Publicidade

Estado de Minas BEM-ESTAR

Cientistas cancelam e refazem estudo sobre benefícios da dieta mediterrânea

Apesar de terem refeito o artigo, resultados da pesquisa continuam os mesmos


postado em 02/07/2018 09:29 / atualizado em 02/07/2018 10:20

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
A chamada "dieta mediterrânea", rica em vegetais, frutas, peixe, nozes e azeite de oliva, vem sendo "cultuada" em todo o mundo devido aos inúmeros benefícios que proporciona para a saúde. Durante décadas, pesquisadores têm comprovado que os moradores dos países banhados pelo mar Mediterrâneo apresentam taxas mais baixas de doenças cardíacas. Em 2013, um importante estudo sobre o tema foi a "prova" que faltava, em termos clínicos, para a comprovação dos efeitos positivos dessa dieta para o sistema cardiovascular.

O estudo, realizado na Espanha, mostrou que o consumo de alimentos típicos do Mediterrâneo pode reduzir o risco de ataque cardíaco, derrame ou morte por doença cardíaca em cerca de 30%. O experimento durou cinco anos e foi publicado no prestigiado jornal científico New England Journal of Medicine. Logo após a divulgação dos resultados, a mídia de todo o mundo passou a "cultuar" a dieta mediterrânea.

Porém, na quarta, dia 13 de junho, os autores do estudo decidiram fazer algo inesperado: corrigir o relatório. Os pesquisadores renegaram o artigo original e publicaram um novo, depois de enfrentar críticas sobre a forma como o experimento inicial havia sido conduzido.

As conclusões do novo estudo são praticamente as mesmas da versão original: a dieta mediterrânea pode, sim, prevenir doenças cardíacas. Mas, a linguagem do novo relatório é um pouco mais "pé no chão".

O estudo original concluiu que a dieta "resulta em uma redução substancial no risco" de doenças cardíacas graves em pessoas com tendência ao problema, enquanto o novo artigo afirma que os seguidores da dieta mediterrânea têm um risco menor do que os que não seguem.

Apesar da linguagem "suave" no relatório, o principal autor do estudo, Miguel A. Martínez-González, da Universidade de Navarra, na Espanha, afirma que o nexo de causalidade é tão forte quanto o relatório original. "Agora estamos mais convencidos do que nunca da robustez do julgamento e das conclusões. Particularmente porque nenhum teste anterior passou por um exame tão intenso", revela o pesquisador em entrevista para o jornal americano The Washington Post.

Um dos responsáveis por gerar essa revisão foi o anestesista britânico John Carlisle. Ele é um crítico ferrenho de ensaios clínicos randomizados, que dividem os participantes ao acaso em grupos separados para efeito de comparação de diferentes tratamentos. "Se você está inventando dados, a tentação é tornar seus grupos mais parecidos do que o que aconteceria em circunstâncias naturais", comenta Carlisle ao jornal americano.

Em 2017, o britânico publicou um relatório que analisou detalhadamente 5.087 estudos randomizados e controlados durante um período de 10 anos. Sua análise identificou, entre outras coisas, 11 relatórios publicados no periódico científico New England Journal of Medicine com variáveis %u200B%u200Bde base que pareciam "quase impossíveis" de acontecerem aleatoriamente.

Em poucos dias, a renomada revista começou a revisar os 11 relatórios. Destes, apenas um apresentou preocupações legítimas, conforme a New England Journal of Medicine: o estudo da dieta mediterrânica de 2013. Sua análise questionou se alguns participantes tinham recebido dietas ao acaso.

Miguel Martínez-González e sua equipe reavaliaram os dados e descobriram que, embora algumas das descobertas de Carlisle fossem "baseadas em suposições equivocadas", havia dois problemas principais.

O estudo da alimentação mediterrânea, que se deu em 11 locais na Espanha, envolveu mais de sete mil pessoas com alto risco de doença cardíaca, dividios em três dietas: mediterrânea suplementada com azeite extra-virgem; mediterrânea suplementada com nozes mistas; dieta simples com baixo teor de gordura (o grupo controle).

Descobriu-se que em cerca de 10% dos participantes, as mesmas dietas foram atribuídas a indivíduos residentes no mesmo domicílio. Se um casal se juntasse ao estudo em conjunto, por exemplo, ambos os participantes seguiriam a mesma dieta. Para esses participantes, a atribuição não era, portanto, aleatória; os membros da família compartilham a genética e outras variáveis %u200B%u200Bambientais, dificultando a identificação de se apenas a dieta levou a resultados de saúde.

Conforme Martínez-González, os autores "inadvertidamente" esqueceram de explicar essa questão no protocolo do estudo. Além disso, em um dos 11 locais de estudo, um pesquisador atribuiu a mesma dieta a uma aldeia inteira, que o pesquisador espanhol descreveu como um "aglomerado".

No novo relatório, os pesquisadores fizeram ajustes estatísticos para corrigir esses problemas. A equipe "tomou mais cuidado para ajustar possíveis desequilíbrios", afirma Martínez-González ao Washington Post.

O relatório revisado, que substituiu o estudo retratado, não se baseou no pressuposto de que todos os participantes foram aleatoriamente designados. Apesar dessas mudanças, os resultados permaneceram intactos, completa o professor da Universidade de Navarra.

Embora as conclusões sejam as mesmas, John Carlisle pede que os leitores permaneçam sempre céticos. Para ele, todas as revistas médicas poderiam fazer um trabalho mais completo de revisar documentos e dados antes da publicação.

"Tudo o que você acredita, não deve depender de apenas um papel. Tente ter não apenas uma dieta equilibrada, mas também uma visão equilibrada", diz ao Washington Post.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade