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Estado de Minas ENSINO

No topo do ranking da educação

Escola Lídia Angélica segue sendo uma das melhores instituições municipais de ensino da capital, com Ideb acima da meta nacional para 2022. Verba caiu, mas o empenho dos educadores continua crescendo


postado em 09/12/2013 12:48

Um bate-papo com moradores mais antigos do Itapoã e eles, inevitavelmente, tocam no assunto: a Escola Municipal Lídia Angélica, tradicional instituição de ensino fundamental. Gerações de moradores estudaram nesse colégio, reconhecido como um dos melhores de Belo Horizonte e que teve o nome herdado de uma educadora nascida em Sabará que lecionou de 1890 a 1930 na capital. O motivo de tanto orgulho? O nível de qualidade e as notas obtidas na principal avaliação do Ministério da Educação (MEC).

Para se ter noção, em 2009, a Lídia Angélica foi eleita a segunda melhor escola da rede municipal de ensino de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),  criado pelo MEC (ficou empatada com a Escola Municipal Vinicius de Moares). Para entender por que essa marca é tão importante, basta observar que a pontuação da instituição foi 6,7, enquanto a meta nacional projetada para o ano de 2021 é 6. No Ideb seguinte, o de 2011, a instituição perdeu 0,2 ponto e caiu para quinto lugar. O escorregãozinho, no entanto, não tirou o sono dos educadores. Segundo a secretária municipal de Educação, Sueli Baliza, é mais fácil crescer do que manter o Ideb alto. “Há muitas variáveis que compõem o índice”, afirma.

Motivos do sucesso: a vice-diretora, Atil Peixoto (à esquerda), e Eloiza Lagaris, mãe de uma das alunas, apontam a qualidade da gestão e a autonomia como alguns diferenciais(foto: Samuel Gê/Encontro)
Motivos do sucesso: a vice-diretora, Atil Peixoto (à esquerda), e Eloiza Lagaris, mãe de uma das alunas, apontam a qualidade da gestão e a autonomia como alguns diferenciais (foto: Samuel Gê/Encontro)
Mas o que faz da Lídia Angélica um destaque no ensino de Belo Horizonte? É fácil deduzir que uma escola não se sobressai de um dia para o outro. Todo um histórico está envolvido no sucesso. Na rede municipal de ensino as escolas possuem muita autonomia, mas andam dentro de uma política educacional que orienta parâmetros. No entanto, quando há uma gestão diferenciada, as coisas fluem. Para Sueli Baliza, o colégio Lídia Angélica é resultado de uma equação: professores comprometidos e atuantes, preocupados com uma evolução do conhecimento; diretores conscientes de seu papel como gestores e uma família que acompanha tudo de perto.

Eloisa Lagaris de Paula Ribeiro é uma das mães que realmente se envolve no aprendizado das filhas. Pedagoga e funcionária pública federal, aceitou o convite para uma assembleia e virou membro do colegiado. Lá, matriculou Sofia, que saiu há dois anos para terminar o ensino fundamental, e Bárbara, que se despede ao final do semestre, pelo mesmo motivo.

A oferta de ensino só vai até o 6º ano. Apesar da vontade dos pais e da direção, a secretária Sueli Baliza afirma que não há qualquer projeto de ampliação até o 9º ano, o que completaria a oferta do ensino fundamental. “É uma escola pequena, na faixa dos 800 alunos. No momento não há planos de ampliar, o que não inviabiliza, dentro de nossa política de crescimento das escolas, que isso possa ocorrer no futuro. Isso depende de um geoprocessamento que define a demanda.”

Para os pais, a demanda já existe. Eloisa ainda morava no Itapoã quando procurou a escola. No bairro, todos falavam que era uma escola excelente. Sem conseguir vagas para as filhas, colocou-as em uma escola particular. Não deu certo. A insistência funcionou e, tempo depois, as garotas estudavam na rua paralela de casa. “O projeto pedagógico é muito bom. O ambiente é muito família: uma extensão do lar. As crianças têm prazer de ir à escola”, acredita a mãe, que hoje mora no vizinho Planalto.



Apesar de a maioria dos alunos não ser do Itapoã – uma forte característica do Lídia Angélica e talvez outro fator que leve ao seu bom desempenho, pelo dificuldade de deslocamento –, é comum colegas e professores se encontrarem. Para a aluna Bruna Guimarães Gentil, de 11 anos, do 6º ano, isso tem tudo a ver com a boa relação entre a equipe e os estudantes. “As professoras são nossas amigas. Os funcionários também. É comum nos vermos, mesmo nas férias.” Imagine essa situação com os colegas. Gerações e gerações do Itapoã e Planalto têm histórias para contar das brincadeiras e das reuniões em casa, no passado.

Professora na escola desde 1992, Cristalina Rocha sente-se motivada devido ao apoio dado pela direção e coordenação. Projetos, cursos, tudo é considerado. Assim, quem está ali para transmitir conhecimento fica mais comprometido. “Temos uma preocupação enorme com o aprendizado. Quando vemos um aluno que não aprende, isso salta aos olhos. Os professores novos logo demonstram o mesmo interesse. O ambiente contamina. É algo pessoal, porque o salário é igual em toda a rede”, acredita a professora.

Mas a escola tem outras características que a diferenciam de outras instituições municipais, inclusive das integradas. Há aulas de inglês a partir do 3º ano, informática educativa quinzenalmente, jogos e brincadeiras do 1º ao 3º anos. “Muitas pessoas têm preconceito contra a escola pública, mas acho que é porque não conhecem, ou porque só se noticiam as que não dão conta”, comenta Cristalina.

Desde que se destacou no Ideb, a Escola Municipal Lídia Angélica teve, inclusive, redução na verba repassada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo a vice-diretora, Atil Peixoto Rosa, é uma tradição a rede investir mais onde é maior a necessidade de melhorias. Em preparação para a próxima avaliação, no fim do ano, ela se concentra em manter a qualidade do ensino, seja que nota vier. “Tentamos trabalhar cada vez mais para o nível não cair. Incentivamos os projetos, valorizamos o acompanhamento da comunidade e dos pais. Queremos que o aluno que passa por aqui realmente aprenda e saia pronto para enfrentar outras escolas.” Pelo visto, o dever de casa está sendo muito benfeito.

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