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Estado de Minas SAÚDE

Saiba mais sobre a ECMO, terapia utilizada no tratamento de Paulo Gustavo contra a Covid-19

De acordo com uma especialista do Mater Dei, a técnica é fundamental em casos de falência do pulmão e do coração, porém, há contraindicações, é considerada invasiva e envolve risco de 40% de morte


postado em 13/04/2021 00:05 / atualizado em 13/04/2021 09:36

Detalhes da ECMO sendo utilizada em paciente internado no Mater Dei(foto: Mater Dei/Divulgação)
Detalhes da ECMO sendo utilizada em paciente internado no Mater Dei (foto: Mater Dei/Divulgação)
Nos últimos dias, devido ao estado de saúde do ator Paulo Gustavo, ganhou os notíciários e as redes sociais o nome de uma terapia complexa utilizada em seu tratamento contra consequências da Covid-19: a ECMO, sigla em inglês que, em tradução livre para o português, significa Oxigenação por Membrana Extracorpórea. "É uma terapia de suporte, de alta complexidade, utilizada para substituir a função pulmonar ou cardiopulmonar [coração e pulmão], por um período limitado, enquanto a doença de base é enfrentada" explica a médica Marina Pinheiro Rocha Fantini, coordenadora do programa de ECMO e da Cardiologia Pediátrica da Rede Mater Dei de Saúde.

Encontro conversou com a especialista para saber mais detalhes sobre a terapia e como ela pode ajudar a salvar vidas, não só em casos da doença provocada pelo novo coronavírus, mas também em outros problemas de saúde. Confira:

Como a ECMO funciona?

Nas situações de falência respiratória utilizamos a chamada ECMO VV [Veno-Venosa]. O sangue é retirado do corpo e direcionado à uma membrana oxigenadora do equipamento. Essa membrana funciona como um pulmão artificial: oxigena o sangue e retira gás carbônico. O sangue arterializado, ou seja, oxigenado e com pouco gás carbônico, é devolvido ao corpo na circulação pulmonar. Desta maneira, conseguimos oferecer ao organismo um sangue com qualidade, mesmo diante de uma disfunção pulmonar. Nas situações de falência cardio-pulmonar, utilizamos a ECMO VA [veno-arterial]: o mesmo sangue arterializado é devolvido ao corpo, mas, desta vez, na circulação sistêmica, na aorta. Desta maneira, o organismo recebe um sangue de qualidade com a eficiência de um coração.

Para quais outros casos é indicado a terapia e como ela ajuda os pacientes com Covid-19?

Este tratamento é indicado no suporte de doenças que causam disfunção aguda e reversível do pulmão, ou do coração e do pulmão. É importante entender que a ECMO não trata a doença. Ela oferece suporte cardio-respiratório enquanto esses sistemas estão comprometidos e ineficientes. No contexto da Covid-19, doença que pode causar dano pulmonar grave, a ECMO é utilizada para oferecer tempo ao paciente. Em algumas situações, a função pulmonar nativa do paciente é insuficiente para manter a vida. Nestas condições, a ECMO funciona como um pulmão artificial durante a fase aguda da doença.

Há contraindicações?

Sim. ECMO é contraindicada nos pacientes acometidos por doenças cuja reversibilidade do quadro de base seja improvável. No contexto Covid-19, ventilação mecânica por tempo prolongado e idade acima de 70 anos são contra indicações relativas à terapia. Algumas contraindicações são absolutas: disfunção neurológica grave, distúrbios graves de coagulação e disfunção orgânica múltipla [múltiplos órgãos ou sistemas do corpo sem funcionamento normal]. 

É considerado um procedimento invasivo?

Sim. A ECMO é uma terapia que envolve procedimento cirúrgico, trabalho multidisciplinar, terapia intensiva qualificada, monitorização em tempo integral e a atenção plena por tempo prolongado. As principais intercorrências da terapia são sangramento (interno e externo), trombose e infecção. A ECMO só deve ser realizada em hospitais que atendem alta complexidade e que estejam preparados para oferecer atendimento multidisciplinar. É necessário um CTI equipado, apoio de várias especialidades médicas, como cirurgia vascular, cirurgia torácica, nefrologia, hematologia, cardiologia e pneumologia, além de logística hospitalar, banco de sangue eficiente, laboratório disponível, grupo de enfermagem alinhado e fisioterapia atuante.

É possível dizer se há um tempo médio de duração do tratamento com ECMO?

Nas terapias de substituição pulmonar [ECMO VV], até 5 semanas. Nas terapias de substituição cardíacas [ECMO VA], em torno de 1 semana.

Pacientes que precisam do ECMO é porque já estão correndo risco alto de morte? As chances de sobrevivência aumentam significativamente?

A terapia envolve um risco de vida em torno de 40%, e memos assim quando ela é realizada por centros experientes e certificados para tal. Quando realizada por centros inexperientes e sem certificação, o risco de morte fica em torno de 80%. Quando indicada de forma precoce, quando respeitamos as contraindicações e quando é realizada por grupos com treinamento, os resultados são surpreendentes, onde conseguimos devolver para casa um indivíduo sem sequelas.

Por que a terapia é considerada rara no Brasil? Em países mais desenvolvidos ela é mais utilizada?

A ECMO não é só um equipamento, é uma terapia. Envolve material descartável de alto valor agregado, equipamentos especiais e um trabalho multiprofissional árduo, constante, capacitado e em tempo integral. Nos países desenvolvidos a terapia faz parte de um pool de procedimentos realizados em pacientes com insuficiência pulmonar ou cardiopulmonar há anos. No Brasil, a ECMO é utilizada há mais de 15 anos. Alguns trabalhos científicos já evidenciaram que o custo de um paciente em ECMO é menor do que o custo de um paciente crônico internado em CTI por tempo prolongado. A ECMO encurta o período de internação e permite uma reabilitação mais precoce do paciente.

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