
Apesar de ser originário do Crescente Fértil, região que ia do norte da África ao Golfo Persa, o trigo só se transformou em pão no Egito. Foi na terra dos faraós que surgiu a arte da fermentação. Nos arredores das pirâmides, em pleno deserto do Saara, arqueólogos encontraram as primeiras padarias do mundo, construídas há quase 5 milênios. Era dali, de fornos ancestrais, que saiam o alimento que sustentava os trabalhadores egípcios.
O pão atravessou os séculos. Sua receita cruzou oceanos e ganhou formatos diferentes nos cinco continentes. Um legado do mundo antigo que continua alimentando os povos em pleno século XXI. É o alimento mais consumido no planeta. Segundo artigo do Commercial Baking, pelo menos metade da população mundial come pão todos os dias. É também sagrado. Quando Jesus andou pela Galileia, eram tempos de fome, conflitos e doenças. Nesse cenário, um de seus milagres mais conhecidos foi exatamente a multiplicação dos pães. Na Santa Ceia, mais uma vez, Jesus repartiu o pão com seus discípulos, em um gesto que definiu como a civilização ocidental encara esse alimento.
Depois de passar pelas mãos do Messias, o pão mudou de significado. Nos manuscritos do Mar Morto, textos bíblicos mais antigos já encontrados, o pão é citado em pelo menos 29 trechos. “Eu sou o pão da vida”, disse Ele. Ou seja, assim como a fé, o pão é o alimento para todos, independentemente da classe social. Símbolo de humildade e entrega.
Assado em fornos de pedra ou em fornos combinados turbo, o pão andou por vários caminhos. Hoje, existe um para cada tipo de fome. No Brasil, levando em conta apenas os industrializados, o alimento está na mesa de 94,7% dos lares brasileiros, segundo a Associação de Indústrias de Biscoitos, Pães e Bolos (Abimapi). E assim como em outras áreas da gastronomia, o consumidor da padaria também tem fome de novidades. Evoluir e mudar a forma de apresentar o alimento tornou-se essencial para sobreviver em um mercado dinâmico, onde o excesso de informações, com ataques ao glúten ou carboidratos – mesmo sem nenhum tipo de critério analítico – vem prejudicando a imagem do pão nosso de cada dia.
O americano William Rubel defende que criar uma definição estrita de pão é contraproducente. “O pão é basicamente o que a sua cultura diz que é”, diz em um trecho do livro Pão: uma História Global. Para ele, é preciso se concentrar no que o pão faz: transforma grãos em alimentos duráveis que podem ser transportados para os campos e armazenados no inverno.
Nas montanhas da região da Vestfália, na Alemanha, os padeiros cozinham pães de centeio densos por mais de 24 horas, enquanto o Lavash armênio feito de trigo fica pronto em 30 segundos dentro de um forno tandoor.
A diversidade é imensa. Por exemplo, segundo pesquisa do Market Datas Forecast, em setembro de 2025, o México é um dos países com mais tipos de pães no mundo, com cerca de 2 mil doces e 300 salgados. No Brasil, são mais de 100 mil padarias e quase 200 mil microempreendedores individuais na ativa. Juntos, eles empregam mais de 3 milhões de pessoas e movimentando anualmente mais de R$ 153 bilhões. “Minas Gerais ocupa uma posição de destaque no cenário nacional, sendo o 2º estado com o maior número de empresas do setor. A capital concentra 1954 padarias e confeitarias”, explica Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Panificação e Confeitaria, a ABIP.
Com a globalização, inclusive gastronômica, hoje podemos encontrar pães vindos de toda parte na padaria ao lado de casa. “É um setor vibrante e cheio de oportunidades. Temos orgulho de nossa tradição, mas também estamos abertos à inovação”, completa Paulo. Em Belo Horizonte, fizemos uma seleção de nove pães diferentões (e outros clássicos). Tem do tradicional croissant ao Nan-e-barbari. Vem ver.
Albertina – Nan-e-barbari
A origem é persa. O nome se refere aos povos bárbaros da região de Khorasan, na fronteira com o Afeganistão, como eram chamados pelos iranianos da época. “Essa receita ficou muito famosa após ser publicada no livro Hot Bread Kitchen de uma padaria novaiorquina que acolhe refugiados do mundo todo e produz vários tipos de pães provenientes de diversas culturas”, explica Renata Rocha, proprietária da Albertina Pães. É um pão muito bonito e que chama bastante a atenção. O sabor, surpreendente. Na versão da Albertina, diferente da receita original, ele é preparado com levain. “É um pão leve, macio, e salgadinho pois finalizamos com gergelim e sal grosso. Perfeito para ser compartilhado e partilhado com as mãos”, diz. Um pão de mesa, acompanha bem pastas e antepastos diversos, ou apenas um azeite temperado. Não é sempre que tem. Ele aparece na vitrine de tempos em tempos. Feito com farinha branca, levain, fermento, água e sal, uma parte da sua hidratação é feita com azeite. É trabalhoso: a fermentação é feita a frio e depois modelado em seu formato característico e finalizado com uma camada de roomaal (um pão semelhante a um lenço), gergelim e sal. Depois, é assado em lastro por 20 minutos. “Só dá para assar de seis em seis”, conta Renata.
Bonomi – Kamut

Du Pain – croissant

Verdemar – Pão delícia

Boníssima – Coffee Saveur

Saveur em francês significa sabor. “Aprendemos essa receita com um padeiro francês”, diz Luiza. É uma versão do Gran Saveur, uma mistura usada na baguete francesa que consiste em centeio e cevada, resultando em uma coloração mate.
Narjes - Pão árabe ou pita

Zaika - Naan

Ancentral Padaria – Cinnamon Rolls

BH Bakery – focaccia de zaatar
