
Entre os 283 agrotóxicos verificados, o brometo de metila – pertencente à classe dos inseticidas, formicidas e fungicidas e listado como extremamente tóxico – foi a substância com maior estimativa de frequência nos alimentos. Os resultados fazem parte da dissertação de mestrado de Jacqueline Mary Gerage, defendida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em 2016. A ideia foi avaliar o risco de exposição crônica de agrotóxicos na dieta da população, levando em conta o uso regular dessas substâncias em cultivos como arroz, feijão, soja e frutas.
O brometo de metila é um gás que age como inseticida para desinfestação de solo, controle de formigas e fumigação de produtos de origem vegetal. Mata insetos, fungos e bactérias, ervas daninhas ou qualquer outro ser vivo presente no solo. Embora seja usado rotineiramente na agricultura, Jacqueline Gerage explica que o produto é altamente prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. "Seu uso está em descontinuação global por causar danos à camada de ozônio e provocar riscos à saúde de trabalhadores rurais e moradores de regiões próximas às áreas de produção agrícola", esclarece a pesquisadora. Em 1990, na assinatura do Protocolo de Montreal, houve um comprometimento de 180 países para diminuir o uso de produtos semelhantes ao brometo de metila na agricultura. O Brasil aderiu ao tratado internacional com a promessa de diminuir gradualmente o manejo ao longo dos anos.
Metodologia
Baseada em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jacqueline obteve os alimentos que compunham a dieta habitual de 33.613 brasileiros, com idade superior a 10 anos. Foram considerados 743 itens alimentares. Em seguida, a pesquisadora buscou informações na Anvisa sobre a quantidade de agrotóxicos que era autorizada para cada tipo de alimento a ser analisado, chegando a 283 compostos. Destes, a mestranda da USP verificou que 68 excediam o valor máximo permitido pela agência.
Apesar de este tipo de exposição não ter sido avaliado por meio da pesquisa, a especialista ressalta que na área rural há também os riscos de intoxicação aguda envolvidos com a aplicação destes produtos, ao inalar ou manipulá-los diretamente.
(com Agência USP)