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Estado de Minas CIDADE

Obra de Oscar Niemeyer no bairro Calafate em BH?

Além de obras emblemáticas como o complexo arquitetônico da Pampulha, o Congresso Nacional e a Cidade Administrativa de MG, um projeto simples e antigo na rua Desembargador Barcelos também pode ter sido criação do arquiteto


postado em 18/02/2015 09:12

Não existe comprovação de que o imóvel que fica no bairro Calafate, região oeste de Belo Horizonte, seja uma obra do famoso arquiteto carioca Oscar Niemeyer(foto: Divulgação)
Não existe comprovação de que o imóvel que fica no bairro Calafate, região oeste de Belo Horizonte, seja uma obra do famoso arquiteto carioca Oscar Niemeyer (foto: Divulgação)
O arquiteto Oscar Niemeyer, que morreu em dezembro de 2012, deixou para a humanidade dezenas de belas obras arquitetônicas. Em Belo Horizonte, muitas se transformaram em pontos turísticos e até mesmo cartões-postais da cidade. Porém, existe um projeto que passa despercebido aos olhos dos belo-horizontinos. Trata-se de um imóvel localizado na rua Desembargador Barcelos, 102, entre a Avenida Silva Lobo e a rua Platina, no Calafate. Moradores do entorno garantem que este pode ter sido um dos primeiros projetos que o arquiteto fez em BH a pedido do amigo e parceiro, o ex-presidente Juscelino Kubistchek, na década de 1950. O Complexo Arquitetônico da Pampulha, para se ter ideia, é datado de 1940.

Hoje o terreno pertence à Secretaria de Patrimônio da União, que, em regime de comodato, cedeu o espaço ao Centro de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab) para montar sua sede. Embora seja ocupado pela entidade, o local ainda encontra-se em situação precária: apresenta vazamento, pintura descascada e suja, problemas no telhado e parte elétrica, além de o mato tomar conta de parte do terreno. É fácil perceber que o imóvel precisa de reforma. "Já temos a aprovação do projeto junto à Lei de Incentivo à Cultura Estadual. Estamos em fase de captação de recursos para iniciar as obras", afirma a coordenadora nacional da Cenarab, Makota Célia Gonçalves Souza.

Mesmo com os problemas estruturais, a entidade oferece à comunidade carente oficinas de formação e qualificação profissional, com aulas de corte e costura, paramentos afro-brasileiros, bordado, informática, introdução à história da África, Educação de Jovens e Adultos (EJA), entre outras atividades. “Em 2012, passaram pelas oficinas mais de 780 alunos”, revela. Mas, para realizar a reforma, a coordenadora terá de seguir algumas regras, pois o imóvel foi tombado pela Fundação Municipal de Cultura (FMC) em 2007.

Segundo o estudo da FMC, não há comprovação de que o projeto seja mesmo de autoria do arquiteto Niemeyer, apenas relatos de moradores e coincidências arquitetônicas. A maior delas é em relação à curvatura do arco na fachada, que de acordo com o dossiê, se comparada à arquitetura da Praça dos Esportes, em Diamantina, apresenta enorme semelhança. O estudo destaca ainda que a edificação do imóvel ficou a cargo da Construtora Ájax Rabello, responsável também pela construção do Complexo Arquitetônico da Pampulha. Porém, a Fundação Oscar Niemeyer afirma que não existe informação ou documento sobre o projeto do Calafate na relação de obras do arquiteto.

O fato é que muito antes de a Cenarab ocupar o espaço, o terreno foi habitado por várias instituições: primeiro ele foi construído para ser um lactário, a pedido de Sarah Kubistchek, esposa do ex-presidente Juscelino. Lá era distribuído leite em pó para as crianças moradoras da favela conhecida como Vila dos Marmiteiros, que ficava do lado oposto da Via Expressa. "Minha avó, Virgínia Zandona, era proprietária do local e vendeu para a dona Sarah, na década de 1950. Muitas mulheres vinham para cá e pegavam as mamadeiras para seus filhos. Mas o negócio começou a ser fraudado e foi fechado", afirma a professora aposentada Virgínia Pereira de Meirelles, que mora na região desde que nasceu.

Mais tarde, o espaço passou a oferecer atendimento médico e odontológico aos moradores e se transformou no centro de saúde Noraldino Lima. Posteriormente, a unidade fechou e deu lugar a uma Loja Maçônica, que permaneceu por cinco anos, de 1985 a 1990. A entidade fez várias modificações internas, como a colocação do símbolo da sociedade nas portas e molduras de gesso. Durante a estadia dos maçons, abrigaram uma associação de reabilitação de menores. E, por último, o local serviu de depósito da Rede Sarah e de moradia para funcionários das instituições hospitalares. De qualquer maneira, sendo o imóvel um projeto ou não de Niemeyer, é possível imaginar que o gênio não gostaria nem um pouco de vê-lo na situação de abandono em que hoje está.

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