
Após aproximadamente cinco anos de estudo e com a ajuda de outros pesquisadores, o professor da EACH chegou a essa conclusão por meio de duas pesquisas, uma delas realizada em âmbito nacional e a outra em nível internacional.
O estudo feito no Brasil avaliou 12.884 pessoas localizadas em diferentes regiões do país, ou seja, em diferentes latitudes. O objetivo era testar se a latitude está associada à regulação do ritmo circadiano nos seres humanos. Ritmo circadiano é o termo científico que designa o relógio biológico do homem, sendo influenciado pela variação da luz, temperatura e outros fatores.
"A pesquisa nos mostrou que as pessoas no norte e nordeste do Brasil dormem e acordam mais cedo do que as pessoas que vivem no sul do país em função de como estão expostas à luz do Sol. O que acontece em Natal, São Paulo e Porto Alegre é um reflexo do que ocorre ao longo do país: quanto maior a exposição à luz solar, mais o homem acorda e dorme mais cedo", esclarece Mário Pedrazzoli Neto.
Zona urbana e ambiente rural
Já no cenário internacional, foram analisadas duas cidades de Moçambique, na África. Neste caso, o estudo levou em conta como os diferentes modos de vida de moradores da cidade urbanizada Milange e da comunidade rural Tenga afetam as características do sono.
Participaram da pesquisa 74 moradores, 37 de cada local, que foram entrevistados por um aluno da University of Surrey, da Inglaterra – ele foi até Moçambique coletar os dados para a pesquisa.
"Comparando um local mais urbanizado com um ambiente rural, o estudo apontou que o sono varia de acordo com o acesso à energia elétrica e também com o local de dormir, incluindo os tipos de cama, por exemplo", destaca o professor da USP.
Os moradores de Milange, local urbanizado, deitam-se mais tarde do que os habitantes de Tenga, da zona rural, devido ao fácil acesso à energia elétrica. Além disso, eles também acordam um pouco mais tarde do que as pessoas de Tenga e possuem uma melhor qualidade de sono por terem camas e quartos mais confortáveis do que no local rural. Já Tenga acorda e dorme mais cedo, possui pior qualidade de sono e fica pouco exposta à luz após o anoitecer. Apesar de apresentar características diferentes de sono, ambas as localidades têm a mesma duração, ou seja, os moradores de Milange e Tenga dormem pela mesma quantidade de horas.
De acordo com Pedrazzoli, pode-se dizer que "esses estudos trazem uma nova perspectiva de se entender o sono como uma resposta fisiológica do organismo às condições ambientais e, portanto, bem flexível do ponto de vista fisiológico e não mais como uma espécie de essência humana inflexível".
(com Jornal da USP)