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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Pesquisa mapeia comportamento infantil no YouTube

Apesar de ser um site para maiores de 18 anos, a plataforma de vídeos do Google possui centenas de canais voltados para crianças de zero a 12 anos


postado em 10/12/2015 08:29

O Minecraft, que permite ao jogador criar diversos objetos usando blocos e 'receitas', é, de longe, a maior atração para as crianças no YouTube(foto: YouTube/Reprodução)
O Minecraft, que permite ao jogador criar diversos objetos usando blocos e 'receitas', é, de longe, a maior atração para as crianças no YouTube (foto: YouTube/Reprodução)
Apesar de o YouTube ter classificação etária de 18 anos, seu público é composto, também, por adolescentes, crianças e bebês. Não é preciso navegar muito pelo site de compartilhamento de vídeos para se deparar com uma enorme quantidade de canais consumidos e até produzidos por crianças. Segundo levantamento da pesquisadora Luciana Corrêa, do ESPM Media Lab, que buscou mapear o comportamento infantil no YouTube, é possível identificar entre os cem canais de maior audiência na plataforma, 36 que abordam conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. E mais: quando considerados os 110 principais canais infantis, o número de visualizações passa de 20 bilhões.

Para facilitar o reconhecimento de tendências, Luciana dividiu os canais selecionados para a pesquisa em sete categorias.

A maior parte, 39, é de games (principalmente Minecraft, que permite criar coisas por meio de blocos), 27 canais são de youtubers mirins e youtubers teens, 22 são de programação de TV infantil (desenhos e novelas), 14 de desenhos e musicais infantis não disponíveis na TV, 7 de unboxing (abrir caixas de brinquedo e apresentá-los) e 1 canal educativo.

Apesar de se encontrarem na penúltima posição, os vídeos de unboxing são um fenômeno, na opinião da pesquisadora. No recorte de audiência dos 15 maiores canais infantis, de 0 a 2 anos de idade, seis abordam essa narrativa, atingindo uma audiência de mais de 1 bilhão de visualizações. "Os dados apontam que o crescimento destes canais está em uma curva ascendente e muito acentuada", ressalta Corrêa.

Para Fernanda Furia, fundadora do Playground da Inovação e mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes,  com relação às crianças, especialmente aquelas entre 0 e 2 anos, os vídeos unboxing não apresentam muitos benefícios. "Ao contrário, eles acabam tendo efeitos polêmicos no desenvolvimento de uma criança: geram mais expectativa para comprar um determinado brinquedo, estimulam a vontade de ter mais coisas e, muitas vezes, incentivam uma ostentação entre as crianças para ver quem possui mais. Além disso, este tipo de vídeo acaba estimulando um tipo de brincar pouco criativo".

A descoberta mais impactante da pesquisa, segundo Luciana, confirma uma tendência já apontada em estudos da Europa, que indica que quanto mais cedo a criança é inserida na plataforma, maior será o seu consumo quando for mais velha. "O consumo no YouTube será muito maior daqui a alguns anos. Está havendo uma migração da programação infantil da TV para a web".

Impactos

A psicóloga Fernanda Furia considera a revolução digital importantíssima, e diz que ela deve ser abraçada, porém, com cautela, bom senso e consciência. "Precisamos desenvolver uma cidadania digital, ou seja, um uso responsável, ético e consciente das redes sociais e da tecnologia", defende. Na sua opinião, a tecnologia não é, em si, nem vilã nem heroína. "A função e o impacto que ela tem na vida de uma pessoa é que precisam ser analisados com cuidado", pondera.

Apesar da recomendação de especialistas de que aparelhos tecnológicos sejam usados apenas depois dos 2 anos de idade e, por no máximo, duas horas por dia, é o conteúdo consumido pelas crianças que deve merecer uma atenção especial dos pais, na avaliação de Fernanda. "O mais preocupante em todo este contexto é o tipo de jogo com o qual ela está brincando, com quem ela está se comunicando nas redes sociais e, principalmente, qual é a função que o uso das tecnologias está tendo na vida daquela criança e daquela família". Neste sentido, Corrêa endossa que sua pesquisa serve como um alerta para que os responsáveis nunca deixem de acompanhar o que a criança está vendo e ouvindo. "Tem que existir o cuidado com a mediação, afinal o YouTube é para maiores de 18 anos", recomenda.

(com Portal EBC)

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