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Estado de Minas SAÚDE

Sobrepeso e obesidade contribuem para o surgimento de câncer

Estudo mostra que quase 4% dos casos de tumores no Brasil são associados ao IMC elevado


postado em 24/04/2018 08:02 / atualizado em 24/04/2018 08:25

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Segundo um estudo epidemiológico feito pelo departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em colaboração com a Universidade de Harvard (Estados Unidos), cerca de 15 mil casos de câncer no Brasil, ou 3,8% do total, poderiam ser evitados, todos os anos, se as pessoas se preocupassem com a redução do sobrepeso e da obesidade. O problema é que, até 2025, a estimativa dos cientistas é de que mais de 29 mil novos casos de tumor, anualmente, serão atribuídos ao excesso de peso.

"O problema principal é que vem ocorrendo um aumento nas prevalências de excesso de peso e obesidade no Brasil e, com isso, os casos de câncer atribuíveis a essas duas condições também devem crescer. Fora isso, espera-se que haja um aumento nos casos de câncer como um todo, pois a população do país vai aumentar e envelhecer", comenta o pesquisador Leandro Rezende, da FMUSP, um dos autores do artigo publicado na revista Cancer Epidemiology.

Ainda segundo o cientista, o aumento do poder econômico nos últimos anos levou a um maior consumo, porém, no caso da alimentação, o fenômeno ficou atrelado principalmente aos alimentos ultraprocessados. "O estudo mostra essa fase de transição nutricional epidemiológica. São justamente esses alimentos altamente calóricos, com quantidade elevada de açúcar, sal e gordura, que também são os produtos mais baratos", afirma Rezende.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a obesidade e sobrepeso estão associados ao aumento de risco de 14 tipos de câncer, como os de mama (pós-menopausa), cólon, reto, útero, vesícula biliar, rim, fígado, esôfago, ovário, pâncreas, próstata e estômago. No Brasil, a incidência desses tumores corresponde à metade do total de casos da doença diagnosticados todos os anos.

O estudo feito pela equipe da FMUSP, em colaboração com pesquisadores americanos, calculou a fração atribuível populacional do câncer relacionado ao índice de massa corporal (IMC) elevado. Essa fração é uma métrica para estimar a proporção da doença possível de prevenir na população caso o fator de risco (neste estudo: sobrepeso e obesidade) fosse eliminado, mantendo os demais fatores/causas estáveis.

População feminina

De acordo com a pesquisa, 3,8% dos mais de 400 mil casos de câncer diagnosticados anualmente são atribuíveis ao IMC elevado. Verificou-se também que esses casos são mais comuns nas mulheres (5,2%) do que nos homens. Isso se dá não apenas pelo fato de a média do IMC ser mais elevada no público feminino, mas, principalmente, porque três tipos de câncer atribuíveis à obesidade e sobrepeso – ovário, útero e câncer de mama – afetam quase exclusivamente essa parcela da população.

Para estimar o excesso de peso e a obesidade na população brasileira, os pesquisadores usaram dados sobre IMC no Brasil em 2002 e 2013 da Pesquisa de Orçamentos Familiares e da Pesquisa Nacional de Saúde, ambas conduzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise de dados em dois momentos, e com 10 anos de diferença, se justifica para analisar a latência da doença a partir do excesso de peso ou obesidade.

Os dados do IBGE mostram que 40% da população brasileira tinha sobrepeso ou obesidade em 2002. Em 2013, o total subiu para aproximadamente 60%. Levando em conta o IMC, a magnitude do risco relativo, os casos da doença e o período de latência, os pesquisadores estimaram que, em 2012, cerca de 10 mil casos de câncer em mulheres e cinco mil casos em homens eram atribuíveis ao excesso de peso e obesidade aferidos 10 anos antes.

De modo a quantificar a dimensão da contribuição do sobrepeso e da obesidade na incidência de câncer no Brasil, os autores do estudo estimaram FAPs da doença em 2012 (com dados existentes) e em 2025 (por meio de projeção) atribuídas a IMC elevado. As frações foram calculadas de acordo com sexo, idade, área geográfica e tipo de câncer.

Alimentos ultraprocessados

O estudo da USP mostra que as vendas de produtos ultraprocessados cresceram 103% em toda a América Latina entre os anos de 2000 e 2013, acompanhadas de um consequente aumento no IMC nos países da região. Para os autores, reverter esse quadro exige políticas públicas como a regulamentação de imposto, rotulagem nutricional e restrição de marketing de alimentos ultraprocessados.

"Esse crescimento de vendas na América Latina retrata uma estratégia da indústria de alimentos, assim como foi, ou tem sido, a da indústria de tabaco. Quando alguns países começam a regular minimamente a venda e publicidade desses alimentos, eles partem para regiões em que as leis ainda não foram estruturadas para promover a saúde da população", analisa Leandro Rezende.

Segundo ele, o crescimento dos alimentos ultraprocessados no Brasil é comparável ao que ocorreu com a indústria de tabaco nos anos 1980. "O tabagismo, hoje, é um problema maior em países de baixa e média renda porque é onde a indústria de tabaco está focada. Fazer isso no Brasil em 2018 ficou mais complicado. Temos restrição de publicidade, é proibido fumar em ambiente fechado. Já no caso dos alimentos ultraprocessados, é como se estivéssemos em 1980. Os produtos não são comercializados, rotulados e taxados de maneira adequada a garantir a saúde da população", comenta.

Outros fatores

A equipe de pesquisadores está calculando também o peso de outros fatores, como sedentarismo, tabagismo, alimentação e consumo de álcool, na incidência e mortalidade por câncer. Os dados desses outros fatores ainda não foram publicados, mas o objetivo final do trabalho é compará-los e estimar quantos casos de câncer seriam evitáveis no Brasil.

"Existem fatores genéticos que aumentam o risco do desenvolvimento do câncer, mas isso não é algo modificável e também eles não excluem os outros fatores que causam a doença. O tabagismo é o principal fator de risco ou causa de câncer no Brasil, podemos adiantar essa análise, mas ele está caindo de forma importante, com prevalência em cerca de 15% da população. Com isso, outros fatores começam a ganhar relevância na formação de políticas públicas. Os dados mostram que não dá para cessar os esforços para reduzir o tabagismo, mas combater o sobrepeso e a obesidade também deve ser prioridade", avalia o pesquisador.

(com Agência Brasil)

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