Estado de Minas EDUCAÇÃO

A escolha de Sofia: conversamos com a jovem mineira que vai para Harvard

Apesar de muito jovem, a estudante já tem uma trajetória exemplar e influenciou o próprio pai a voltar aos estudos


postado em 14/07/2022 09:07 / atualizado em 14/07/2022 21:44

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Daqui a um mês, a jovem Sofia Santos de Oliveira, de 18 anos, vai se mudar para os Estados Unidos para estudar na consagrada Universidade de Harvard. A belo-horizontina foi aprovada, ainda, em duas outras instituições americanas. As aprovações são um grande feito, por isso viraram notícia. Entretanto, o que muitas pessoas não sabem é que essas conquistas de Sofia provocaram mudanças importantes em sua família. Um exemplo disso é que, inspirado pelo exemplo da filha, seu pai voltou a estudar.

Faltando pouco para iniciar a nova trajetória, Encontro conversou com a brilhante estudante mineira. Confira:

De onde surgiu o seu interesse pelos estudos?

Foi bem cedo. Eu comecei meus estudos no Sesi, tinha uma bolsa de estudos porque nessa época meu pai trabalhava em uma indústria cirúrgica, por isso, eu tinha esse desconto. Depois de um tempo ele foi demitido e eu perdi essa bolsa. Mas eu sempre gostei muito de estudar. Eu amava ler, estava sempre procurando por coisas novas para aprender. Foi um baque ter que sair da escola particular. Acabei me mudando para uma escola pública no sexto ano. Eu não quis me conformar muito com a situação e continuei buscando oportunidades. Então, eu participava muito de olimpíadas, gostava de estar ali nas assembleias escolares e também comecei a estudar inglês sozinha, já que não podia pagar por um curso.

E como surgiu a oportunidade de estudar fora do país?

Quando eu estava no nono ano, conheci um programa chamado Smart que é um instituto que oferece bolsas para jovens talentos de baixa renda em escolas de excelência tanto em BH, São Paulo e no Rio, cobrindo os custos. Por isso, comecei a estudar no Colégio Santo Antônio. Nessa escola eu pude, enfim, ampliar meu espectro, conhecer coisas novas, continuar estudando e , assim descobri o sonho de estudar fora do país. Desde o ensino fundamental eu já conhecia essa possibilidade de sair do país. Eu lia muito, via muitos filmes. Quando entrei no Smart, vi que bolsistas de anos anteriores já tinham conseguido esse feito também. Desde o começo eu coloquei na cabeça que era aquilo que eu ia fazer. Comecei desde o primeiro ano a me preparar.

Como você ficou sabendo desse projeto?

O instituto foi divulgado em um projeto que uma amiga minha participava. Depois, eles vieram ao meu colégio para falar um pouco sobre o trabalho e eu achei interessante.

Como é o processo seletivo para estudar nos Estados Unidos?

O processo é bem diferente dos vestibulares do Brasil. Tem que fazer prova, mas não é só isso. Também tem que fazer também redação, enviar carta de recomendação e currículo. É um processo bem mais holístico, amplo e exige dedicação ao longo de todos os anos. O ENEM era o meu plano B.

Quais são as suas áreas de interesse?

Penso, no momento, em estudar química e ciências sociais. São duas áreas que eu gosto muito, mas lá é um pouco diferente. Só definimos o nosso curso no final do segundo ano. Além disso, também podemos fazer dois cursos bem diferentes daqui. Ao longo do ensino médio fui vendo que gostava muito da química. É uma matéria que desperta a minha curiosidade intelectual, mas eu também vejo que ela pode ser muito usada positivamente para avançar nas questões ambiental e de saúde humana. Dentro das ciências sociais eu gosto bastante da área de educação. Isso vem muito das minhas próprias vivências. Sair de uma escola particular para uma escola pública, depois para outra escola particular. Vejo o quanto isso me transformou e o quanto que eu tive uma oportunidade única. Que muitas outras pessoas não tiveram essa possibilidade. Além disso, a educação não mudou só a minha vida, mas a vida das pessoas ao meu redor. Por exemplo, meu pai não terminou o ensino médio, porque precisou sair da escola para trabalhar para ajudar a família. Quase 30 anos depois, quando eu já estava no ensino médio, ele começou a ver o impacto que eu estava tendo na minha vida e ele decidiu voltar a estudar e ainda fez um curso técnico depois.

Como os seus pais estão lidando com o fato de que você vai estudar fora do país?

Acho que é um misto de felicidade e de tristeza. Mas, desde o começo eu já falava que era o que eu queria. Então, acho que eles já esperavam que eu fosse conseguir. Mas eles sempre me apoiaram desde o começo. Eles não não entendem muito, né? Ambos não fizeram faculdade, então não sabem como funciona. Mas veem que era o que eu queria, que pesquisei e batalhei muito. É um pouco difícil porque eu sou filha única. Mas acho que eles estão muito felizes, orgulhosos e satisfeitos com os resultados.

Explica um pouco como vai ser o seu curso em Harvard

É um pouco difícil de explicar. O aluno escolhe as aulas que quer assistir. Pode explorar o que quiser, mas tem que cumprir alguns requerimentos. Não é um ciclo básico, é você quem escolhe.

Você vai ficar nos Estados Unidos até se formar, ou acredita que conseguirá vir para o Brasil de vez em quando?

Vou morar na faculdade. Então, minha bolsa cobre isso. Posso fazer um estágio em algum lugar, fazer um um programa de estudos para  fora. Acho que posso ir para outro continente. Tem várias coisas que ainda quero explorar, mas pretendo sim voltar às vezes. Lá terei muitas oportunidades únicas. Então, por exemplo, nas férias os alunos podem ir para a Índia fazer estágio, acho que em nenhum outro momento da minha vida eu terei uma oportunidade assim. Quero, com certeza, aproveitar tudo que tudo que aparecer.

Qual a sua mensagem para as crianças e adolescentes do Brasil?

Acho que uma coisa muito importante é realmente não deixar de sonhar. Hoje em dia a gente vê tantas coisas ruins acontecendo que às vezes fica até com medo de sonhar. Isso não pode acontecer. Mesmo um sonho sendo muito grande, como era o meu,  ele não é inalcançável. Temos que pensar que podemos ser os primeiros a realizar. Também diria para tentar agarrar todas as oportunidades da vida. Infelizmente, não é sempre que vai aparecer uma oportunidade como Smart, mas não podemos perder as esperanças. Se aparecer, temos que batalhar por essas oportunidades e agarrar com todas as forças. Acho que é muito importante, não é só com ele que eu consegui, mas acho que tem que se esforçar e buscar apoio de outras pessoas que possam te ajudar. Não tenha medo de pedir ajuda. Seja para professores, para diretores, para a escola e pedir bolsa. Temos que ter esse protagonismo mesmo para o nosso futuro. Também é importante ter objetivos claros.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação