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Estado de Minas CIÊNCIA

Fiocruz cria teste para detectar Trypanosoma cruzi no açaí

Protozoário é o causador da Doença de Chagas, transmitida por barbeiro


postado em 03/09/2018 10:27 / atualizado em 03/09/2018 10:52

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguiu criar um teste capaz de detectar a presença do material genético do parasita causador da Doença de Chagas em alimentos à base de açaí. O método pode contribuir para a investigação dos casos de transmissão por via oral, que atualmente representam quase 70% dos registros de infecção aguda no Brasil – forma da doença que pode ser fatal. Os resultados foram publicados na revista científica Parasites and Vectors.

Para validar a técnica, o estudo partiu da análise de 140 amostras de alimentos à base de açaí comercializados em feiras e supermercados do estado do Pará (entre 2010 e 2015) e do Rio de Janeiro (entre 2010 e 2012). A presença do material genético do Trypanosoma cruzi, causador de Chagas, foi detectada em 14 produtos, ou seja, 10% do total das amostras. O DNA do barbeiro (triatomíneo) que transmite o parasita também foi identificado em uma das amostras.

Os autores destacam que a identificação do material genético do T. cruzi nos alimentos não implica, necessariamente, que havia risco de transmissão da doença, uma vez que o material genético pode ser detectado mesmo se os parasitas estiverem mortos e, portanto, incapazes de provocar infecção. De toda forma, a pesquisa indica que as amostras foram contaminadas com fezes ou fragmentos do inseto transmissor, que costuma habitar os açaizeiros. Outra forma de contaminação são os dejetos de animais silvestres, que podem participar do ciclo de transmissão do protozoário. Por isso, ainda que o método identifique apenas o material genético do T. cruzi, sem apontar se o protozoário está vivo ou morto, o achado é suficiente para acender um alerta sobre a necessidade de reforço das boas práticas de higiene e manufatura dos produtos derivados do açaí.

"Reforçamos que, como não foi avaliado o potencial de infecção dos microrganismos, é provável que eles estivessem mortos e não pudessem provocar o agravo. Mas a simples presença do DNA do parasita mostra que houve contato com o alimento, apontando para falhas no processo de produção que podem levar à transmissão da doença de Chagas", afirma o pesquisador Otacílio Moreira, do Laboratório de Biologia Molecular de Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo Cruz, autor do estudo, em entrevista para a Agência Fiocruz.

Transmissão oral

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2007 e 2016, o Brasil registrou, em média, 200 casos agudos de Doença de Chagas por ano. Destes, 69% foram causados por transmissão oral, derivada da contaminação de bebidas e comidas contaminadas. Embora casos de infecção já tenham sido ligados ao consumo de outros alimentos, o açaí é o item mais frequentemente associado a essa rota de transmissão do T. cruzi. Entre as notificações registradas de 2007 a 2016, cerca de 95% ocorreram na região norte, com 85% no estado do Pará, onde o consumo do suco fresco de açaí é um item tradicional da cultura alimentar.

Pesquisas apontam que o aquecimento acima de 45º C e a pasteurização são medidas eficazes para matar o protozoário. Por outro lado, o simples congelamento dos frutos pode não ser suficiente. Um estudo mostrou que o parasito continuava infectivo após 26 horas de contato com a polpa de açaí congelada. Para evitar a contaminação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda uma série de medidas, que vão desde cuidados como retirar galhos, troncos e demais folhagens do cacho de açaí no momento da colheita até a seleção, lavagem e desinfecção dos frutos antes do preparo na etapa de processamento.

A maioria dos pacientes não apresenta sintomas na fase aguda da doença. Quando acontecem, as manifestações mais comuns são febre por mais de sete dias, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e nas pernas. Principalmente nos casos de transmissão oral, dor de estômago, vômitos e diarreia são frequentes. Em até 5% dos casos, a infecção aguda por via oral pode levar à morte. O tratamento indicado para a forma aguda da infecção inclui medicamento específico contra o T. cruzi e, na maioria dos casos, é eficaz para curar o problema. Entre os pacientes não tratados, um terço desenvolve a forma crônica da doença, na qual problemas cardíacos ou digestivos podem se manifestar cerca de 20 a 30 anos depois da infecção.

(com Agência Fiocruz)

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