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Estado de Minas ECONOMIA

Saída da Ford do Brasil vai desvalorizar os carros usados e seminovos da marca?

Entenda como a decisão afeta quem está considerando adquirir modelos que agora estão fora de linha ou já possuía um carro Ford antes da notícia


postado em 18/02/2021 00:52

O Ford Ka, um dos mais vendidos da montadora americana(foto: Ford/Divulgação)
O Ford Ka, um dos mais vendidos da montadora americana (foto: Ford/Divulgação)
A Ford anunciou no início de janeiro o fechamento de suas três fábricas no país, em São Paulo, na Bahia e no Ceará. A decisão foi uma bomba para diversos setores da economia, provoca prejuízos, acarreta um grande número de desempregados e gera incertezas no mercado, de acordo com especialistas. A Ford está no Brasil há mais de 100 anos, mas não abandona o país de vez. Segundo a empresa, trata-se de uma "mudança de foco".

A montadora optou por deixar de produzir modelos nacionais para vender apenas importados, de maior lucratividade.  Mesmo assim, para o Brasil, nada de bom. Ao longo de 2021, deve acontecer a extinção de ao menos 5 mil postos de trabalho nas fábricas fechadas. Porém, na ponta do lápis, o número de impactados é bem mais elevado. A Ford encerra a produção dos modelos Ecosport e Ka por aqui. E o queridinho jipe Troller? Este é um mercado bem seleto, e o carro tem fãs pelo Brasil, vai ficar apenas a nostalgia.

Mas, como tudo isso afeta quem está considerando adquirir um desses modelos seminovos, ou já tinha algum deles antes da notícia? A Saída da Ford do Brasil vai desvalorizar os carros usados e seminovos da marca? Especialistas concordam sobre a possibilidade de desvalorização dos veículos da montadora americana, se comparado a demais similares produzidos no país. "Nestas primeiras semanas após a notívia, nos deparamos com situações opostas. De um lado, clientes que são apaixonados pela marca buscando carros pouco utilizados e com ótimo estado de conservação, com receio de não encontrá-los mais no mercado. Do outro, pessoas querendo trocar, devido ao medo de desvalorização e falta de peças de reposição", relata Flavio Maia, diretor comercial da AutoMaia Veículos, de Belo Horizonte. "Nossa preocupação está mais concentrada nos carros com câmbio powershift, que já tinham um histórico mais acentuado de panes", acrescenta o empresário.

Segundo a KBB, empresa especializada em pesquisas de preço de automóveis novos e usados, o anúncio de suspensão da produção do KA e do Ecosport pode afetar diretamente os preços dos dois modelos. Mas Flavio Maia alerta que muitos carros da Ford já não são mais produzidos no Brasil, e o ritmo de vendas não caiu. "Como exemplo, podemos citar o New Fiesta e a família Focus. No entanto, se a demanda por clientes que desejam vender for maior do que o volume de compradores, os preços podem se ajustar para baixo", ressalta.

Na opinião de diversos especialistas no ramo automotivo, a marca é muito consolidada no mercado nacional, o que deve favorecer a manutenção de preços. A política de pós-venda da montadora, a médio prazo, será crucial para manter a imagem positiva da empresa no mercado brasileiro. "Tudo isso, por enquanto, é uma incógnita. Só o tempo nos dirá com precisão como ficará a situação", analisa o administrador.

Entenda o caso

A Ford declarou que desde 2013 vem amargando perdas, o que teria sido agravado com a pandemia. Fato é que a empresa não é mais dona do grande prestígio que tinha nas gloriosas décadas de 1960, 1970 e 1980, com o Mustang e o Del Rey. Lançado nos anos 1990 para ser um veículo de porte, pelo preço de um modelo intermediário, o EcoSport largou na dianteira como o primeiro SUV "baratinho" do mercado. Foi um grande êxito por duas décadas, até a concorrência se acirrar.

No conjunto, muitos outros fatores foram responsáveis por atribuir à Ford a má fama sobre um pós-venda fraco, com dificuldades na reposição e peças caras, e já se sabe também da alta carga de processos trabalhistas. São encalços acumulados que se tornaram rótulos negativos.

No momento, a marca passa a investir em carros vindos da Argentina e Uruguai, que têm estabelecidos acordos comerciais com o Brasil, o que facilita a entrada de modelos de alta qualidade a preços competitivos. É a vez do SUV Bronco, da nova picape Ranger, do Maverick, alguns elétricos, além do chinês Territory e outros mexicanos.

"Para quem já tem um Ford, nossa recomendação é esperar a situação se acalmar. O carro pode até desvalorizar um pouco, mas o preço não vai despencar, como muitos chegaram a pensar. Lembrando que os carros seminovos vêm em curva crescente e muitos modelos passaram por valorização após sair de linha, como, por exemplo, o Polo, da Volkswagen, em 2014", recomenda Flávio Maia.

O empresário salienta que carros pouco rodados, e em bom estado de conservação, sempre são muito procurados. Para ele, isso nunca sairá de moda. "O seminovo com até três anos de uso e baixa quilometragem tem um custo-benefício muito forte em relação ao zero km. A procura é muito grande", conclui.

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