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Estado de Minas CIÊNCIA

Dieta pobre em proteína na gravidez é capaz de aumentar risco de câncer de próstata

Estudo da Unesp com cobaias associa a falta do nutriente nas mães ao tumor na fase adulta


postado em 20/08/2018 09:47 / atualizado em 20/08/2018 13:05

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Segundo um estudo feito pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, a baixa ingestão de proteínas durante a gestação e o aleitamento podem aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de próstata na fase adulta. Os resultados da pesquisa foram divulgados no periódico científico The Journals of Gerontology.

"Observamos em estudo anterior que a exposição intrauterina à dieta hipoproteica prejudica o desenvolvimento da próstata. Agora, comprovamos que esse efeito registrado no pós-natal aumenta a incidência de doenças prostáticas quando esses indivíduos envelhecem", comenta o professor Luis Antonio Justulin Junior, coordenador do estudo.

O estudo alimentou cobaias prenhes com uma ração contendo apenas 6% de proteína. O alimento normalmente oferecido a ratos de laboratório tem entre 17% e 23% desse nutriente. "Dados da literatura indicam que o porcentual mínimo necessário para a rata levar a gestação sem problemas é 12%", afirma Justulin em entrevista à Agência Fapesp.

As fêmeas incluídas na pesquisa foram divididas em três grupos. O de controle recebeu a ração padrão, com pelo menos 17% de proteína, durante toda a gestação e 21 dias após o nascimento – período de lactação.

A partir do desmame, os filhotes também foram alimentados com a dieta padrão. Na avaliação feita quando a prole completou 540 dias de vida, quando já são considerados ratos velhos, os pesquisadores não observaram nenhum caso de tumor prostático.

O segundo grupo de fêmeas recebeu a ração com apenas 6% de proteína durante a gestação. Após o nascimento, passou a se alimentar com a dieta padrão, assim como os filhotes depois do desmame.

Na avaliação dos 540 dias, 33% dos descendentes machos haviam desenvolvido câncer de próstata. No grupo três, exposto à dieta hipoproteica durante todo o período de gestação e também de lactação, o índice de descendentes afetados por tumores na próstata foi de 50%.

"Fizemos a análise histopatológica [de grupo de células] nas glândulas desses animais e, em todos os grupos, encontramos alterações pré-neoplásicas [pré-tumor] que podem interferir na função glandular, como hiperplasia, atrofia epitelial e neoplasia interepitelial. Esta última com potencial para se tornar um carcinoma, segundo dados da literatura científica. Mas somente nos animais expostos à dieta hipoproteica na vida intrauterina observamos o desenvolvimento do câncer propriamente dito", esclarece o professor da Unesp à Fapesp.

Desequilíbrio

Em trabalho anterior, publicado em 2017 na revista científica General and Comparative Endocrinology, o grupo de cientistas detalhou alguns dos prejuízos que a dieta hipoproteica materna induz na prole.

Análises feitas no 10º e no 21º dia após o nascimento mostraram que, nos filhotes de mães submetidas à restrição proteica, a próstata cresce menos e apresenta células epiteliais menos diferenciadas – características que mostram atraso no desenvolvimento. A glândula também apresenta prejuízos funcionais, pois produz uma quantidade menor de secreção e conta com menos espaço para armazená-la.

Vale lembrar que a função da próstata é produzir o fluido que protege e nutre os espermatozoides no sêmen, tornando-o mais líquido.

"Esses animais, de maneira geral, apresentam baixo peso no nascimento, órgãos menos desenvolvidos e alteração nos níveis hormonais. Mas, por volta do vigésimo primeiro dia após o nascimento, começamos a observar um crescimento acelerado para tentar compensar o déficit", afirma Luis Antonio Justulin.

"Nossos trabalhos anteriores mostraram que os filhotes submetidos à restrição proteica intrauterina nascem pequenos, mas quando se tornam adultos jovens já não apresentam diferenças em relação aos indivíduos do grupo controle, tanto em tamanho quanto em volume da próstata e nos níveis hormonais. Agora estamos percebendo que, quando os animais envelhecem, as diferenças voltam a aparecer. É como se o envelhecimento funcionasse como um segundo insulto ao organismo, considerando que o primeiro foi a dieta hipoproteica na fase inicial de desenvolvimento", completa o professor.

com Agência Fapesp)

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