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Estado de Minas INTERNACIONAL

Leia depoimentos de mineiros que vivem fora do Brasil sobre o novo coronavírus

Apreensão, medo e os dramas da vida em reclusão pautam os relatos a respeito da pandemia vindos de todas as partes do mundo


postado em 17/03/2020 09:58 / atualizado em 17/03/2020 22:46

Mineiros que vivem no exterior relataram à Encontro suas experiências com a pandemia de coronavírus(foto: Arquivo pessoal)
Mineiros que vivem no exterior relataram à Encontro suas experiências com a pandemia de coronavírus (foto: Arquivo pessoal)
O mundo passa junto pela pandemia do novo coronavírus, sendo que cada nação está em uma etapa do combate. Desde a China, onde a curva de disseminação do vírus já começou a desacelerar, passando pela Itália, onde os casos continuam a crescer exponencialmente, mesmo com medidas severas de restrição de circulação de pessoas e fechamento de estabelecimentos comerciais, até o Brasil, que apenas agora começa a tomar decisões mais rígidas, em poucas cidades, contra o surto.

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A vida em reclusão no país da bota não tem sido fácil, apesar de necessária. Saudade de familiares e amigos, a quem o contato agora se resume ao digital. Nos Estados Unidos, em alguns estados as escolas já estão fechadas e a correria para supermercados e farmácias deixou prateleiras vazias. Testes e contas médicas custam fortunas para os bolsos dos americanos, deixando cidadãos apreensivos.

A Espanha fechou o cerco nos últimos dias, e por lá também o isolamento será a regra a partir de agora. Quem nos conta são mineiros espalhados pelo mundo, a quem Encontro pediu que compartilhassem suas visões sobre o que está acontecendo na região onde vivem. Confira os depoimentos na íntegra:

Bianca Rabe 28 anos, arquiteta
Torino, Itália

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
A vida cotidiana na Itália mudou completamente nas duas últimas semanas. Os novos decretos do governo para conter o contágio do coronavírus foram severos. Atualmente todas as lojas estão fechadas, com exceção daquelas que vendem produtos essenciais, como as farmácias e supermercados. Escolas, universidades e instituições culturais estão todas fechadas. Qualquer tipo de encontro entre pessoas foi proibido, e isso vai de eventos a reuniões de trabalho e, até mesmo, jantares em casa. Então, quem não tiver um motivo válido ou essencial não deve sair de casa. Qualquer tipo de plano foi adiado: congressos, festas, aniversários, viagens, funerais. Os dias se passam em clausura, trabalhando de casa. O sentimento de apreensão cresce. A Cada dia, o que vemos nas notícias é o crescente número de mortes. As pessoas, motivadas pelo pânico, desrespeitam as leis e fogem do norte da Itália às suas cidades natais e muitos são pegos em flagrante na noite bebendo com os amigos. O lado positivo de tudo isso é ver que, mesmo assim, tem muita gente fazendo sua parte: empresas que disponibilizam instrumentos para facilitar o smartworking, celebridades organizando campanhas de arrecadação para os hospitais. Todos os dias ao meio-dia há uma grande onda de aplausos para o pessoal da vigilância sanitária, cada um aplaudindo da própria janela. Mas a vida virou isolamento, solidão. Não podemos ver amigos e familiares. Não podemos nos relacionar fisicamente com o mundo exterior, o modo de contato é a internet. A esperança é que no dia 3 de abril, quando os decretos ministeriais perderão efeito, todo o sacrifício terá valido à pena e poderemos voltar à normalidade.

Márcia Sartini, 43 anos, professora
Flórida, EUA

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Por aqui percebemos que há certo pânico. O presidente Trump decretou estado de emergência nacional. Assim, as escolas estão fechadas e só reabrirão em abril. Na cidade onde moramos, há um caso confirmado. O álcool gel já está em falta há várias semanas. Está faltando também pão, água e papel higiênico. Em casa, estamos tranquilos, reforçando os hábitos de higiene e seguindo todas as orientações para evitar o contágio. Estamos confiantes que logo esta epidemia será controlada e a vida voltará ao normal.

Juliana Soares, 32 anos, doutoranda
Madri, Espanha

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Madri é onde tem o maior número de casos na Espanha, são mais de 2 mil. A situação é muito séria. Falta papel higiênico e massas - que é um tipo de comida mais fácil de armazenar. A cidade decretou fechamento de todos os bares e lojas. Seguem abertas farmácias e estabelecimentos que vendem produtos alimentícios. A cena da cidade mudou. Os vizinhos estão conversando entre as varandas. A Netflix liberou gratuitamente o sinal. Artistas começaram a fazer festivais de música via streaming. Algumas peças de teatro também devem fazer o mesmo. Museus devem promover visitas virtuais nos próximos dias. Estamos na torcida para isso passar o quanto antes. Tenho medo de não poder voltar para o Brasil. Estou me cuidando e fico preocupada com a doença, mas o que mais me preocupa é a possibilidade da cidade "fechar" completamente e não podermos mais sair de casa.

Izabella Bueno, 27 anos, jornalista; Stefen Bueno, 32 anos, profissional de limpeza
Cidade do Porto, Portugal

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Portugal está em estado de alerta. As universidades estão com as aulas presenciais suspensas e as escolas estão fechadas. Os números de casos estão aumentando muito todos os dias. A Câmara do Porto suspendeu todas as atividades, eventos públicos, teatros, museus e jogos. A polícia está nas praias pedindo que as pessoas fiquem em suas casas. No dia do anúncio da pandemia, os supermercados ficaram lotados e as pessoas começaram a comprar além da necessidade, para estocar comida. As maiores redes de supermercados estão funcionando com horário reduzido. Os bares e casas noturnas não irão funcionar a partir dessa semana. A princípio, as pessoas não estavam levando a sério, mas agora as ruas estão vazias. Muitas lojas estão fechadas e há poucos turistas nas ruas e nos transportes. Meu esposo trabalha na limpeza dos alojamentos locais e a empresa começou a demitir funcionários devido à queda de mais de 50% nas reservas e também estão fornecendo luvas e álcool em gel para reduzir o risco de contágio. Todos estão preocupados com o impacto econômico que o país está tendo e fazendo tudo que é possível para que a situação não fique semelhante ao que se vê em países vizinhos, como Espanha, França e Itália.

Flávia Lelis, 34 anos
Tenessee, Estados Unidos

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
No Tennessee o número de casos confirmados do coronavírus cresceu muito em apenas uma semana. Locais com grande passagem de pessoas como universidades, hospitais e prédios públicos na região de negócios e turismo tiveram casos confirmados, aumentando o alarde da população. Como agravante, poucos dias antes da confirmação do primeiro caso, o estado tinha acabado de sofrer com a passagem de um tornado na capital, Nashville, e regiões vizinhas, deixando 25 mortos, quase 200 construções destruídas, mais de 44 mil pessoas sem energia elétrica e várias escolas públicas destruídas. A junção dos estragos feitos pelo tornado e o medo do coronavírus se alastrar rapidamente causaram grandes impactos econômicos em Nashville. Logo após o tornado, muitas lojas e casas de shows foram forçados a fechar as portas, por serem impactadas pelos tornados. Em seguida, com o crescimento dos casos da doença, muitos eventos musicais e esportivos foram cancelados, e escolas e universidades foram fechadas até o fim do ano letivo, em maio. Nashville que é conhecida como "Cidade da Música" e que baseia grande parte da sua economia na indústria do entretenimento e turismo, já começa ver hotéis e restaurantes vazios, e o centro musical da cidade, sempre cheio de turistas, mais parece uma cidade fantasma. As histórias de pessoas sendo dispensadas dos seus trabalhos na indústria de eventos e prestacao de servicos também começam a aparecer. Como no restante do país, alguns itens como álcool em gel, lenços desinfetantes, papel higiênico, termômetros e certos alimentos não podem ser mais encontrados nas lojas. Os preços nos supermercados estão claramente alterados, servicos de entregas de compras e comidas estão com altas demandas e como consequência cobrando um preço mais alto pelo serviço.

Luciana Marques, 31 anos, doutoranda
Berkeley, Estados Unidos

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Acredito que não há um esforço coletivo e um plano nacional para contenção e mitigação da transmissão e dos danos causados pelo vírus. Isso porque o sistema de saúde é totalmente privado, o que significa que é responsabilidade de cada indivíduo da sociedade buscar o tratamento e pagar por ele. No início da crise, há 3 semanas, ouvíamos relatos de pessoas voltando de viagem que buscaram teste ou tratamento e receberam contas de até 5 mil dólares. Nessa situação, as pessoas que ficaram doentes no início, em sua maioria, se trataram em casa (ou não se trataram) e não notificaram nenhuma autoridade. Por isso, os números aqui não representam a realidade e o vírus conseguiu se espalhar na sociedade de forma invisível, o que fez com que a reação fosse demorada. Nesse momento, há um início de ação por parte do governo federal, como fechar fronteiras, recomendar o distanciamento social e negociar com os planos de saúde a retirada do custo para o caso de corona vírus. Mas as informações são desconectadas e há uma insegurança social a respeito do que deve ser feito. Adiciona-se a isso o fato de que a cultura americana é baseada no livre arbítrio e no individualismo. Ou seja, as pessoas tentam se proteger de forma egoísta, em uma reação "salve-se quem puder". Nos últimos dias, vimos o esgotamento de comida enlatada, batatas, pão, macarrão e itens de higiene no supermercado, de tal forma que as lojas agora limitam a quantidade de certos itens que você pode comprar. Por último, há a questão do trabalho, que é um elemento central na sociedade americana. Então as empresas, incluindo o Laboratório onde eu trabalho, estão estabelecendo obrigatoriedade de home office para aqueles que podem executar suas tarefas à distância. Eu me incluo nesse caso, e ficarei trabalhando de casa pelas próximas duas semanas, pelo menos. Mas para atividades que não podem ser realizadas à distância, o trabalhador deve ir à empresa. No caso de escolas, todas as universidades mudaram suas aulas para online a fim de evitar aglomeração de estudantes, e muitas escolas cancelaram suas aulas. Percebe-se que há menos pessoas circulando nas ruas. Todos os grandes eventos foram cancelados, incluindo dois congressos que eu iria em abril. As empresas aéreas e os hotéis estão permitindo o cancelamento ou remarcação de voos. As viagens que estão sendo realizadas contam com 20 passageiros apenas.

Camila Aquino, 29 anos, advogada
Berlim, Alemanha

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Estou com uma recém nascida em casa, por isso não saio muito de casa. Minha filha tem um mês e uma semana. A empresa que meu marido trabalha sugeriu que os funcionários optassem por fazer home office e cancelaram as viagens a trabalho, que agora só podem acontecer com autorização do CEO da empresa. O que eu percebi de mudança foi que o transporte público continua funcionando, mas os motoristas dos ônibus colocaram uma proteção e agora ninguém passa pela porta da frente mais, só pelas portas do fundo. Eu sinto que em todos os lugares existe uma preocupação. Fomos ao supermercado e eu fiquei realmente preocupada, porque eu observei que várias prateleiras estavam vazias, faltando principalmente produtos que têm a validade mais estendida, como macarrão, molhos, enlatados e arroz. Papel higiênico também está faltando. Nas empresas nas quais nossos amigos trabalham, a orientação é a mesma da empresa do meu marido, que é colocar os funcionários em home office, indo pra empresa somente em casos de extrema necessidade. Várias escolas estão cancelando as aulas. Alguns pontos turísticos também estão fechados. Estamos tentando ficar em casa o máximo possível para não correr o risco de pegar o coronavírus e consequentemente não contaminar outras pessoas caso sejamos infectados. Estamos mantendo a calma e vivendo um dia de cada vez, sem pânico.

Marcus Oliveira, 36 anos, programador
Bangkok, Tailândia

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Eu e meu irmão Bruno estamos fazendo uma viagem de volta ao mundo, começamos em agosto do ano passado, com aquela passagem específica para isso, que dá direito a 10 lugares, com os destinos já definidos, sem direito a alteração. Começamos pela Europa, depois Egito, Tailândia, Vietnã, Camboja, e foi aí começou a aparecer o vírus. Nosso próximo destino era justamente a China. Não conseguimos sair da Tailândia, onde ficamos mais de um mês, por isso fizemos um curso de meditação. Nossos próximos destinos eram, além da China, Coreia do Sul, Austrália, EUA, Canadá e Brasil. Saindo do curso, onde era necessário ficarmos isolado, sem internet ou poder conversar com outras pessoas, vimos a notícia de que quem estivesse na Coreia do Sul não poderia ir para os Estados Unidos. Na Tailândia, no início, não tinha ninguém com máscara, mas no final já tinha muita gente indo trabalhar de máscara. Por isso, acabou faltando esse item, além de álcool gel, nas farmácias. Em bares, as pessoas tiravam a máscara, bebiam cerveja, mas voltavam com a máscara. As nossas passagens para Coreia do Sul e China foram canceladas, acabamos pulando esses destinos e viemos para Chicago, nos Estados Unidos. A festa de Saint Patrick's Day, tão famosa na cidade, foi cancelada e até desistiram de colorir o rio de verde, como fazem todo ano. Todos os bares e restaurantes ficarão fechados até pelo menos o dia 30 de março. Agora, estamos indo para Toronto, no Canadá, onde ainda não sabemos como está a situação. No dia 28 a gente retorna para o Brasil.

Eliana de Mattos, 55 anos, analista de sistemas
Montreal, Canadá

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
O governo de Quebec está sendo rigoroso, tomando medidas drásticas para conter a pandemia. Todas escolas e universidades estão fechadas. Bibliotecas, cinemas, clubes esportivos e academias de ginástica também. Espetáculos foram cancelados. Visitas em hospitais e em residências para idosos estão proibidos. Pessoas de mais de 70 anos foram desaconselhadas a sair de casa. Os bares e restaurantes estão vazios. Meu marido está hesitando em convidar sua mãe, de 97 anos, para vir nos visitar, pois temos dois filhos que frequentam a universidade e correm o risco de infectá-la, caso contraiam o coronavírus. Os supermercados foram invadidos por clientes em pânico, contrariando a recomendação de isolamento voluntário. O mais engraçado é que o produto mais em demanda foi o papel higiênico, apesar dos jornais e das redes sociais pregarem o uso do bidê.

Luiza Durães, 30 anos, administradora
Toronto, Canadá

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Num geral, está tudo funcionando, mas as escolas devem fechar em breve. As fronteiras também devem ser fechadas. Eu não assisto TV, então estou recebendo notícias por meio de outros brasileiros que moram aqui, em um grupo de WhatsApp. Trabalho em um restaurante e ouvi comentários de canadenses desprezando os riscos do coronavírus, mas a realidade é que tem muita gente em pânico, pois está faltando papel higiênico e álcool gel nos supermercados. Por isso algumas grandes redes estão impondo um limite de compra para um pacote por pessoa. Nos grupos de brasileiros no WhatsApp sempre que alguém encontra um desses itens avisa para que os outros saibam onde conseguir comprar. Presenciei uma cena bem marcante, onde vi um menino na escada rolante bem distante da pessoa na frente dele. Normalmente as pessoas ficam um ou dois degraus abaixo e ele ficou cinco degraus abaixo da outra pessoa. Muitas pessoas estão usando máscaras. Ainda não está se falando de todo mundo ficar dentro de casa. Aparentemente, os governantes estão tentando manter as coisas normais.

Beatriz Cadilhe, 26 anos, estatística
Connecticut, Estados Unidos

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Minha cidade fica a umas duas horas de Nova York, mas no meio do nada. Até brincam que a gente mora numa floresta. Temos só um caso confirmado, mas como a situação em outros lugares está começando a piorar, a histeria coletiva começou a chegar por aqui. As universidades, escolas e lugares públicos onde costumava ter aglomeração estão fechados. Os supermercado não tem mais água, enlatados e pão. Só se encontra coisas que estragam rápido como frutas e carnes. Produtos que duram mais, desapareceram. Os Estados Unidos realmente devem tomar medidas antes de o país entrar num nível de risco mais alto, pois aqui não existe saúde pública. Se as pessoas começarem a ficar doentes, não tem estrutura para tratá-las e a maioria não conseguirar pagar pelo tratamento. A saúde aqui é muito cara. Por isso, uma crise dessas se torna ainda mais grave. Eu acho que na maioria dos lugares do mundo, o problema com o corona não é pela da doença em si, mas é pelo contágio. Se todo mundo pegar, não tem estrutura hospitalar que aguente. O melhor caminho eu acho que é a prevenção. Entretanto, acho que há um pouco de histeria coletiva, pois vejo que não há necessidade de as pessoas irem aos supermercados e esgotar todos os produtos essenciais como se estivessem se preparando para uma guerra. Há um pouco de exagero nesse aspecto.

Victor Bilman, 31 anos, cirurgião vascular do Hospital San Raffaele
Milão, Itália

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Quando a situação se agravou, muitos culparam o governo italiano por ter subestimado a real dimensão do efeito coronavírus, porém, devemos todos fazer uma "mea maxima" culpa. Nos primeiros dias, medidas restritivas como fechamento de escolas e universidades foram tomadas. Nos dias seguintes, isso se estendeu a bares, discotecas e locais turísticos, sempre com a recomendação de evitar aglomerações. As máscaras começaram a ser vistas mais frequentemente nas ruas. Como os números de casos continuavam a aumentar em escala exponencial, novas medidas ainda mais restritivas foram tomadas. O que antes era a zona vermelha limitada apenas a região de Lodi e Codogno, onde o primeiro caso foi confirmado, a aproximadamente 50km de Milão, se estendeu para toda a região norte da Itália e, hoje, todo o país encontra-se em quarentena. Todos tipos de negócios foram fechados, exceto supermercados e farmácias. Nos supermercados, a distância de pelo menos um metro deve ser respeitada entre as pessoas, o que faz a entrada ser limitada a poucas pessoas por vez, e filas gigantes são formadas do lado de fora. Para sair de casa, só com uma auto-declaração com o trajeto de casa ao trabalho, ou com seu animal de estimação. Polícia e exército patrulham as ruas fiscalizando dia e noite. Eu vou trabalhar diariamente com máscara e luvas, além de álcool em gel no bolso. As ruas estão desertas e a situação é muito triste, mas muito necessária. Para evitar falácias que subdimensionam o real quadro dessa pandemia na Itália e no mundo, explico o meu dia a dia num dos hospitais de referência do norte da Itália: pacientes com sintomas graves são trazidos de ambulância, já em total isolamento, e leitos de terapia intensiva são reservados. A todo momento chegam novos infectados, maioria de idosos, mas também pacientes jovens. A média de idade de pacientes internados no CTI positivos é 55 anos. A maioria respira com ajuda de aparelho, pois a doença pode cursar com insuficiência respiratória grave. Nós médicos, além dos enfermeiros, usamos sempre os equipamentos de proteção individual necessários. Independentemente se o paciente é positivo ou não, todos são examinados em completo isolamento. Conheço 4 anestesistas que infelizmente estão em quarentena positivos ao vírus, além de colegas da enfermagem. É um momento muito angustiante para um profissional da saúde, cuja profissão tem como um dos pilares uma relação médico-paciente baseada na empatia e cumplicidade. Apesar disso, felizmente, a maioria dos pacientes infectados são assintomáticos ou sintomáticos leves. De toda forma, nenhum sistema de saúde do mundo é capaz de absorver todos pacientes que precisarão de terapia intensiva. Devemos sempre valorizar e agradecer o trabalho dos enfermeiros, médicos e as pessoas da limpeza, que estão na linha de frente dessa batalha. Como o chefe das unidades de terapia intensiva afirmou: "o trabalho dessas pessoas se compara aos dos bombeiros nos escombros do 11 de setembro". É importantíssimo que conselhos de medicina se reúnam com os conselhos de enfermagem para juntos criarem políticas de combate ao coronavírus. A enfermagem apresenta o principal grupo de risco para infecção. Não podemos subestimar essa pandemia nem acreditar em falácias de que se trata apenas de uma gripe. O número de novos casos aumenta de forma muito rápida, é impressionante o poder de contágio desse vírus. É uma situação muito grave e respeitar as medidas restritivas é fundamental! Evitar aglomerações, lavar sempre as mãos e permanecer em casa! Nao sejamos egoístas! 

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