Estado de Minas CIÊNCIA

Estudo da USP analisa efeito de substância cancerígena presente no cigarro e no churrasco

O benzopireno é considerado perigoso e pode induzir a mutação celular, típica do câncer


postado em 22/09/2017 09:58 / atualizado em 22/09/2017 10:14

A fumaça do cigarro, assim como a fuligem do escapamento dos carros e as carnes grelhadas na brasa, possuem o benzopireno, substância considerada cancerígena(foto: Pexels)
A fumaça do cigarro, assim como a fuligem do escapamento dos carros e as carnes grelhadas na brasa, possuem o benzopireno, substância considerada cancerígena (foto: Pexels)
Presente na fumaça do cigarro, nos escapamentos dos automóveis, na queima da madeira e em carnes excessivamente grelhadas na brasa ou defumadas, o benzopireno é uma substância cancerígena pertencente à classe dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.

Uma pesquisa coordenada pela professora Ana Paula de Melo Loureiro, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, tenta entender os vários mecanismos pelos quais o benzopireno pode induzir a mutação de células humanas. Os resultados preliminares foram divulgados em agosto durante o V Symposium on Epigenetics and Medical Epigenomics, realizado em São Paulo.

De acordo com a pesquisadora, o objetivo é identificar as sequências de reações biológicas, envolvidas no desenvolvimento do câncer e, assim, encontrar possíveis alvos para a prevenção ou tratamento da doença. "Testes mostraram que a suplementação das culturas celulares com nicotinamida ribosídeo, um dos componentes da vitamina B3, protegeu as células e impediu a transformação maligna. Agora, pretendemos entender por quais mecanismos isso acontece e se esse composto pode ser usado na quimioprevenção", revela Ana Paula Loureiro.

Os experimentos estão sendo realizados com células normais do pulmão – mais precisamente do epitélio brônquico. Estas células são incubadas com o benzopireno durante uma semana. Conforme a professora, por ser uma substância de rápida absorção e biotransformação, ela precisa ser reposta diariamente nas culturas.

Análises feitas durante o período de incubação revelaram a ocorrência de alterações no DNA – tanto genéticas (lesões capazes de originar mutações na sequência de nucleotídeos) quanto epigenéticas (aumento dos níveis de 5-metilcitosina, o que altera a expressão de genes).

Ao final, as células expostas à substância cancerígena e suplementadas com nicotinamida ribosídeo não se mostraram capazes de crescer – apresentando comportamento semelhante ao das células-controle (não expostas ao benzopireno).

"Sabemos que as células tumorais têm o metabolismo alterado, projetado para o crescimento. Agora pretendemos investigar de que modo a suplementação com nicotinamida ribosídeo protegeu contra a transformação de células que estavam em contato com uma substância conhecidamente carcinogênica", esclarece Ana Paula.

(com Agência Fapesp e Jornal da USP)

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação