
O relato serviu de inspiração para nomear um fenômeno conhecido pela Medicina como Efeito Lázaro – quando uma equipe médica suspende os trabalhos de reanimação de um paciente com parada cardiorrespiratória, mas, para surpresa de todos, ele volta a apresentar sinais de vida, mesmo tendo sido declarado morto.
Os primeiros registros desse fenômeno começaram a aparecer na literatura médica no início dos anos 1980, mas, só na década de 1990, ele foi batizado como Efeito Lázaro pelo anestesiologista americano Jack Bray Jr.
Morto-vivo
No início dos anos 2000, a equipe do geriatra britânico Vidyamurthy Adiyaman estava realizando uma reanimação cardiorrespiratória (RCR) em um paciente idoso, e, após 15 minutos sem resposta, os médicos decidiram suspender o procedimento e comunicar o falecimento do homem.
Porém, passados cerca de 20 minutos após o atestado de óbito, o idoso voltou a respirar e ficou em coma durante dois dias, finalmente morrendo no terceiro. O caso foi parar na justiça. A família do paciente acusou a equipe médica de ter desistido cedo demais. Intrigado com a situação, Adiyaman decidiu investigar se existiam casos semelhantes e acabou descobrindo outras 38 situações relacionadas ao Efeito Lázaro. Ele conseguiu provar que não teve culpa pela morte do idoso e publicou um artigo científico sobre o assunto.
O geriatra constatou em suas pesquisas que os pacientes voltaram à vida, em média, sete minutos depois de a RCR ser suspensa. O médico também concluiu que a grande maioria dos doentes acabou falecendo cerca de minutos ou poucas horas depois de ressuscitar.
Nomenclatura "errônea"
Embora o Efeito Lázaro seja pouco comentado pela comunidade médica, os pesquisadores estabeleceram um elemento comum em todos os casos: a prática da RCR. Este detalhe coloca em xeque o nome escolhido para o fenômeno, já que Lázaro não passou por um procedimento de reanimação cardiorrespiratória. Ele voltou a viver por um milagre, conforme a Bíblia, e não há explicação científica para o fato.
Segundo a enfermeira Érika Azevedo Mássimo, coordenadora do programa Basic Life Support (Suporte Básico de Vica, em tradução livre), que ensina profissionais da saúde e leigos a fazerem procedimentos de reanimação pulmonar, o chamado Efeito Lázaro é um resultado tardio da ressuscitação. "Não se trata de uma ressurreição espontânea ou mágica", avalia a especialista.
A enfermeira explica que durante a ressuscitação os pulmões são rapidamente inflados, dificultando o bombeamento do sangue pelo coração, já que os órgãos ocupam o mesmo espaço físico. No caso do Efeito Lázaro, quando os procedimentos de reanimação cardiorrespiratória são suspensos, a pressão no interior dos pulmões volta a diminuir, permitindo com que o fluxo sanguíneo chegue ao coração novamente e a pessoa tenha uma nova chance.