Estado de Minas COMPORTAMENTO

Até que ponto a relação entre fã e ídolo é considerada saudável?

Ataque contra a apresentadora Ana Hickmann traz à tona os problemas que podem ser causados pela idolatria


postado em 24/05/2016 08:42

Como mostra o especialista, a idolatria sempre esteve presente na história da humanidade, mas com o advento da internet, a
Como mostra o especialista, a idolatria sempre esteve presente na história da humanidade, mas com o advento da internet, a "proximidade" com o ídolo acabou abrindo espaço para a obsessão (foto: Instagram/rodrigo___augusto__/Reprodução)
Tarde de sábado, dia 21 de maio, cidade de Belo Horizonte. A apresentadora da TV Record, Ana Hickmann, vive momentos de tensão. Um homem, armado, hospeda no mesmo hotel em que ela estava, na região centro-sul da capital mineira, e a faz refém. O sequestrador se diz da apresentadora. Nas redes sociais, a conta do criminoso é repleta de declarações de amor à ex-modelo gaúcha.

Durante o sequestro, o invasor Rodrigo Augusto de Pádua, de 30 anos, ameaça matar Ana Hickmann e aterroriza, ainda, o cunhado e a assessora da apresentadora, que também ficam sob a mira da arma. Após dois tiros disparados pelo sequestrador, o cunhado da apresentadora toma a arma do suposto fã e o mata com três tiros. Por sorte, Ana Hickmann não foi atingida, mas a assessora acabou hospitalizada.

O caso ocorrido em BH traz à lembrança o trágico assassinato do músico John Lennon, líder dos Beatles, na noite de 8 de dezembro de 1980. Ao chegar em sua casa, no edifício Dakota, em Nova Iorque, o cantor inglês acabou sendo atingido por quatro tiros. O assassino foi reconhecido como Mark Chapman, um fã de Lennon que, horas antes, naquele mesmo dia, havia pedido ao cantor que autografasse um disco.

Os dois fatos trágicos revelam um comportamento que, muitas vezes, parece inocente, mas que pode se tornar perigoso. Afinal, até que ponto é saudável a relação entre fã e ídolo?

O problema da idolatria

O psicólogo Gilberto Diniz lembra que a idolatria é um comportamento que acompanha a história da humanidade. "Desde os tempos mais remotos, o ser humano elege ídolos. Nas religiões, são os deuses. Na era medieval, eram os reis e rainhas. Agora, é mais comum idolatrar pessoas famosas, pelas quais temos uma admiração", diz o especialista.

Atualmente, segundo o psicólogo, a relação entre as pessoas e seus ídolos tem se tornado cada vez mais intensa, e as redes sociais estão entre os principais fatores que desencadeiam o fanatismo exagerado. Gilberto explica que isso ocorre porque a internet facilita o acesso às informações pessoais das celebridades, o que, antes, eram sigilosas.

Ainda de acordo com o especialista, amigos e familiares podem notar quando a idolatria se torna um problema para a pessoa. "A partir do momento em que é notada uma fixação, um isolamento e uma intolerância com outros assuntos ou pessoas que não dividem a mesma opinião, é bom ficar atento", alerta o psicólogo.

Como mostra Gilberto Diniz, existe um grupo de pessoas que são mais propensas a desenvolverem problemas com a idolatria. "Indivíduos com baixa autoestima, inseguros e sem autoconfiança, podem desenvolver um fanatismo exacerbado devido à fragilidade e à necessidade de apoiar em algo ou alguém", completa o especialista.

Na ficção

A relação complicada entre fãs e celebridades também já foi retratada por Hollywood. O filme Estranha Obsessão (1996), do diretor Tony Scott, narra a história de um torcedor (Robert DeNiro) que é fanático por beisebol. Ele se vê decepcionado com o desempenho de um dos jogadores (Wesley Snipes) que mais admira. O torcedor começa, então, a desenvolver um desejo incontrolável de ajudar o ídolo. Porém, esse comportamento obsessivo acaba causando diversos problemas para o jogador.

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