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Estado de Minas

Do barro às esculturas


postado em 14/12/2011 06:17

A ceramista Sônia Toledo, em seu ateliê no Belvedere(foto: Geraldo Goulart)
A ceramista Sônia Toledo, em seu ateliê no Belvedere (foto: Geraldo Goulart)

Ter em casa ou no jardim uma peça da artista Sônia Toledo é sinal de status. Suas obras são tão cobiçadas que tem gente querendo até aquelas já vendidas. “Não costumo fazer obras iguais, mas se o dono deixar, eu reproduzo”, revela Sônia a uma cliente. Em sua última exposição, a ceramista recebeu uma colecionadora que escolheu vários objetos e por um deles desembolsou R$ 8 mil sem pestanejar. Tudo isso explica o quanto as esculturas criadas por Sônia Toledo são cada vez mais disputadas no mercado.

 

Trabalhar com cerâmica requer paciência e criatividade. A arte milenar exige estudos e pesquisas constantes, tanto em relação aos materiais quanto, principalmente, da técnica, já que são inúmeras as maneiras de modelar o barro.

 

Sônia Toledo preferiu se aprofundar no processo de vitrificação, que proporciona ao objeto um brilho incomum, como se fosse feito de vidro colorido. A peça, que antes era fosca e porosa, ganha sutileza e perfeição, ficando lisa e com aspecto esmaltado. Para isso, ela passa pela primeira queima, recebe uma camada de tinta especial e retorna ao forno a quase 1.300 graus. A partir daí o fogo se encarrega de fixar tons que dificilmente serão repetidos.

 

Escultura Sandra: feita de cimento
armado resinado com pátina de bronze
 

 

Em seu ateliê no Belvedere, região centro-sul de BH, além de criar as peças e fazer suas experiências em um forno que a acompanha há mais de 20 anos, a artista também recebe sua turma de alunos, ávidos pelo conhecimento de produzir cerâmica. “Gosto de ensinar, estudo e pesquiso e, por isso, diariamente estou aprendendo informações novas”, afirma a artista, que também utiliza materiais como o cimento armado resinado e o bronze.

 

Belo-horizontina, Sônia Toledo passou a infância na cidade de Mar de Espanha, na Zona da Mata. Sua história com a arte iniciou-se bem cedo. Desde pequena ela já gostava de sujar as mãos com o barro, mas o tempo passou e aos 29 anos ela redescobriu a argila em sua vida. A primeira peça, não poderia ser diferente, foi um palhaço, que a remeteria aos tempos de criança.

 

Ao longo de sua carreira, ela fez cursos em São Paulo, Curitiba, Florianópolis e, como a maioria dos artistas mineiros, também frequentou a Escola Guignard, em Belo Horizonte. No exterior, estudou no Japão e na Argentina, onde também expôs. Mas a primeira exposição foi ao lado da ceramista, professora e amiga Mary Lane Amaral, no início da década de 1980. “Aprendi muito com ela”, diz Sônia.

 

Santa Imaculada Conceição:
primeira queima policromada a frio
 

 

Durante 10 anos a escultora se dedicou a queimar a argila em baixas temperaturas. Depois de dominada a técnica, buscou elevar o conhecimento no mundo das altas labaredas. “Só então me senti verdadeiramente ceramista”, revela. Além das técnicas celadon, tenmokú, raku e cristal, a artista também se especializou na cor sangue-de-boi. “O que mais me fascina na cerâmica, além da busca da forma, é a busca das cores, a química dos óxidos, a magia das queimas. Abrir o forno com uma dessas peças é um prazer sem limites”, garante.

 

Sônia tem obras espalhadas por vários lugares de Belo Horizonte. Na Paróquia Nossa Senhora Rainha, no bairro onde mora, criou uma Via Sacra de cerâmica; no cemitério Parque Renascer, modelou uma escultura de mais de três metros de altura chamada Dor e entrega; além de alguns bustos, como o do fundador da Drogaria Araújo, Modesto Araújo, e a homenagem ao promotor assassinado no bairro Cidade Jardim, Francisco José Lins do Rêgo Santos.

 

Abajur de bichos: cerâmica com técnica de

vitrificação

 

 

Para a artista, lidar com a cerâmica a ajudou a entender mais a vida e as pessoas. “Ensinou-me a aceitar as coisas como elas são e não do jeito que eu gostaria que elas fossem. Pinto uma peça e quando ela sai é uma surpresa, não dá para adivinhar o jeito que vai ficar”, revela. Em sua trajetória de quase 35 anos de profissão, muitos temas já inspiraram a artista, como arte sacra, esculturas humanas e animais: “O mar também me fascina. Ele é meu grande inspirador”. De acordo com a artista, a próxima exposição será no primeiro semestre do ano que vem, mas ainda sem tema e data definidos.

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