoga e psicopedagoga Ângela Mathylde Soares explica que a inclusão verdadeira não se resume a garantir a presença de alunos com necessidades específicas em sala de aula. “Educação especial é diferente de inclusão. Inclusão é a capacidade de acolher socialmente, independente das dificuldades. Já a educação especial diz respeito ao suporte pedagógico diferenciado para quem precisa”, afirma. Segundo ela, um dos maiores entraves ainda é a falta de preparo dos professores. “O professor não tem suporte. Ele é jogado em um ambiente com crianças com diferentes transtornos, síndromes e dificuldades, sem a formação necessária para lidar com essa diversidade”, alerta.
A legislação brasileira garante, por exemplo, o direito a um atendente terapêutico (AT) para estudantes que necessitam de acompanhamento individual. No entanto, na prática, muitas vezes um único profissional é designado para apoiar até três crianças com condições distintas como dislexia, TDAH e autismo o que compromete a qualidade do atendimento. Outro ponto crucial é a identificação das dificuldades. “Na maioria das vezes, o professor é, de fato, o primeiro a perceber que a criança apresenta algum risco. Mas comunicar isso às famílias é delicado. Muitos pais resistem, pois ainda vivem o luto simbólico de aceitar que o filho precisa de acompanhamento especial”, explica Ângela.
