O sítio arqueológico em Januária, onde a expedição de cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriu esse importante indício histórico, faz parte do chamado Grupo Bambuí: unidade sedimentar da bacia do rio São Francisco que se espalha por cerca de 300 mil km², englobando áreas dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Tocantins e do Distrito Federal. Os sedimentos que formam o Grupo Bambuí nunca tiveram uma idade definida pela classe científica. "Sempre foi um 'pepino' geológico para os pesquisadores. Algumas pessoas achavam que fora criada há 700 mil anos. Porém, já tínhamos algumas evidências de que a unidade possuía semelhança com outros locais do mundo em que se encontrou fósseis de cloudinas", explica Lucas Warren, professor do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp em Rio Claro (SP).
Além de Januária, os fósseis desse animal pré-histórico já foram registrados em outros 13 pontos do planeta: na Antártida, em Omã, na Namíbia, em Corumbá (MS), no Paraguai, na Argentina e no Canadá. "Como sabemos que nesses locais os registros arqueológicos estavam associados às rochas marinhas, pudemos ter certeza de que o achado em Minas Gerais também fora gerado a partir de uma região banhada pelo mar, só que, neste caso, com águas rasas, com até 10 metros de profundidade", completa o geólogo da Unesp.
Curiosamente as cloudinas são os primeiros seres vivos providos de esqueleto. Antes, na Terra, existiam outros organismos, chamados de protistas – células especializadas –, e as algas, que habitam nossos planeta há cerca de 3,8 bilhões de anos. Os fósseis descobertos em Januária são o ponto de partida para a formação de todos os animais que conhecemos hoje – inclusive o ser humano.