
Jorge Mario Bergoglio lembra que, assim como o populismo, o perigo dos momentos de crise é que as pessoas acabam buscando um líder carismático e que se "defende com muros". "Nos momentos de crise, não existe discernimento e, para mim, essa lógica ainda persiste. É a busca por um 'salvador', que nos devolva a identidade e que nos defenda com muros, com cercas, com o que for, contra os povos que podem nos 'roubar' a identidade. Isso é muito grave", afirma o papa argentino ao periódico espanhol.
O santo padre considera que o melhor exemplo para esse tipo de populismo é o da Alemanha durante a ascensão do nazismo. "A Alemanha estava destroçada e quis se reerguer, buscar sua identidade, buscar um líder, alguém que devolvesse o orgulho do povo. E conseguiram um 'amigo' que se chamava Adolf Hitler e que disse 'eu posso'. Toda a Alemanha votou em Hitler. Hitler não roubou o poder, foi eleito pela população e, depois, destruiu seu próprio povo. Esse é o perigo", lembra Francisco, fazendo uma clara referência à ascensão dos regimes fascistas no início do século passado. Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália, Francisco Franco na Espanha, Salazar em Portugal e Getúlio Vargas no Brasil, são alguns exemplos.
Na entrevista, o papa falou também sobre a Igreja Católica, sobre as injustiças sociais, sobre migração e sobre a América Latina. "Hoje, a América Latina está sofrendo um forte embate causado pelo liberalismo econômico [onde as decisões são tomadas por indivíduos], este que condeno na Evangelii Gaudium [exortação apostólica], quando digo que 'esta economia mata'", reclama o pontífice.
"A imigração não é algo apenas da África para Lampedusa [na Itália] e para Lesbos [na Grécia]. A imigração é também do Panamá à fronteira do México com os Estados Unidos. As pessoas emigram em busca de algo. Porque os sistemas liberais não dão possibilidade de trabalho e favorecem o crime", completa o papa Francisco ao El País.
(com Agência Télam)