Que faz a viagem entre Minas Gerais e o Espírito Santo, especialmente pela BR-262, percebe que a paisagem vem adquirindo, cada vez, extensas áreas de cultivo de eucalipto. Essa presença chamou a atenção do geógrafo Carlos Pires, que, em estudo nos municípios da bacia hidrográfica do rio Piracicaba e da região metropolitana do Vale do Aço, constatou que o plantio do eucalipto tem impactado a flora e a fauna. Esse avanço do reflorestamento com essa espécie – entre 1985 e 2010 – foi observado principalmente sobre mata nativa e áreas de pastagem.
Os dados fazem parte de sua dissertação de mestrado, defendida em maio deste ano, no Instituto de Geociências da UFMG. Segundo o pesquisador, no período, houve aumento de 12% das áreas de eucalipto e diminuição de 9% da mata nativa nos municípios analisados. A pesquisa indica que, até 2035, a presença do eucalipto pode aumentar em até quatro vezes. "Em 1985, 80% das manchas de mata nativa estavam separadas por distância de até 50 metros. Em 2010, esse índice caiu para pouco mais de 50%. Nossa previsão é de que, nos próximos 25 anos, as manchas de mata nativa separadas por, no máximo, 50 metros representem apenas 45% das manchas verdes", afirma.
Carlos Pires contou com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e destaca o avanço do plantio de eucalipto na região: de 20%, em 1985, para 65%, em 2010. "Partimos do pressuposto de que, quanto mais próxima ao cultivo de eucalipto uma área está, maior a tendência de ser ocupada por essa cultura. Isso mostra que as áreas de floresta estão ficando isoladas", explica.
De acordo com o pesquisador, há uma relação muito próxima entre a substituição da mata nativa e as indústrias siderúrgicas, de celulose e de mineração. Além de ser matéria-prima na produção do carvão vegetal que abastece os fornos das siderúrgicas, o eucalipto também é fonte de celulose para a produção de papel. "São muitos segmentos de negócio que demandam o insumo na região. Em um primeiro momento, derrubaram a mata para usar a madeira nos fornos de carvão. Com o passar do tempo, a legislação ficou mais rigorosa, e esse uso, mais difícil. Com isso, o eucalipto avançou também sobre áreas de pastagem", diz.
Perdas
Outra conclusão da pesquisa mostra que, em 2035, a presença das áreas de mata nativa ocorrerá principalmente em unidades de conservação de proteção integral, como o parque estadual do Rio Doce, o que demonstra a força do impacto do reflorestamento com eucalipto na região. Das áreas que mudaram para eucalipto, entre 1985 e 2010, a maior parte era formada por floresta nativa (49%) e de pastagem (47%). Essa presença do eucalipto, segundo Carlos Pires, gera fortes impactos sobre fauna e flora.
"Percebemos um fenômeno de isolamento das áreas de mata nativa e de campos naturais e um aumento da conectividade das áreas de reflorestamento com eucalipto. Notamos também que a mata não sofreu com a pressão do eucalipto apenas no interior das unidades de conservação de proteção integral. Esses fatores influenciam as relações ecológicas, especialmente para a fauna, pois uma área ocupada por eucaliptos tende a oferecer menos condições ambientais e nutritivas para a sobrevivência de animais do que uma área de mata nativa", conclui.
(com Boletim UFMG)
Publicidade
MEIO AMBIENTE
Estudante da UFMG alerta para expansão da área de eucalipto em Minas
Seja para servir como carvão vegetal nas siderúrgicas, seja como base para a produção de papel, essa árvore, segundo a dissertação de mestrado, está substituindo a vegetação típica da região do Vale do Aço em nosso estado
Compartilhe no Facebook
Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor.
As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação