
Com curadoria de Fabiana Lopes, “Finca-Pé” propõe uma travessia poética por temas como memória, espiritualidade e ancestralidade, a partir de uma reflexão sensível sobre a terra e o pertencimento. “A terra pode ser o chão, pode ser Cerrado, pode ser planeta, pode ser um jardim imaginário ou um jardim interior do indivíduo. A experiência de caminhar pela exposição é a de transitar por essa multiplicidade”, ilustra a curadora.
O título da exposição remete ao gesto de fincar os pés no chão como atitude de resistência e existência. “Acredito que as obras que faço, não raro, refletem um pouco sobre esse estar no mundo e senti-lo. Não só vê-lo, mas cheirá-lo, tocá-lo, escutá-lo, e cada um desses sentidos atua como catalisador do que pode ser potencialmente estético, dentro de uma pesquisa”, comenta o artista.
O conjunto de obras inclui desenhos, pinturas, instalação, cadernos do artista e o filme-performance Encantado, que convida o público a refletir sobre símbolos e rituais, especialmente os ligados a práticas espirituais e religiosas. Obá se inspira na figura do peregrino, que caminha para cumprir uma promessa, transformando essa jornada em experiência visual e sensorial.
Um dos destaques do percurso expositivo é a instalação Ka’a pora (2024), composta por 24 esculturas de pés em bronze adornados com galhos. A obra evoca a relação íntima do artista com o Cerrado, paisagem que marca profundamente sua produção, e faz referência à força cíclica das árvores e ao renascimento da vegetação após o período de estiagem. “Essa obra se relaciona com a resistência, mas também com a forma como o Cerrado se renova após a estiagem, voltando ao verde com a primeira chuva. Isso, para mim, é uma imagem potente da existência”, explica Antonio Obá.
Na série Crianças de coral – nigredo/coivara (2024–2025), composta por 12 retratos em carvão sobre tela, as imagens são construídas camada a camada, em um gesto que o artista define como “esculpir com o carvão em pó”.
A mostra também apresenta conjuntos de desenhos em técnicas variadas, como grafite, giz de cera, extrato de noz, bico de pena e nanquim dourado. Já os cadernos do artista revelam esboços, anotações e registros do processo criativo. “Enquanto estou pintando, fico pensando com a pintura, nas informações que vão sendo formadas ali, no que a imagem diz além do que se vê, quais são os intertextos que ela vai tecer. Então, se principia uma obra, mantém-se a pesquisa de imagens, referências correlacionadas e algo de criativo e inesperado se dá à consciência, mas que só vem através da labuta, da mão na massa”, comenta Obá.
A exposição conta ainda com a participação do artista mineiro Marcos Siqueira, nascido e residente na Serra do Cipó. Suas pinturas, feitas com pigmentos naturais sobre madeira, utilizam matéria extraída diretamente do solo da região, que se transforma em cor e suporte. Suas obras evocam cenas da infância, do cotidiano rural e da ancestralidade, estabelecendo um diálogo com os temas centrais da mostra. Dessa forma, a presença de Siqueira amplia a dimensão poética do projeto, em que a terra é tanto matéria quanto memória.
Serviço:
Exposição: “Finca-Pé: Estórias da terra”, de Antonio Obá
Visitação: de 25 de junho a 1° de setembro de 2025
Local: Galerias do Térreo - Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários, Belo Horizonte – MG).
Funcionamento: quarta a segunda, das 10h às 22h (fecha às terças)
Entrada gratuita mediante retirada de ingresso pelo site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH