
Mesmo com a tensão que pairava sobre todos os passageiros, Jorge teve sangue frio e filmou as labaredas que saíam da turbina direita da aeronave. "De certa forma, todos estavam calmos, mas uma pessoa começou a gritar. Nesse momento, nem consegui rezar. O que fiz foi pegar o celular e começar a gravar", disse o colombiano, que mora na capital do país, Bogotá.
O piloto conseguiu ter controle sobre a aeronave, um Airbus A320, e retornar ao aeroporto internacional El Dorado. Após o pouso, todos os passageiros aplaudiram a ação considerada heróica do comandante.
Mas, até que ponto um incêndio em um dos motores pode fazer com que um avião desse porte sofra um acidente? "Toda aeronave de grande porte possui uma proteção, chamada parede de fogo, entre o local de instalação do motor e os demais componentes do avião. Além disso, todas as válvulas, principalmente as de combustível, são especiais e não deixam passar a chama da turbina para o restante do equipamento", explica Francisco Pio Ferreira Bessa, diretor da escola de aviação Starflight, que fica no aeroporto Carlos Prates, em Belo Horizonte.
O especialista conta que todas as grandes aeronaves possuem um sistema de detecção de incêndio que aciona um alarme na cabine de comando. Ou seja, assim que piloto e copiloto percebem o problema, conseguem acionar, de modo remoto, pequenos extintores químicos que apagam o fogo dos motores. "A principal causa de incêndio numa turbina se deve a vazamento de combustível. Ele pode ocorrer por vários motivos, como falha técnica após a substituição de um componente ou pelo rompimento de uma mangueira. Apesar de que esta última situação é muito improvável. Em todos esses anos em que trabalho com manutenção de aeronave, nunca presenciei o rompimento de uma mangueira", conta Francisco Pio.
Para acalmar passageiros e principalmente quem tem medo de voar, o piloto e professor diz que um simples fogo num motor de avião é fácil de ser controlado pelo comandante. Agora, uma explosão no tanque de combustível próximo à turbina é bem mais sério, podendo levar à perda de 50% da potência da aeronave. "Durante a decolagem essa situação é ainda mais complicada. Depende muito da condição psicológica do piloto. O fabricante sempre prevê essas situações e os pilotos são treinados em simuladores para controlar a aeronave com fogo numa turbina", explica.
Porém, como Francisco lembra, o estado físico e mental do comandante nesse momento de emergência é de extrema relevância. Foi o caso do problema ocorrido com o Airbus da Viva Colombia, que não resultou em tragédia devido à ação correta dos pilotos.