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Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Mais de mil espécies vegetais podem desaparecer do cerrado brasileiro

O dado alarmante faz parte de um estudo sobre as ações humanas que impactam esse importante bioma


postado em 23/03/2017 17:35

Como mostra o estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution, se as agressões contra o cerrado brasileiro continuarem, em 30 anos, mais de mil plantas podem se tornar extintas(foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Divulgação)
Como mostra o estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution, se as agressões contra o cerrado brasileiro continuarem, em 30 anos, mais de mil plantas podem se tornar extintas (foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Divulgação)
Estudo internacional, coordenado por pesquisadores brasileiros e publicado nesta quinta, dia 23 de março, na revista científica Nature Ecology and Evolution, aponta perda significativa de espécies nativas do cerrado nos próximos 30 anos se o ritmo atual de desmatamento do bioma continuar. A razão para isso é que existem 4,6 mil espécies de plantas endêmicas nesse ecossistema, que não vivem em nenhum outro lugar do planeta. Os pesquisadores projetam um quadro de extinções de espécies de grande magnitude se nada for feito.

Eles estimam que até 1.140 espécies podem desaparecer pelo desmatamento acumulado. "Esse é um número oito vezes maior do que todas as espécies registradas como extintas no mundo até hoje", diz Bernardo Strassburg, coordenador da pesquisa. Desde o ano de 1.500, quando foram feitos os primeiros registros das espécies de plantas no planeta, 139 foram declaradas oficialmente extintas.

Segundo Strassburg, o cerrado já perdeu metade de sua área original. "Se tudo continuar no cenário que a gente chama de tendencial, vai perder um terço do que sobrou nas próximas três décadas". O cerrado já perdeu 88 milhões de hectares, o equivalente a 46% da cobertura nativa.

Isso gera problemas ambientais de diversas naturezas. A crise hídrica que a região centro-oeste do Brasil enfrenta seria agravada pela falta do bioma e também haveria a emissão de gases de efeito estufa de 8,5 bilhões de toneladas de gás carbônico. "Isso tudo seria consequência direta do desmatamento projetado para os próximos 30 anos", diz o coordenador do estudo.

Secretário executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade e coordenador do Centro de Ciências para a Conservação e Sustentabilidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Strassburg destaca que o cerrado é um hotspot mundial de biodiversidade – região biogeográfica que é simultaneamente uma reserva de biodiversidade e pode estar ameaçada de destruição.

Prevenção

Segundo a pesquisa, esse cenário pode ser evitado sem comprometer o aumento da produção agrícola programado, que projeta em torno de 15 milhões de hectares de expansão de soja e cana-de-açúcar nos próximos 30 anos no cerrado.

"Isso tudo pode ocorrer, desde que dentro de áreas já desmatadas, que hoje são usadas como pastagens de baixa produtividade. Você melhora a produtividade de pastagens em outros locais, libera algumas pastagens para soja e cana, faz toda essa expansão. Esses 15 milhões de hectares cabem na metade do cerrado que já foi desmatada sem necessidade de desmatamento adicional", ressalta Bernardo Strassburg.

De acordo com o especialista, o Código Florestal Brasileiro estima que os fazendeiros terão que restaurar 6 milhões de hectares, o equivalente a 6 milhões de campos de futebol, caso queiram ficar em conformidade com a lei. O artigo da revista mostra, ainda, que restaurar esse volume de vegetação nativa é bom, mas que, se isso for feito nas áreas otimizadas para proteção das espécies, será possível evitar 83% desse quadro projetado.

"Ou seja, se você expande a agricultura para áreas já desmatadas e restaura o cerrado nas áreas mais importantes para as espécies, você consegue evitar 83% do quadro projetado", comenta o pesquisador.

(com Agência Brasil)

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