Um bate-papo com moradores mais antigos do Itapoã e eles, inevitavelmente, tocam no assunto: a Escola Municipal Lídia Angélica, tradicional instituição de ensino fundamental. Gerações de moradores estudaram nesse colégio, reconhecido como um dos melhores de Belo Horizonte e que teve o nome herdado de uma educadora nascida em Sabará que lecionou de 1890 a 1930 na capital. O motivo de tanto orgulho? O nível de qualidade e as notas obtidas na principal avaliação do Ministério da Educação (MEC).
Para se ter noção, em 2009, a Lídia Angélica foi eleita a segunda melhor escola da rede municipal de ensino de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado pelo MEC (ficou empatada com a Escola Municipal Vinicius de Moares). Para entender por que essa marca é tão importante, basta observar que a pontuação da instituição foi 6,7, enquanto a meta nacional projetada para o ano de 2021 é 6. No Ideb seguinte, o de 2011, a instituição perdeu 0,2 ponto e caiu para quinto lugar. O escorregãozinho, no entanto, não tirou o sono dos educadores. Segundo a secretária municipal de Educação, Sueli Baliza, é mais fácil crescer do que manter o Ideb alto. “Há muitas variáveis que compõem o índice”, afirma.

Eloisa Lagaris de Paula Ribeiro é uma das mães que realmente se envolve no aprendizado das filhas. Pedagoga e funcionária pública federal, aceitou o convite para uma assembleia e virou membro do colegiado. Lá, matriculou Sofia, que saiu há dois anos para terminar o ensino fundamental, e Bárbara, que se despede ao final do semestre, pelo mesmo motivo.
A oferta de ensino só vai até o 6º ano. Apesar da vontade dos pais e da direção, a secretária Sueli Baliza afirma que não há qualquer projeto de ampliação até o 9º ano, o que completaria a oferta do ensino fundamental. “É uma escola pequena, na faixa dos 800 alunos. No momento não há planos de ampliar, o que não inviabiliza, dentro de nossa política de crescimento das escolas, que isso possa ocorrer no futuro. Isso depende de um geoprocessamento que define a demanda.”
Para os pais, a demanda já existe. Eloisa ainda morava no Itapoã quando procurou a escola. No bairro, todos falavam que era uma escola excelente. Sem conseguir vagas para as filhas, colocou-as em uma escola particular. Não deu certo. A insistência funcionou e, tempo depois, as garotas estudavam na rua paralela de casa. “O projeto pedagógico é muito bom. O ambiente é muito família: uma extensão do lar. As crianças têm prazer de ir à escola”, acredita a mãe, que hoje mora no vizinho Planalto.

Apesar de a maioria dos alunos não ser do Itapoã – uma forte característica do Lídia Angélica e talvez outro fator que leve ao seu bom desempenho, pelo dificuldade de deslocamento –, é comum colegas e professores se encontrarem. Para a aluna Bruna Guimarães Gentil, de 11 anos, do 6º ano, isso tem tudo a ver com a boa relação entre a equipe e os estudantes. “As professoras são nossas amigas. Os funcionários também. É comum nos vermos, mesmo nas férias.” Imagine essa situação com os colegas. Gerações e gerações do Itapoã e Planalto têm histórias para contar das brincadeiras e das reuniões em casa, no passado.
Professora na escola desde 1992, Cristalina Rocha sente-se motivada devido ao apoio dado pela direção e coordenação. Projetos, cursos, tudo é considerado. Assim, quem está ali para transmitir conhecimento fica mais comprometido. “Temos uma preocupação enorme com o aprendizado. Quando vemos um aluno que não aprende, isso salta aos olhos. Os professores novos logo demonstram o mesmo interesse. O ambiente contamina. É algo pessoal, porque o salário é igual em toda a rede”, acredita a professora.
Mas a escola tem outras características que a diferenciam de outras instituições municipais, inclusive das integradas. Há aulas de inglês a partir do 3º ano, informática educativa quinzenalmente, jogos e brincadeiras do 1º ao 3º anos. “Muitas pessoas têm preconceito contra a escola pública, mas acho que é porque não conhecem, ou porque só se noticiam as que não dão conta”, comenta Cristalina.
Desde que se destacou no Ideb, a Escola Municipal Lídia Angélica teve, inclusive, redução na verba repassada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo a vice-diretora, Atil Peixoto Rosa, é uma tradição a rede investir mais onde é maior a necessidade de melhorias. Em preparação para a próxima avaliação, no fim do ano, ela se concentra em manter a qualidade do ensino, seja que nota vier. “Tentamos trabalhar cada vez mais para o nível não cair. Incentivamos os projetos, valorizamos o acompanhamento da comunidade e dos pais. Queremos que o aluno que passa por aqui realmente aprenda e saia pronto para enfrentar outras escolas.” Pelo visto, o dever de casa está sendo muito benfeito.
