Publicidade

Estado de Minas SAÚDE

Primeiros testes apontam ineficácia da 'pílula do câncer'

Segundo cientistas, a fosfoetanolamina não apresenta eficácia para impedir reprodução de células cancerosas


postado em 24/03/2016 16:43 / atualizado em 24/03/2016 17:18

Segundo a pesquisa, além de não ter efeito comprovado contra o câncer, a pílula de fosfoetanolamina possui outras quatro substâncias(foto: USP Imagens/Reprodução)
Segundo a pesquisa, além de não ter efeito comprovado contra o câncer, a pílula de fosfoetanolamina possui outras quatro substâncias (foto: USP Imagens/Reprodução)
Os primeiros testes com a fosfoetanolamina sintética, substância utilizada na chamada "pílula do câncer", mostraram que o conteúdo das cápsulas não é puro e que ela não tem eficácia contra células cancerígenas.

A conclusão é de um grupo de pesquisadores vinculados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e ao Ministério da Saúde. Os cientistas concluíram que além da fosfoetanolamina, havia quatro outras substâncias diferentes. Além disso, eles lembram que a eficácia da "pílula do câncer" foi testada apenas em culturas de células, os chamados "testes in vitro".

"No início, acreditávamos que havia apenas um componente na cápsula, que era a fosfoetanolamina pura, segundo o grupo da Universidade de São Paulo do campus de São Carlos afirmou. Quando realizamos as análises dos componentes da cápsula, percebemos que existem cinco componentes lá dentro", diz Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que participou da pesquisa na fase de caracterização e síntese dos componentes da pílula.

A quantidade encontrada de fosfoetanolamina era de somente 32,2%, e o restante era composto por monoetanolamina, fosfobisetanolamina, fosfatos e pirofosfatos. "Essa fosfoetanolamina é impura, e os outros quatro componentes não deveriam estar dentro da cápsula", diz o professor. O grupo de Dias foi responsável por isolar e caracterizar cada um dos componentes para que pudessem ser testados, separadamente, em células cancerosas.

Uma das "impurezas" presentes na cápsula, a fosfobisentanolamina, também não apresentou eficácia para matar as células de câncer, mas, segundo Dias, "o interessante é que nem uma nem outra são tóxicas". Já um terceiro componente, a monoetanolamina, apresentou um pequeno efeito antitumoral, que, segundo o relatório, é muito menor se comparado a dois remédios utilizados no combate ao câncer: a gencitabina e a cisplatina.

Testes em animais

A fase seguinte, que já foi iniciada, é o teste in vivo das três principais substâncias da cápsula, ou seja, em organismos vivos, neste caso, animais de pequeno porte.

O professor explicou que, normalmente, quando os testes in vitro dão negativos, a substância não segue para testes in vivo. "Não sacrificamos animais para fazer testes com algo que in vitro não deu resultado, porque tem que usar animais de pequeno porte nas fases de testes in vivo. Então normalmente só vamos para testes in vivo com moléculas que são promissoras nos testes in vitro", diz o professor de química Luiz Carlos Dias, da Unicamp.

Mesmo com os testes in vitro tendo apresentado resultados desanimadores, os testes em animais vão ser realizados, segundo Dias, devido a uma pressão popular. Na avaliação do pesquisador, no entanto, "a cápsula, hoje, como ela está, com esses cinco componentes, não deveria ser ingerida por ninguém, sem saber o que cada componente provoca no organismo".

Legalidade

No dia 14 de março, a Sociedade Brasileira de Cancerologia divulgou nota dizendo que não apoia a legalidade da chamada pílula do câncer. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo também recomenda aos profissionais que não receitem a substância polêmica. No dia 17 de março, o Projeto de Lei 4.639/16, autorizando a produção da fosfoetanolamina sintética, foi aprovado pelo Senado, aguardando, agora, a sanção presidencial.

A Anvisa também se manifestou dizendo que vê com preocupação a aprovação do projeto. A agência reguladora argumentou que a fosfoetanolamina é uma substância utilizada há 20 anos de maneira ilegal e que nunca foi testada de acordo com as metodologias científicas internacionalmente utilizadas para comprovar sua segurança e eficácia.

(com Agência Brasil)

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade