Publicidade

Estado de Minas SAÚDE DOS OLHOS

Celular e TV podem provocar problema de vista?

Especialista alerta que, além dos olhos, o sono também é prejudicado pela "luz azul" das telas digitais


postado em 27/05/2019 00:20 / atualizado em 28/05/2019 13:42

A luz azul, proveniente de smartphones, tablets e TVs de alta definição pode provocar perda gradativa da visão, de acordo com estudo realizado nos EUA(foto: Pixabay)
A luz azul, proveniente de smartphones, tablets e TVs de alta definição pode provocar perda gradativa da visão, de acordo com estudo realizado nos EUA (foto: Pixabay)
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 35 milhões de brasileiros (cerca de 20% da população do país) possuem problemas na visão. Incluindo o mundo todo, esse número chega a 217 milhões de pessoas, de acordo com uma pesquisa da revista médica Lancet, da Inglaterra, realizado em 2017.

Por conta disso, mais de 38 milhões de pessoas devem ficar cegas até o ano que vem e quase 115 milhões até 2050, afirma o levantamento internacional do periódico científico britânico. 

Segundo a empresa alemã Zeiss, multinacional especializada em tecnologia óptica, problemas oftalmológicos podem surgir em qualquer fase da vida, aparecendo repentinamente - inclusive logo após o nascimento -, ou se desenvolvendo ao longo dos anos. 

Ainda de acordo com a companhia, as causas mais comuns de prejuízo à visão são lesões, doenças crônicas e envelhecimento. Esses fatores podem causar, principalmente, miopia, hipermetropia e astigmatismo, entre outros problemas.

Mas há, também, outro fator cotidiano que preocupa os especialistas: as telas dos dispositivos eletrônicos. Cada vez mais presentes no nosso dia a dia, os smartphones, tablets, TVs de alta definição e, até mesmo, as lâmpadas de led emitem a chamada "luz azul", que podem prejudicar a visão ao longo do tempo.

Isso já foi comprovado por diversas pesquisas científicas, entre elas uma da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. O relatório final do estudo apontou que a "luz azul" pode transformar moléculas em toxinas capazes de acelerar o processo de envelhecimento natural dos olhos, um fenômeno conhecido como degeneração macular.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse fenômeno é a terceira maior causa de cegueira, ficando atrás, apenas, da catarata e do glaucoma. A doença é um desgaste na área central da retina e pode provocar perda gradativa da visão a partir dos 50 anos de idade.

Sendo assim, Encontro fez três perguntas ao oftalmologista Ricardo Guimarães, diretor-presidente do Hospital de Olhos de Belo Horizonte, sobre como os dispositivos eletrônicos estão afetando a nossa visão.

Confira:

1) ENCONTRO - O excesso de telas está causando uma epidemia de problemas na visão? Como elas afetam nossa saúde ocular?

RICARDO GUIMARÃES - O uso cada vez mais frequente dos dispositivos eletrônicos pode ocasionar uma série de problemas de saúde. Hoje, vivemos cercados pela luz visível produzida por lâmpadas de LEDs, mas também por luzes invisíveis provenientes de radiações ionizantes e não ionizantes, ultravioleta, infravermelha, raio-x, radiofrequência, ondas de rádio, de celular e de wi-fi, por exemplo. São estímulos que podem comprometer a nossa saúde ocular e visual, o que é conhecido como síndrome da visão no computador. Há, inclusive, evidências de que os danos desta síndrome provocam lesões definitivas depois de algum tempo. 

Isso ocorre pelo fato de a iluminação artificial ser diferente da iluminação natural, à qual nosso sistema visual está adaptado. Desta forma, é natural que a exposição sistêmica à luz artificial gere desconforto e ocasione outros problemas para a nossa visão. Não conseguindo se adaptar, nossos olhos entram em estresse e isso provoca dores de cabeça, espasmos e dificuldades de focalização.

2) Quais são os problemas mais comuns causados pelos dispositivos eletrônicos e TVs de alta definição? Como identificar que algo está errado?

Os problemas mais comuns são a dificuldade de focalização, cansaço visual e fadiga, o que os oftalmologistas chamam de astenopia. Na sequência, vem a dor de cabeça, a fotofobia (hipersensibilidade á luz) e, nos casos mais graves, náuseas. No entanto, o principal dano é causado pela falta de sono ou sono irregular, o que provoca uma série de desajustes na nossa fisiologia.

Ou seja, o maior prejuízo ocorre longe do computador e do trabalho, e raramente as pessoas ligam uma coisa à outra. Esta dificuldade de sono está diretamente ligada a uma grande quantidade de luz azul presente nestes ambientes e que regula nosso ciclo circadiano, em outras palavras, nosso sono. A luz azul é responsável pela regulação de nosso relógio biológico e a exposição em excesso suprime a produção de melatonina - o hormônio do sono -, o que pode produzir lesões tóxicas na retina, dores de cabeça e fadiga ocular.

3) Uma vez que é muito difícil evitar o contato com as telas, o que pode ser feito para amenizar o impacto causado por elas? O recurso de filtrar luz azul disponível em alguns smartphones realmente pode ajudar?

A prevenção dos distúrbios visuais segue uma lógica muito semelhante à dos dermatologistas para proteção da pele contra os raios de luz considerados nocivos. Eles recomendam o uso de um protetor solar, que é um filtro espectral que impede a passagem dos raios de luz nocivos. Para a visão fazemos o mesmo, recomendamos o uso de um filtro espectral que filtra os raios indesejáveis, entre eles, a luz azul. Estes filtros são feitos sob medida para cada pessoa de acordo com o grau de exposição à luz azul, além de também filtrar outros comprimentos de onda identificados como nocivos para aquela pessoa.

Conheça as principais doenças oculares e seus respectivos tratamentos:

  • Presbiopia

    Letras impressas miúdas são um grande desafio e é necessário tomar distância para ler o texto. A leitura em ambientes com pouca iluminação exige muito dos olhos, símbolos e texto na tela de um smartphone parecem turvos e alternar a visão de objetos muito próximos para objetos distantes torna-se cada vez mais difícil.

    Tratamento: uso de lentes monofocais, nos casos de quem possui dificuldade de ver os objetos. Para quem, além da presbiopia, também tem miopia, existe um procedimento cirurgico realizado com um equipamento chamado MEL 90, que permite descartar os óculos logo após a cirurgia.

  • Miopia

    Na miopia, os objetos distantes parecem turvos e objetos muito próximos são bem nítidos.

    Tratamento: cirurgia a laser. A técnica mais moderna e menos invasiva é chamada Smile, sigla em inglês para Extração Lenticular com Pequena Incisão.


  • Astigmatismo

    No astigmatismo, objetos próximos e distantes são percebidos como distorcidos e turvos, é difícil visualizar detalhes e fontes de luz pontilhada parecem uma pequena linha ou barra. Muitas pessoas com astigmatismo também têm dificuldade de calcular distâncias corretamente.

    Tratamento: pode ser por meio da cirurgia Smile ou com o uso de óculos com lentes que possuem uma espécie de cilindro que corrige a visão turva.


  • Hiperopia (ou hipermetropia)

    Ver coisas próximas é cansativo. Para as pessoas hipermetropes, os objetivos muito próximos normalmente parecem turvos. Muito tempo lendo, realizando pequenas tarefas de manutenção doméstica ou olhando para uma tela sem a ajuda de óculos muitas vezes causa dor de cabeça.

    Tratamento: lentes monofocais ou óculos para leitura, que devolvem a nitidez à visão de objetos muito próximos.


  • Fadiga ocular digital

    A fadiga ocular digital, também conhecida como síndrome da visão no computador, se manifesta particularmente em pessoas com mais de 30 anos de idade, na forma de dor de cabeça e no pescoço, além de queimação ou excesso de cansaço nos olhos, durante ou após o uso de dispositivos digitais.

    Tratamento: uso de lentes, que podem, inclusive, ser de um tipo especial desenvolvidas especialmente para ver as telas de dispositivos eletrônicos, como smartphones e tablets. Esse tipo de lente não causa incômodo, pois seu design foi pensado para se encaixar perfeitamente nos olhos.

*Com assessoria da Zeiss

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade