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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Expansão de mina de ouro assusta moradores de Paracatu

Como alguns bairros da cidade ficam cada vez mais próximos da extração na maior mina de ouro a céu aberto do mundo, população demonstra medo das detonações e de possíveis intoxicações com poeira


postado em 16/03/2015 12:28 / atualizado em 16/03/2015 12:45

Com a visão do satélite é possível dimensionar o tamanho da mina de ouro explorada pela Kinross na cidade de Paracatu, em Minas Gerais(foto: Google Maps/Reprodução)
Com a visão do satélite é possível dimensionar o tamanho da mina de ouro explorada pela Kinross na cidade de Paracatu, em Minas Gerais (foto: Google Maps/Reprodução)

Localizada na região noroeste de Minas Gerais e conhecida como "cidade do ouro", Paracatu – terra natal do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa – conta, atualmente, com a maior mina de ouro do país e a maior do mundo a céu aberto. A mineração no chamado Morro do Ouro, liderada pela empresa canadense Kinross Gold Corporation, representa a principal atividade industrial para a geração de emprego e renda na região, mas assusta moradores do pequeno município.

Em 2006, a mineradora iniciou um projeto de expansão para elevar a capacidade de produção da mina de Paracatu de 5 para 15 toneladas anuais de ouro até setembro de 2008. O projeto também ampliava em mais de 30 anos o tempo de vida útil da mina. As atividades exigiram ainda a criação de uma nova barragem para o despejo de rejeitos – material que sobra do processo de separação do ouro.

Um dos bairros diretamente atingidos pela expansão da mineradora é o Alto da Colina. No local, ainda é possível ver postes de iluminação e árvores frutíferas onde antes havia ruas e casas. Os terrenos foram comprados pela Kinross e cercados. Nos locais, uma placa indica de "propriedade privada".

Cleonice Magalhães, 33 anos, chegou a ser sondada para vender o terreno, mas permanece no bairro. "Mudou muita coisa por aqui. A gente tinha muita vizinhança. O bairro era tranquilo, sem barulho", conta a dona de casa, que mora no local com o marido e dois filhos. "Já ouvi histórias sobre ficar doente por causa da mineração. A poeira no bairro é escura, cinzenta e tem cheiro ruim. Além disso, todos os dias, na parte da tarde, temos a detonação agendada [explosões controladas feitas pela mineradora para a quebra da rocha], que balança tudo. Já chegou a derrubar vasilhas", completa.

A população que vive no entorno da mina de ouro teme os reflexos das explosões diárias e possíveis consequências da poeira que emana da atividade mineradora(foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
A população que vive no entorno da mina de ouro teme os reflexos das explosões diárias e possíveis consequências da poeira que emana da atividade mineradora (foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)


No bairro Amoreiras 2, também vizinho à mina, os moradores demonstram preocupação com o avanço da mineração. A aposentada Ermelinda da Silva Pereira, 66 anos, se mudou para o local há sete anos, quando vendeu a casa onde morava em outra região de Paracatu para a Kinross. "Saí, mas continuo vizinha da mineradora. É muita poeira e muito barulho. A casa vive cheia de rachaduras por causa das detonações. E o ruim disso tudo é que o ouro não fica aqui. É exportado", reclama.

Mesmo no centro histórico da cidade, mais distante da mina, é possível sentir os tremores provocados pela mineradora. O geólogo e diretor da Fundação Acangaú, Márcio José dos Santos, mora em Paracatu há 26 anos e critica fortemente o fato de as atividades da empresa serem executadas tão perto do município. "O projeto de lavra, no início, era curto, de 15 anos, mas a empresa veio com um plano de expansão", cont. Ele lembra que a região vive longos períodos de estiagem e que a poeira carregada de metais pesados é perigosa para a saúde humana, sobretudo para os que vivem em bairros periféricos e mais próximos à mina. "Quando um processo de contaminação se inicia, é muito difícil reverter. A tendência é a acumulação", alerta.

A secretária de Saúde da cidade, Nádia Maria Roquete Franco, destaca que, em 2013, a prefeitura divulgou um estudo garantindo que a população da cidade estava livre de qualquer tipo de intoxicação – inclusive por arsênio, liberado pela mineração de ouro a céu aberto. Foram colhidas amostras de urina, sangue e cabelo dos habitantes. Também foi feita uma análise da água consumida pela população. Ela admite, entretanto, que vê com preocupação a aproximação da mineradora com a cidade e defende um monitoramento constante das atividades e da saúde dos moradores.

A Kinross Gold Corporation, por sua vez, informa que também fez um estudo que comprova que não há perigo de intoxicação para a população paracatuense. Além de amostras de urina, sangue, cabelo e água, a empresa também diz ter analisado a qualidade da poeira nas regiões próximas à mina. Em todos os casos, as concentrações de arsênio foram consideradas abaixo do nível permitido pela Organização Mundial da Saúde.

(com Agência Brasil)

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