Estado de Minas READY TO DRINK

Bebidas em lata conquistam o Brasil e impulsionam o mercado de drinques

Com crescimento superior a 60%, o setor de RTDs ganha força com marcas mineiras que apostam em qualidade, praticidade e sabores autênticos


postado em 15/10/2025 08:27 / atualizado em 15/10/2025 09:02

Globalmente, esse nicho deve atingir us$ 40 bilhões até 2027 (foto: Freepik)
Globalmente, esse nicho deve atingir us$ 40 bilhões até 2027 (foto: Freepik)
Os drinques em lata deixaram de ser uma novidade para se tornarem febre nacional, transformando o setor de bebidas no país. O que antes era um nicho, quase uma exclusividade do mercado de cervejas e refrigerantes, hoje movimenta milhões nos mais diversos segmentos e oferece um imenso leque de opções, impulsionado pela busca por praticidade, qualidade e novas experiências de consumo.
 
Conhecido também como RTD, sigla para o termo em ‘Ready to Drink’ (pronto para beber), este mercado vem crescendo a cada dia. No Brasil, segundo a Nielsen Scantrack, empresa global de medição e dados, a categoria cresceu mais de 60% nos últimos anos. Globalmente, esse nicho deve atingir US$ 40 bilhões até 2027, de acordo com a IWSR, consultoria de análises para a indústria de bebidas alcoólicas. 
 
Na medida em que o consumo cresce, o número de produtos ofertados também segue na mesma direção. Guilherme Drager, sócio da Equilibrista, uma das pioneiras no mercado mineiro, lembra que em 2015, apenas dez anos atrás, os drinques em lata eram raridade nas prateleiras dos supermercados. “Praticamente não existiam e, os que tinham, eram feitos pela grande indústria.” 
 
Guilherme Drager, da Equilibrista:
Guilherme Drager, da Equilibrista: "Fomos a primeira empresa de BH a levar os drinques para o modelo de lata 355ml sleek" (foto: Victor hugo Rocha/divulgação )
A Equilibrista surgiu oferecendo inicialmente sangrias e clericots em potes de vidro para o crescente cenário de eventos de rua em Belo Horizonte. A virada para o formato em lata veio para atender à alta demanda e o desejo de levar a experiência da marca para todo o país. “Fomos a primeira empresa aqui de BH a levar os drinques para o modelo de lata 355ml sleek (aquela mais fininha e comprida). Depois disso, concorrentes que usavam outros tamanhos começaram a seguir a tendência”, conta Drager.
 
O lançamento do Gingibre em barril, em 2018, e posteriormente em lata, em 2020, foi a segunda grande aposta da marca e se tornou um marco nesse mercado. A bebida, feita à base de gin e gengibre, rapidamente se espalhou por bares, eventos e supermercados de Belo Horizonte. “O Gingibre ajudou a ressignificar o conceito de drinques prontos em lata na cabeça do público”, explica Drager. 
 
Feito à base de gin e gengibre, o Gingibre ajudou a ressignificar o conceito de drinques prontos em lata para o público(foto: João H. Eugênio/divulgação )
Feito à base de gin e gengibre, o Gingibre ajudou a ressignificar o conceito de drinques prontos em lata para o público (foto: João H. Eugênio/divulgação )
Ao lado da bebida de gengibre, a ascensão deste tipo de bebida em Belo Horizonte, em grande parte, foi pavimentada por um nome que também se tornou um fenômeno: Xeque Mate. Nascida praticamente na mesma época da Equilibrista, a bebida à base de mate, rum e limão conquistou os bares e ruas da capital mineira, mostrando o potencial de um drinque pronto e com identidade própria para o paladar local. A popularidade foi tanta que, inclusive, uma mistura inusitada de Gingibre e Xeque Mate, batizada de “Ménage Mineiro”, caiu na graça dos amantes das duas bebidas.
 
Para Guilherme Drager, o sucesso se deve a diversos fatores, incluindo a praticidade e a padronização do sabor oferecidas pelo formato. “Além disso, essas bebidas costumam ter menos calorias que a cerveja, dá menos vontade de ir ao banheiro e têm um teor alcoólico um pouco mais alto”, diz. A facilidade de transporte e armazenamento das latas, com menor peso e risco de quebra, também contribui para um preço mais acessível ao consumidor final. 
 
O crescimento é notável. “O Carnaval de 2025 conseguiu superar muito as expectativas e, mesmo produzindo além do programado, os estoques das principais distribuidoras foram zerados antes do fim da folia”, afirma. “Todos ficamos muito surpresos com o resultado e já planejamos um crescimento de pelo menos 600% para o Carnaval do ano que vem.”
Outro nome forte no ramo, a Stone Light confirma o cenário de expansão, tendo registrado um faturamento superior a R$ 1 milhão no Carnaval deste ano. Para Ramon Santos, fundador da marca, a melhoria da qualidade dos produtos quebrou um antigo preconceito em relação ao sabor e contribuiu para o crescimento do setor. “Todas as marcas de RTD cresceram. Acredito que isso se deve também à praticidade. As pessoas querem consumir de forma mais simples e rápida”, acredita. 
 
Ramon Santos, da Stone light, acredita que a melhoria da qualidade dos produtos quebrou um antigo preconceito em relação ao sabor desses drinques(foto: Stone light/Divulgação)
Ramon Santos, da Stone light, acredita que a melhoria da qualidade dos produtos quebrou um antigo preconceito em relação ao sabor desses drinques (foto: Stone light/Divulgação)
A tradição familiar de Santos na fabricação de equipamentos para destilarias, com a Alambiques Santa Efigênia, na cidade de Itaverava, interior mineiro, lhe conferiu um conhecimento profundo do setor desde a infância. “Em vez de usar álcool neutro ou genérico, como é comum no mercado, fazemos questão de trabalhar com ingredientes reais: whisky, rum, gin e vodka de qualidade. Isso garante não só um sabor mais autêntico, mas também transparência e integridade em cada rótulo que colocamos no mercado”, afirma Santos.
 
A escolha da Stone Light por adaptar drinks clássicos como Pink Lemonade, Tropical Gin, Mojito e Whisky Sour para o formato em lata se alinha com a preferência do consumidor. “Percebemos que, na hora de experimentar um produto novo, muitas pessoas se sentem mais confortáveis escolhendo algo familiar”, explica Ramon. O desafio, segundo ele, é preservar o frescor, o equilíbrio e a complexidade dos sabores, mesmo depois de passar pelo processo de envase e armazenamento.
 
Bebidas da Stone light: empresa confi rma o cenário de expansão e faturou mais de R$ 1 milhão no Carnaval deste ano(foto: Victor Curi/Divulgação)
Bebidas da Stone light: empresa confi rma o cenário de expansão e faturou mais de R$ 1 milhão no Carnaval deste ano (foto: Victor Curi/Divulgação)
A capilaridade é outro ponto forte do formato em lata. “É um formato democrático: atende desde grandes centros urbanos até pequenos comércios no interior”, destaca. O design das embalagens e os sabores variados também são fatores que impulsionam a demanda, agradando principalmente o público jovem que busca agilidade e versatilidade. 
 
Para o futuro, Ramon Santos aponta três tendências: a busca por ingredientes mais naturais, opções com menos açúcar e o crescimento de sabores inusitados. “O maior desafio será equilibrar essas exigências com os custos crescentes de produção, especialmente em um cenário econômico instável”, reflete. No entanto, a inovação constante certamente seguirá permeando o setor, com novos sabores e ativações criativas já em preparo.
 
Outro movimento que vem ganhando força é a desmistificação da boa e velha cachaça. Ingrediente principal de algumas das marcas de RTD, como a Xá de Cana e o Jambrunão, a marvada vem se popularizando em meio a uma nova geração de consumidores que está descobrindo a bebida. E que aposta também em drinques com menor teor alcoólico, já que as marcas têm optado pela redução de álcool nessas mixologias. Tem dado certo. 
 
Sthella Gomes Lima, fundadora da Xá de Cana:
Sthella Gomes Lima, fundadora da Xá de Cana: "Com orgulho, dizemos que BH é, hoje, a capital brasileira dos drinques prontos" (foto: Xá de Cana/Divulgação)
De acordo com a mineira Sthella Gomes Lima, fundadora da Xá de Cana, a empresa vendeu 200 mil latas apenas no primeiro trimestre deste ano. O Carnaval teve protagonismo neste sucesso? Sim. Mas não só. Sthella acredita que a festa é realmente um forte ativo, mas que as bebidas prontas para beber têm ganhado espaço em eventos culturais diversos, festivais, encontros informais e até no consumo em casa. Tanto que a empresa segue em expansão, com uma capacidade produtiva projetada para chegar a 50 mil latas por mês.
 
A Xá de Cana - bebida mineira que mistura cachaça, caldo de cana e limão em uma receita autêntica e refrescante - inaugurou recentemente sua primeira loja física, no Mercado Central de BH, e aposta em produtos de desejo com sua identidade visual (foto: Xá de Cana/Divulgação)
A Xá de Cana - bebida mineira que mistura cachaça, caldo de cana e limão em uma receita autêntica e refrescante - inaugurou recentemente sua primeira loja física, no Mercado Central de BH, e aposta em produtos de desejo com sua identidade visual (foto: Xá de Cana/Divulgação)
Há um mês, a marca inaugurou seu primeiro ponto físico, no Mercado Central de Belo Horizonte.  “Trabalhamos em novos formatos de consumo, parcerias estratégicas e experiências sensoriais que vão muito além da bebida em si. Criamos o espaço para proporcionar experiências — desde degustações e produtos exclusivos até aquele bate-papo descontraído que é a nossa cara”, conta Sthella, que defende o protagonismo de Belo Horizonte neste mercado. “Nós acreditamos que BH não é apenas um polo de consumo e lançamento, mas um verdadeiro centro produtor de excelência. E, com orgulho, dizemos que a nossa cidade é hoje a capital brasileira dos drinques prontos”, sentencia.

Não é tudo igual!
 
Muitas versões das bebidas em lata têm altos níveis de açúcar, corantes artificiais, aromas sintéticos e pouquíssima fruta ou álcool de qualidade.
Saiba escolher! 
  • Observe se, no rótulo, consta cachaça, gin ou rum de verdade ou “bebida alcoólica mista”?
  • Há fruta natural ou apenas aroma artificial? 
  • É colorido demais? Desconfie da alta presença de corantes artificiais 
  • Atenção: Drinques com muito açúcar podem mascarar o teor alcoólico alto 
  • Lista de ingredientes: quanto mais curta e compreensível, melhor

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