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Estado de Minas CIÊNCIA

Nós somos capazes de procriar graças aos vírus

Ao infectar nossos ancestrais, os vírus cederam a capacidade de 'invadir' a célula e, com isso, foi possível criar a fecundação


postado em 02/03/2017 14:58

Segundo uma pesquisa americana, graças aos vírus os animais adquiriram a capacidade de se reproduzirem por meio de células sexuais específicas (espermatozoide e óvulo)(foto: Pixabay)
Segundo uma pesquisa americana, graças aos vírus os animais adquiriram a capacidade de se reproduzirem por meio de células sexuais específicas (espermatozoide e óvulo) (foto: Pixabay)
Os genes responsáveis pela união das células sexuais nos animais podem ter sido introduzidos no organismo de nossos antepassados graças a um vírus, que teria transmitido sua capacidade de "invasão" da estrutura celular, afirmam cientistas americanos em estudo publicado no jornal científico Cell.

"A natureza criou poucos métodos de união de uma célula com outra. A mais antiga albumina [proteínas dos animais] deste tipo, usada por muitos organismos na Terra para a reprodução, é idêntica em sua estrutura à molécula usada pelos vírus da dengue e da zika para penetrar em nossas células", diz o pesquisador William Snell, da Universidade de Maryland, em College Park, nos Estados Unidos, no artigo publicado recentemente.

Segundo Snell, os cientistas tentam descobrir, há tempos, como os organismos conseguiram a capacidade de se reproduzirem sexuadamente. A maioria dos investigadores acredita que a razão para o aparecimento das relações sexuais é simples: a adaptação a novos parasitas e infeções. Por outro lado, a questão de como nossos antepassados adquiriram esta capacidade continuava sem solução.

William Snell e seus colegas americanos encontraram a resposta estudando a estrutura da albumina, usada pelos espermatozoides e óvulos durante a fecundação. Os cientistas se interessaram pela proteína chamada HAP2. Ela está contida em organismos unicelulares e em algumas algas e insetos, o que indica a presença deste gene no antepassado comum de todos os eucariotas, ou seja, seres vivos com células com um núcleo celular.

Esse gene (proteína), segundo as observações feitas no estudo, é usado por organismos unicelulares para penetrar nas células humanas. Isso fez os cientistas concluírem que a fecundação das células durante o ato sexual não era a função inicial da proteína.

Assim, os especialistas compararam a estrutura da HAP2 com a de outras albuminas usadas pelos vírus para a contaminação. Foi descoberto que as estruturas são completamente idênticas excetuando uma "falha" em uma parte essencial da proteína.

Então os cientistas fizeram um experimento: eles corrigiram essa falha em células da alga Chlamydomonas reinhardtii. Como resultado, as células perderam a capacidade de se reproduzirem por via sexual – elas se uniam, mas não conseguiam completar o processo. Consequentemente, é possível concluir que a capacidade de ter relações sexuais foi "um presente" dos vírus aos nossos antepassados durante uma "corrida armamentista" entre eles.

Além de revelar as raízes evolucionais do sexo, a descoberta tem uma aplicação prática. A albumina HAP2 é usada por muitos patógenos, como a malária ou a toxoplasmose, e o bloqueio dela pode tornar as células humanas imunes a esses parasitas. Além disso, o bloqueio da albumina em ovos de insetos os tornará estéreis, o que poderá proteger a produção agrícola.

(com Agência Sputnik)

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